Gilbert Durinho aposta no jiu-jítsu contra Woodley: "Ele não gosta de dar giro na luta, fica cansado logo"

Brasileiro, que faz neste sábado seu primeiro evento principal no UFC contra o ex-campeão da categoria, diz, no entanto, que pode nocautear: "Se a mão entrar, não tem jeito. Ele vai sentar"

Prestes a fazer a sua primeira luta principal no UFC, o peso-meio-médio Gilbert Durinho sabe que terá pela frente o maior desafio de toda a sua carreira: o ex-campeão da categoria Tyron Woodley. E, para superá-lo, acredita que o caminho seja o jiu-jítsu. Em entrevista exclusiva ao Combate.com, o faixa-preta deixou claro que pretende cansar Woodley no começo da luta, e se aproveitar da perda de gás do americano para se impôr e sair vencedor.

Gilbert Durinho fará sua primeira luta principal no UFC neste sábado, contra Tyron Woodley — Foto: Raphael Marinho

- Eu quero fazer jiu-jítsu com ele, porque por baixo ele cansa pra caramba. Ele não gosta de ficar por baixo e defende bem quedas, mas acho que se eu misturar bem, usar chute, boxe, colocar a mão rápido e tentar me mexer muito, eu vou conseguir a queda e incomodar ele. Meu jogo está melhorando tanto e eu estou me sentindo cada vez mais completo e tranquilo, que mesmo se a queda não entrar, ele vai ficar ligado nela e fica mais fácil de entrar a mão e entrar o chute. Quero misturar muito e colocar muito volume no primeiro e no segundo rounds. Ele lembra um pouco, não no estilo de luta, mas fisicamente, o Michel Trator, que é um cara baixo, mas forte e tem uma envergadura maior que a minha. É complicado, porque eu tenho que entrar, mas quando eu estou na minha distância, estou na dele também. Tenho que mudar o nível e misturar muito o chute, porque a minha envergadura de perna é maior. Vou acertar mesmo se eu não estiver na distância de mão, porque vou estar na de perna. Estava estudando as lutas dele, e ele atua poupando muito o gás. Ele faz alguma coisa e para, controla... Quero explorar muito isso, fazê-lo se cansar principalmente no primeiro e no segundo rounds. Acho que, no decorrer da luta, no terceiro ou quarto rounds eu vou conseguir a queda e me embolar com ele no chão e ganhar posições boas, talvez uma finalização. É como eu vejo a luta se desenrolando.

A aposta na queda física de Woodley após o segundo round é o trunfo que Durinho guarda para, na parte final da luta, aproveitar para, caso o jogo de chão não funcione, buscar a trocação e, mesmo sabendo que a base sólida do americano é um problema, tentar o nocaute.

- Ele não gosta de dar giro na luta. Ele faz um pouco e para logo. Quero fazer ele dar esse giro, mesmo que eu sofra um pouco, ele faça um sprawl e eu tenha que embolar em uma perna ali, porque sei que essa gastada de energia ele não vai recuperar, e daí pra frente, no terceiro ou no quarto round, a mão dele já não tem mais aquela pegada monstruosa do primeiro round. O objetivo é fazer jiu-jítsu, mas acho que dá pra nocautear. Ele tem a base muito forte. Às vezes não é nem o queixo, mas um cara que tem a base e o tronco fortes consegue, mesmo tonto, se manter em pé. Mas não duvido que a minha mão entre. Quero finalizar, porque o Woodley nunca foi finalizado, mas se a mão entrar ali, não tem cara que aguente, não. A mão vai entrar e ele vai sentar.

Companheiro de treinos do atual campeão, o nigeriano Kamaru Usman, Durinho pegou dicas com ele sobre o caminho para derrotar Tyron Woodley. Usman conquistou o seu cinturão justamente contra Woodley em 2019.

Kamaru Usman conquistou o cinturão dos pesos-meio-médios contra Tyron Woodley no UFC 235 — Foto: Getty Images

- Peguei muitas dicas com o Kamaru. Ele falou que o Woodley tem um tempo de luta, fica te esperando e te mastigando. Ele disse para eu não deixá-lo me mastigar, porque ele começa muito forte, mas depois cai muito. Dá pra sentir a diferença. No começo ele é forte demais, mas no fim do primeiro round já não está tão forte. Na volta para o segundo round está forte de novo, mas essa é a última força que ele mostra. Depois ele cai muito, chega a impressionar. Esse é o jogo, colocar muita pressão nele, embolar bastante. Esse é o caminho da vitória.

