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Pedro Penalva (Foto cedida pelo próprio)

Sobrevivência das empresas vai depender da capacidade de gestão do risco

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O mundo enfrenta hoje um inimigo silencioso, mas fatal. Fatal para os cidadãos, para as empresas, para a sustentabilidade e competitividade da economia e do próprio Estado. O surto do novo coronavírus vai muito além do espectro da saúde pública, sociedade e política nacional e internacional. Esta nova pandemia é um grave bloqueador do progresso, da inovação e da sobrevivência das empresas.

O cenário atual tem gerado apreensão e preocupação e demonstrou que muitas empresas, em Portugal e no resto do mundo, não estão totalmente capacitadas para responder aos riscos que uma pandemia pode trazer ao seu negócio. É por isso, e por tantos outros fatores mais ou menos complexos e fundamentados na dinâmica e capacidade de resiliência das organizações, que os dados económicos e sociais que se têm vindo a apurar revelam um cenário negro. Cidadãos e empresas vão ter de se adaptar a uma nova realidade, a uma velocidade nunca vista.

A nova pandemia revelou uma certa fragilidade global na preparação, planeamento e mitigação do risco. Mas o risco sempre fez parte das variáveis críticas de sustentabilidade das organizações. Muito antes do período pandémico, já vivíamos um período extremamente incerto, marcado por constantes mutações tecnológicas e por uma volatilidade económica, social, política e ambiental sem precedentes. Nunca antes, aliás, vivemos num contexto marcado por tantas tipologias de risco que colocam diariamente as empresas à prova: de disputas políticas e comerciais a ações regulatórias agressivas, passando por desastres naturais devastadores e ataques cibernéticos de grande alcance, o risco é real e compreendê-lo é essencial para uma abordagem holística capaz de adequar e aprimorar estratégias empresariais e assim transportar as organizações para outro patamar de crescimento.

Os dados que apurámos ao longo dos anos indicam que muitas empresas, à escala nacional e global, demonstram estar ainda pouco preparadas na sua capacidade de resposta aos riscos, apesar de estarem cientes do impacto que estes podem trazer aos seus negócios. Os riscos pandémicos e de saúde pública, note-se, surgiram apenas no 60º lugar dos principais riscos identificados pelos gestores em todo o mundo num estudo bianual que a Aon desenvolve, dado que ajuda a explicar o extraordinário impacto que a Covid-19 hoje representa globalmente para a capacidade de resiliência e sustentabilidade das organizações.

Na economia global em que hoje vivemos, mais competitiva, mais volátil e incerta, entender o nível de exposição das organizações a um risco de dimensão ainda difícil de calcular ajuda certamente à criação de condições que salvaguardem a competitividade das empresas, do Estado e dos cidadãos em eventos futuros. Antecipação e mitigação são, por isso, fundamentais na situação que hoje, infelizmente, enfrentamos. O que antes era uma estratégia testada e comprovada para a mitigação de riscos – usando o passado para prever o futuro – é agora um desafio face à imprevisibilidade e raridade com que novos riscos – como esta pandemia – surgem.

O processo de gestão de risco nesta altura é um fator de sobrevivência. As empresas que mais cedo o entenderem permanecerão para aproveitar as oportunidades que vão surgir. E elas certamente surgirão!

As medidas de apoio às empresas recentemente anunciadas pelo Governo aliviam, ainda que de forma ténue, a capacidade de resposta das empresas. As linhas de crédito são uma ferramenta essencial, mas é necessária uma aceleração sem precedentes no apoio à liquidez das empresas. Estas correm contra o tempo e eventuais atrasos burocráticos e administrativos podem fazer com que o dinheiro chegue tarde demais às empresas, com impactos desastrosos no que diz respeito à sua tesouraria, à interrupção das suas atividades e a eventuais falhas nas cadeias de abastecimento.

Para navegar numa crise como esta é preciso agilidade, resiliência e capacidade de liderança. Agilidade, por exemplo, na implementação do teletrabalho, nas tomadas de decisão ou na alteração do processo produtivo. Resiliência financeira e na adaptação a um novo modelo de negócio capaz de prever e responder eficazmente a eventos imprevisíveis. E capacidade de liderança para tranquilizar colaboradores, clientes e parceiros de negócio e para colocar foco estratégico na sustentabilidade da organização a longo prazo.

A imprevisibilidade e a mudança sempre foram obstáculos ao investimento e ao progresso. Ainda assim, apesar do cenário pouco animador, a crise pandémica será um virar de página para cidadãos e empresas globais. A velocidade de adaptação a um novo normal será crítica para a sua sustentabilidade e competitividade e a inovação e disrupção tecnológicas assumirão um papel profundamente essencial nesta matéria.

O comportamento das empresas em Portugal tem demonstrado, como já o havia demonstrado em vários momentos da História, uma capacidade de resiliência extraordinária. Mas importa perceber, também, que nada será como dantes. O mundo mudou e os negócios estão a mudar com ele. E é igualmente verdade que o período pós-pandemia trará novos negócios e modelos de negócio, novos produtos e serviços digitais, mais inovação e disrupção. Esperemos que traga, também, uma nova forma de encarar a gestão do risco como fonte de vantagem competitiva para as organizações.

Pedro Penalva, CEO da Aon Portugal