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Ministério da Saúde vai oferecer aos médicos do País a possibilidade de utilizarem a cloroquina como opção de tratamentoFoto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

Especialistas questionam estudo que invalidou uso de cloroquina contra Covid-19

Eles questionam a transparência das informações na revista "The Lancet", pois os nomes dos 96 mil pacientes e dos hospitais onde eles foram tratados não foram revelados

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Após afirmar, em artigo médico-científico, que o uso da hidroxicloroquina não é eficaz e pode causar riscos cardíacos para pacientes, a revista médica "The Lancet" - em circulação desde 1823 - foi questionada publicamente pela metodologia e pelo viés nos resultados da pesquisa.

Em carta aberta ao público, 120 cientistas, médicos, pesquisadores e estatísticos de várias partes do mundo, e de várias instituições médicas de renome, como Harvard Medical School, Imperial College London, Universidade Médica da Pensilvânia, Universidade Duke, entre outras, afirmaram que não há como revisar os dados utilizados, já que os nomes dos pacientes e os hospitais onde foram registrados os números não estão disponíveis para consulta.

Os especialistas apontaram, ainda, uma falta de “revisão ética” na publicação.“É por interesse na transparência (das informações) que solicitamos que a "The Lancet" torne aberta a pesquisa aos comentários dos pares que fizeram a revisão desse estudo”, afirma o documento.

Em uma rede social, o professor de infectologia da Universidade australiana de Monash Allen Cheng - que assina a carta aberta à revista - afirma que, apesar de haver óbitos de cidadãos australianos medicados com cloroquina no estudo, os números não batem com a realidade documentada pelo país, o que levanta suspeita sobre a base de dados utilizada para validar o levantamento.

O artigo publicado pelo jornal médico, envolvendo resultados de 96 mil pacientes, levou a OMS a suspender as pesquisas com a hidroxicloroquina como possível medicamento contra a Covid-19.

Críticas ao estudo

Entre os argumentos citados na carta, a forma como os dados foram obtidos foi a maior razão de críticas dos autores. O instituto responsável pela filtragem das informações dos pacientes é a empresa Surgisphere - uma companhia de mineração de dados médicos que não revela as fontes de onde as informações são colhidas.

Os autores, que endereçaram o documento ao editor-chefe da revista, o médico britânico Richard Horton, pediram ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) valide de forma independente os estudos sobre a cloroquina, a hidroxicloroquina e os protocolos antirretrovirais ainda em estudo em diversas partes do mundo.

O levantamento

Segundo o estudo publicado pela "The Lancet", quatro cardiologistas avaliaram dados de 671 hospitais distribuídos por diversos continentes. Cerca de 96 mil pessoas fizeram parte do levantamento, sendo que 15% - 14.888 pacientes - foram medicados com quatro combinações diferentes de medicamentos.