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O que é isso do biquíni-body?

Gabriela Pedrada nega-se a acreditar que só raparigas magras usam biquíni. Ouviu os desejos de dezenas de pessoas com corpos diferentes e lançou uma coleção que vai do XS ao XXL.

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Viver sempre no mesmo corpo levanta uma questão: afinal, como é viver no corpo dos outros? Gabriela Pedrada tem 21 anos e há já três que vende biquínis. Começou por revendê-los, aos 19, e rapidamente percebeu que estas peças furam as expectativas de muita gente: não ficam bem a todos e raramente existem tamanhos além do L.

Foi por isso que lançou, no início de maio, a sua linha de biquínis com tamanhos do XS ao XXL, fabricados em Portugal, e com os cortes que mais deixam confortáveis os diferentes corpos. A marca chama-se Manga Rosa e vende online.

Não é só uma questão de replicar em tamanhos grandes aquilo que já se faz em tamanhos "padrão". As alças fininhas dos biquínis feitos para "corpos de revista", como lhes chama Gabriela, são confortáveis para uma mulher com o peito grande?

"Havia modelos [de biquíni] que no início não tinha pensado fazer, mas que percebi mais tarde serem essenciais. Por exemplo o sutiã que é uma faixa larga [modelo Kefi] é o mais confortável para pessoas com o peito maior, além de suportarem também algumas gordurinhas nas costas", conta Gabriela.

À reunião das opiniões de amigas e clientes sobre que biquíni assentava bem a cada uma, somou-se o visionamento de dezenas de vídeos no YouTube em que raparigas experimentam e criticam biquínis.

Gabriela Pedrada construiu assim uma coleção de três biquínis e um fato de banho, de cores básicas e cortes simples - uma simplicidade que faltava no mercado, por ir ao encontro daquilo que as suas clientes achavam que as favorecia.

Sem formação em design de moda, o arranque foi difícil. Em outubro começou a reunir contactos de fornecedores de licra e fábricas, e quando a lista tinha 30 nomes percebeu que não podia adiar mais.

"Um dia, estava no carro e lembro-me de pensar ‘é agora’. Liguei para todas, nem uma trabalhava com licra, é uma área muito específica", recorda a jovem empresária da Costa de Caparica.

Em dezembro chegava a boa novidade: tinha acabado de abrir uma fábrica que só costurava com este material, na Figueira da Foz. Fez duas horas de viagem para uma reunião de 20 minutos e menos de dois meses depois tinha os protótipos nas mãos.

"Foi muito difícil conseguir fazer isto em Portugal, mas não queria abdicar disso. Para o próximo lançamento (se esta coleção correr bem, será em julho) quero continuar a fazê-los em Portugal e, nessa altura, com licra reciclada, feita em 80% com plástico encontrado no mar", explica.

As viagens à fábrica e o processo da primeira coleção própria da Manga Rosa foram acompanhados de vídeos ao jeito de vlogues no Instagram. "Gosto que as minhas clientes saibam coisas de mim, conheçam o processo para perceberem o que está por trás da marca", diz Gabriela, acrescentando que, talvez por isso, não tenha sido difícil convencer amigas e conhecidas a deixarem-se fotografar para as imagens da marca nas redes.

"Dei-lhes a segurança de poderem experimentar os biquínis primeiro e poderem dizer-me que não queriam. Mas fiz questão de fotografar pessoas mais gordinhas. Se não virmos ninguém com um biquíni vestido não podemos ter noção de como nos vai ficar", diz, acrescentando que, assim que a pandemia permitir, vai abrir um pequeno showroom na Costa de Caparica.

Poucos dias depois do lançamento, Gabriela Pedrada vive num corropio, entre exames na faculdade nas duas licenciaturas que frequenta - Gestão e Enfermagem - e a vida de microempresária. Anda a embalar e despachar encomendas e há já algumas peças quase esgotadas - todas em lilás, a cor bestseller.

O receio de que os tamanhos maiores não vendessem não se confirmou. Afinal, todos os corpos são biquíni-bodies.