A preparação para a luta durante o período de confinamento por conta da pandemia do coronavírus também foi um problema que Gilbert Durinho teve de superar. O brasileiro disse que, ao contrário da maioria dos atletas, conseguiu treinar satisfatoriamente para a luta, mas sentiu falta de dois parceiros que simulam os estilos de todos os seus adversários.

- A preparação não foi normal. No começo eu não tinha a maioria dos treinos. Na verdade, deu pra fazer um treino muito bom, 80% ou 90% do normal, porque a academia tem 40 ou 50 atletas de todos os pesos, mas eu não treino com todo mundo. Na verdade, eu senti falta de dois caras, o Andy Louser, que mora na Suíça mas é do Congo. Ele teve que voltar, porque senão ia ficar preso aqui. E outro que me ajuda muito é o Shamil Mikaev, um russo que copia o estilo de todo mundo igualzinho. Os dois são máquinas de copiar lutador. Quando fui lutar com o Gunnar Nelson e com o Demian Maia eles imitaram os estilos idênticos dos dois. O que mais eu senti foi não ter esses dois caras. Mas a preparação física eu fiz desde o começo. Estava com a chave da academia e tinha escrito tudo o que eu tinha que fazer escrito, e eu fazia. Nos treinos de luta a gente juntava toda a galera que eu precisava, e a gente treinava. Depois do evento aqui na Flórida foi melhor, porque todo mundo foi testado. O Michael Johnson, o Vicente Luque, o Omar Morales e o Irwin Rivera lutaram, e os treinadores que estavam lá também foram testados, e deu um alívio, porque se alguém tivesse alguma coisa, teria sido alertado naquele teste sinistro que coloca um cotonete no nariz (risos). E tem o teste dos anticorpos, que diz se você já teve a doença. E ninguém teve. As pessoas já estão começando a treinar - em Miami já está mais ou menos normal e estamos tranquilos, porque está todo mundo limpo. Mas não estava assim desde o começo, e fiz grupinhos pra ir treinando.

Gilbert Durinho nocauteou Demian Maia no UFC Brasília — Foto: Getty Images

Presente no UFC Brasília - primeiro evento da história do UFC a não contar com público -, quando nocauteou Demian Maia no primeiro round, Durinho revelou que o silêncio antes e durante a caminhada para o octógono o deixaram ainda mais nervoso que o habitual.

- Foi bem esquisito. Em Brasília foi o maior nervoso que eu senti, e foi em uma das lutas mais importantes até agora. Quando eu saí do vestiário, o caminho era bem longo, e estava um silêncio estranho. Eu estava indo pra luta, parei na cortina antes de entrar, e o cara me disse que eu entraria em dois minutos. Aqueles dois minutos demoraram duas horas (risos). Mas quando começa você entra na luta. E com o Vicente foi pior ainda, porque não tinha o Daniel (treinador), que é o córner dele e é o meu córner também. Ele não pôde vir pra luta, e só estávamos eu e o Henry (Hooft, head coach da equipe Sanford MMA). Foi o mesmo silêncio esquisito, e o Vicente também disse que ficou muito nervoso no começo, mas depois conseguiu controlar bem. Mas Graças a Deus já tive essa experiência como lutador e como córner, e acho que vou controlar bem. Mas dá mais nervoso que o normal.

A ausência de vibração dos fãs, no entanto, tem seu lado positivo: a facilidade para ouvir seus treinadores e até o que o córner do adversário diz. Para o brasileiro, a situação pode ser estranha para Woodley, que ainda não a enfrentou, e, por ser um ex-campeão, acostumou-se a lutar com muita vibração do público em suas lutas.

- Eu já lutei em eventos menores, em card preliminar, quando ainda é meio vazio, mas não é assim. Tem os prós e os contras. Dá pra ouvir muito bem o meu córner e o córner do adversário, e os comentaristas também. Pra mim ajuda, porque no jiu-jítsu era sempre assim, a maior gritaria, e eu estou acostumado com isso. Acho que para o Tyron Woodley será um pouco diferente. O cara foi campeão, está acostumado com aquela torcida toda, e vai estar vazio. Mas vai dar nervoso do mesmo jeito. Eu estou nervoso agora. Se eu falar que não tô, vou estar mentindo. É meu primeiro evento principal, contra um ex-campeão. Claro que tô nervoso. Estou controlando, normal, mas tô nervoso. Não vou mentir.

Gilbert Durinho decolou no UFC após mgrar do peso-leve para o peso-meio-médio — Foto: Getty Images

Durinho também falou sobre a forma como sua carreira decolou após decidir não se sacrificar como vinha fazendo para se manter nos pesos-leves e migrar para o peso-meio-médio. Na sua opinião, não ter mais que cortar os 7kg que separam os limites das duas divisões o fez se desgastar muito menos e, com isso, estar mais disponível para lutar mais vezes, em um intervalo de tempo muito menor.

