Compras ‘online’ registam crescimento explosivo
by Dinheiro VivoPandemia de covid-19 acelerou os negócios no mundo virtual e abriu as portas do online para muitas empresas que ainda estavam a ponderar esta solução. O Barómetro CTT prevê um crescimento de 50% no e-commerce até ao final deste ano
João Bento, CEO dos CTT, abriu a primeira sessão realizada online do ciclo de conferências destinadas a debater o e-commerce, dedicada ao tema “Covid 19 – Impacto no e-commerce” e que decorreu durante a manhã desta sexta-feira, dia 29 de maio, destacando a importância crescente que o tema assumiu no atual contexto de pandemia. Segundo este responsável, o e-commerce apresenta-se como uma importante alavanca de crescimento não só para a empresa mas sobretudo para os seus clientes, assumindo-se assim como parceira dos retalhistas e das plataformas de retalho online. “Mantemos a nossa liderança no mercado das entregas de encomendas geradas no e-commerce e no ano passado crescemos 25% acima do mercado. Para este ano esperamos manter esse crescimento”, revela.
Quanto ao desenvolvimento deste tipo de comércio, e segundo o barómetro realizado pelos CTT, e apresentado por Alberto Pimenta, head of e-commerce, este incremento foi explosivo a partir da primeira quinzena de março já que se assistiu ao crescimento acelerado das vendas à distância. “Os clientes inquiridos apontam para crescimentos dos seus negócios online entre 60 a 80%. Isto leva-nos a estimar um incremento de 50% no segmento do e-commerce para o final de 2020”, revela Alberto Pimenta. Portugal é ainda um mercado com baixa digitalização e o e-commerce representa apenas 3 a 4% no total das compras, pelo que o seu potencial de crescimento é grande. Em 2017 este segmento cresceu 12,5%, em 2018 aumentou 17%, em 2019 superou os 20%, e, como previsto, no final do ano este será muito superior com a necessidade de maior contenção social e isolamento.
Alberto Pimenta revela ainda que se assistiu também, durante esta fase da pandemia e do confinamento, a uma alteração do perfil de compra dos produtos adquiridos online, assistindo-se a uma queda de segmentos como a moda, vestuário e calçado, substituídos por uma grande procura de produtos ligados à saúde, à higiene, a materiais de segurança, material de escritório, material desportivo, alimentação animal e produtos tecnológicos. O terceiro ponto de destaque deste barómetro prende-se com o aumento do peso do mercado doméstico, em que as marcas nacionais ganharam relevância. Os participantes envolvidos no estudo acreditam que o mercado doméstico terá um peso de 20% no total das vendas. Também os marketplaces terão um papel cada vez mais preponderante neste segmento de negócio e, por último, o barómetro revela que as entregas em casa ganharam, claramente, relevância neste período.
E o futuro, qual será?
No painel referente ao futuro do e-commerce foram cinco os especialistas que apresentaram as estratégias das suas empresas para fazer face à situação de confinamento forçada pela pandemia: Francisco Dias (Decathlon), Patrícia Santos (Delta), Paulo Pinto (La Redoute), Alexandre Santos (PcComponentes) e Joana Pina Pereira (Worten).
Francisco Dias, head of e-commerce da Decathlon mostrou que a empresa já se estava a preparar para uma mudança de mentalidade, mais digital, desde 2019, num horizonte temporal a 10 anos. “Preparamo-nos para esta pandemia com antecedência e para isso fizemos novas parcerias, como a da Auchan, e procuramos novas formas de vendas, oferecemos uma plataforma de desporto, com tudo o que envolve o desporto, procurámos ter artigos mais baratos, vendas à porta, sem ter de sair do carro”, explica Francisco Dias.
Também Patrícia Santos, head of e-commerce da Delta, concorda que é um contexto diferente que exige novos desafios e implicou a alteração de hábitos de compra, nomeadamente nas marcas nacionais, que registaram maior procura. A Delta disponibilizou online não só a sua gama de cafés mas alargou a todos os produtos do grupo, como vinhos, cervejas e chás. “Sentimos um aumento da procura, que atingiu um crescimento de 630% nas encomendas diárias. Foi o nosso melhor mês de abril neste canal”, revela.
Já Paulo Pinto, CEO da La Redoute, explica que a empresa já estava a atravessar a transformação digital desde 2008, pelo que estava preparada para este cenário. A La Redoute fez alguns ajustes para fazer face a este período de pandemia, como a entrega em domicílio de todas as encomendas, mas todo o processo foi alterado rapidamente.
A PC Components registou crescimentos de 225% nos pedidos online, em Portugal, e um crescimento de 100% da faturação nesta fase de confinamento, tendo atualmente uma taxa de 17 pedidos por minuto. Alexandre Santos, country manager, explicou que a empresa já fez uma revisão em alta do primeiro semestre, estimando um crescimento a três dígitos, e antecipou o seu plano de expansão.
Por último, Joana Pina Pereira, da Worten, revela que já sentiam um aumento da procura por este canal há algum tempo e esta fase de pandemia representou um grande esforço de toda a equipa envolvida. Foi uma resposta muito rápida, que envolveu uma grande capacidade de adaptação, nomeadamente ao nível da comunicação.
Salvar os pequenos negócios
No segundo painel da manhã, subordinado ao tema “Como pode o e-commerce salvar os pequenos negócios”, a assistência pôde ouvir relatos da experiência da Dott, da Fnac, da OLX, da Espaço Casa e da CIM Coimbra (Comunidade Intermunicipal de Coimbra). Gaspar D’Orey, CEO da Dott, marketplace impulsionado pela CTT e pela Sonae, refere que a missão da plataforma se tornou mais relevante com a covid-19, pois foi possível incluir pequenos produtores, como os do queijo da serra, em projetos digitais na Feira do Queijo e do Vinho DOP. “Este é um projeto bem-sucedido, tem já 900 vendedores e 2,5 milhões de produtos. É um negócio português para portugueses, e quisemos com ele trazer pequenos empresários para o online”, refere este responsável.
Jorge Brito, da CIM, explica como a parceria com a Dott foi importante para os produtores da região terem soluções para escoar os seus produtos nesta fase de confinamento, como foi o caso do queijo da serra e dos vinhos da região. Carla Oliveira, marketplace manager da Fnac Portugal, revela como esta multinacional foi pioneira em Portugal na criação de um marketplace, em 2013, que representa um excelente palco para as empresas portuguesas, com 60 milhões de visitas, sem que estas tenham de fazer investimento.
Já Sebastiaan Lehmmans, head da OLX Portugal, afirma que a pandemia trouxe números que a empresa nunca antes alcançara mas avisa que o consumidor português não tem confiança nas compras online, situação que é necessário reverter. Por último, neste painel, Andreia Grave, diretora de marketing da Espaço Casa, mostrou como a rede, que tem 53 lojas físicas em Portugal e 27 em Espanha, está a fazer com sucesso a sua transição para o e-commerce.
A sessão foi encerrada por João Sousa, administrador dos CTT, que remata dizendo que os empresários nacionais respondem bem a todos os desafios e que as PME estão a ver no e-commerce uma solução para os seus negócios, pois nada voltará a ser como antes.