Procuradores terão que optar entre as maçãs e a vovozinha
O namoro escancarado entre o Procurador Geral da República, Augusto Aras, e o presidente Bolsonaro escandaliza o Ministério Público. E com razão. Mas a sugestão feita por procuradores para que a lista tríplice passe a ser um requisito constitucional, é carregada de riscos. Mudar a regra do jogo via emenda à Constituição é o caminho correto, mas abre uma janela para que parlamentares comecem a podar a autonomia da instituição.
Se podem emendar a Carta para tornar obrigatória a escolha do Procurador da República entre os votados pelos membros da MP, por que não avançar sobre a independência funcional, a irredutibilidade de vencimentos, a inamovibilidade e outras matérias de interesse de procuradores e promotores?
Nunca é demais lembrar que o Congresso é um ambiente hostil. Os lobos podem ficar interessadíssimos em comprar a idéia, “vendida” pelos procuradores, de assegurar espaço constitucional à vovozinha da PGR.
Podem achar que é a hora do revide. E ficarem a espreita, aguardando a oportunidade de comer as maçãs (direitos conferidos a promotores e procuradores) que os chapeuzinhos vermelhos carregam em suas cestas.
É um risco que os procuradores correm em momentos turbulentos, nos quais prevalecem interesses nem sempre republicanos.
Como na história infantil, talvez seja melhor deixar a vovozinha a mercê do único lobo que apareceu até agora e garantir as maçãs.