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Barack Obama e Joe Biden em dezembro de 2016.
© EPA/MICHAEL REYNOLDS

Obama e Biden falam. É hora de enfrentar a "ferida aberta" do racismo

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Ex-presidente e provável candidato às eleições mostram indignação pela onda de violência policial contra negros desarmados.

O ex-presidente Barack Obama partilha a "angústia" de milhões de norte-americanos pela morte de um negro morto pela polícia no Minnesota e disse que o racismo não pode ser "normal" nos Estados Unidos. Por sua vez, o seu vice e potencial candidato democrata às eleições de novembro, afirmou que é altura de curar a "ferida aberta" do racismo sistémico nos Estados Unidos.

"Isto não deve ser 'normal' em 2020 na América", disse Obama numa declaração sobre a morte do homem de Minneapolis, George Floyd, bem como vários outros incidentes raciais recentes no país.

"Se quisermos que os nossos filhos cresçam numa nação que esteja à altura dos seus ideais mais elevados, podemos e devemos fazer melhor", escreveu.

A morte de Floyd na segunda-feira provocou três noites de tumultos em Minneapolis e protestos contra a brutalidade policial noutras cidades norte-americanas. Floyd, de 46 anos, morreu sufocado no chão, com um agente da polícia ajoelhado no seu pescoço durante mais de cinco minutos. Estava algemado e sem armas.

Derek Chauvin, que fora demitido da polícia juntamente com outros três colegas, foi detido e vai ser acusado de homicídio involuntário.

Na sua declaração, Obama referiu-se à morte de Floyd, mas também a dois outros incidentes raciais recentes de grande visibilidade nos EUA. Um deles envolveu um negro morto a tiro enquanto treinava, por dois brancos. na Geórgia. E outro caso, com consequências bem menos graves mas igualmente exemplificativo das divisões sociais do país, no qual um homem negro teve uma discussão com uma mulher branca: enquanto observava pássaros num parque em Nova Iorque, pediu à dona de um cão para respeitar as normas do local e colocar a trela no animal, ao que a mulher sugeriu ligar para a polícia e dizer que "um afro-americano" a estaria a ameaçar.

"É natural desejar que a vida 'volte à normalidade', pois uma pandemia e uma crise económica acabam com tudo o que nos rodeia", disse Obama. "Mas temos de nos lembrar que, para milhões de americanos, ser tratados de forma diferente por causa da raça é trágica, dolorosa, enlouquecedoramente 'normal' - quer se trate de lidar com o sistema de saúde, quer de interagir com o sistema de justiça penal, quer de correr na rua, quer apenas observar pássaros num parque".

Obama destacou ainda que os americanos precisam de "trabalhar em conjunto para criar um 'novo normal' em que o legado do fanatismo e da desigualdade de tratamento já não infecte" as instituições nem os corações.

Pecado original dos EUA

Ao apelar para que seja feita justiça a George Floyd, Joe Biden declarou que é a "própria alma da América que está em jogo". Numa transmissão online a partir da sua casa em Delaware, o provável candidato presidencial pelo campo democrata denunciou aquilo a que chamou um "ato de brutalidade" contra Floyd.

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"Com a nossa indiferença e silêncio, somos cúmplices na perpetuação destes ciclos de violência", disse Joe Biden.
© Dominick Reuter / AFP

"Precisamos de justiça para George Floyd", disse o ex-vice-presidente de 77 anos, que informou ter estado à conversa com familiares de Floyd.

"O pecado original deste país ainda hoje mancha a nossa nação", disse numa referência à escravatura. "Por vezes conseguimos esquecê-lo. Mas está sempre lá. Somos um país com uma ferida aberta", disse Biden.

Farpas a Trump

O democrata não deixou de lançar algumas críticas ao provável adversário eleitoral de novembro, embora não o tenha mencionado.

"Não é altura para tuites incendiários. Não é altura de encorajar a violência", disse Biden sobre a ameaça de Trump aos hipotéticos saqueadores através do Twitter.

"Esta é uma crise nacional e precisamos de uma verdadeira liderança neste momento", disse, "uma liderança que traga todos à mesa para que possamos tomar medidas para erradicar o racismo sistémico". Concluiu: "Com a nossa indiferença, o nosso silêncio, somos cúmplices na perpetuação destes ciclos de violência."