- A mudança principal foi eu ter subido de categoria. Decidi não me matar para bater peso. Muita gente fala que eu sou fraco pro Tyron Woodley, mas eu sou meio-médio desde sempre, desde o jiu-jítsu eu cortava peso. Sempre fui um cara grande, e fazia aquela doideira de bater peso. Agora que eu parei com isso, não preciso de três meses pra bater o peso. Me chama em um mês, em duas semanas, que eu luto. Com isso, eu fiquei mais disponível pro UFC, e comecei a pedir lutas. Eles me ofereceram umas lutas duras. "Quer esse russo aqui, 20-0?". Vi as lutas dele, liguei pro Henry e disse que ia pegar a luta. Peguei e venci. Menos de 40 dias depois peguei a luta contra o Gunnar Nelson, outro cara duro, e venci. Contra o Demian em Brasília foi o primeiro camp que eu tive no meio-médio, e consegui nocautear no primeiro round. Tudo isso junto (quase não cortar peso, pedir luta e lutar sempre e fazer córner) me deixava toda hora de cara com o Sean Shelby e com o Dana White, e eu pedia luta mesmo. E ainda fiz uma luta de grappling num evento contra o Kazushi Sakuraba, o Jake Shields e o Yves Edwards, e os caras do UFC viram que eu tinha jiu-jítsu. Eles iam me dar um cara ranqueado, mas por terem visto que eu tinha jiu-jítsu, pintou a luta contra o Demian, senão não ia pintar. Depois, quando eu vi que a luta contra o Leon Edwards caiu, eu fui pro Twitter e disse que lutaria com o Woodley ou contra o Edwards. Deu uma repercussão grande, e dali a pouco meu empresário me ligou e disse que podia pintar a luta contra o Woodley. Foi natural, mas veio de todo esse meu processo.

Uma curiosidade das equipes comandadas por Henry Hooft foi abordada por Durinho na entrevista: a proibição dos atletas da Sanford MMA de se sentarem entre os rounds. Segundo o brasileiro, essa é uma regra da equipe, e que ele quebrou apenas uma vez, no UFC Montevidéu.

- É regra da academia. Ninguém senta durante o treino. Tem dias que é treino de luta em pé, tem dias que é treino de MMA, mas acaba o treino e todo mundo tem que ficar em pé, não tem essa. Deu o tempo, você pode estar morto, mas tem que ficar em pé. Pode relaxar, encostar em algum lugar, colocar os braços sobre alguém, mas ninguém senta, só se estiver machucado. Eu sentei no Uruguai e ele ficou doido comigo (risos). Foi a minha primeira luta no meio-médio, eu peguei em cima da hora. Eu ganhei o primeiro e o segundo rounds, mas cansei demais. O Henry nem pega a cadeira, mas o cara da Comissão Atlética trouxe uma cadeira e colocou lá. Ele ainda disse que a gente não precisa de cadeira, mas eu fui lá e sentei olhando pra cara dele. Ele ficou olhando pra minha cara e eu disse: "Foi mal, só dessa vez..." Ele ficou bravo olhando pra mim, me deu um esporro (risos).

Gilbert Durinho e o treinador Henry Hooft — Foto: Getty Images

Com cinco vitórias seguidas, Durinho acredita que pode ter chegado a hora de pedir uma disputa de cinturão, mas apenas em caso de uma vitória expressiva contra Woodley no sábado. Mas o brasileiro sabe que, no momento, o foco deve estar apenas na luta de sábado, e revela que a perda de concentração na luta que está à sua frente já lhe custou caro.

- Não quero botar a carroça na frente dos bois, porque eu tenho um problemão pela frente, que é o Tyron Woodley. Vai ser uma guerra, tanto mental quanto física e técnica. Estou concentrando toda a minha energia em ter uma ótima performance. Pensando no melhor cenário: ganhei. Decisão dividida, luta muito dura? Não adianta pedir disputa de cinturão, porque não vão me dar. Vão botar o Colby de novo ou o Masvidal, que estão engatilhados. Agora, Durinho acordou naquele dia, está naquela noite, e vem finalização ou nocaute, eu vou pedir o cinturão, sim. É difícil eu programar isso, porque eu não gosto de pensar no depois. Parece que estou pulando uma etapa. Estou muito focado nessa etapa, dando o meu máximo em cada dia para não pensar no depois. Eu já perdi luta assim. Na minha estreia, no UFC São Paulo, contra um russo duríssimo, Rashid Magomedov. O matchmaker da época, Joe Silva, me disse antes da luta: "Se você ganhar essa, você já é top 15". Dali pra frente eu já não pensei mais na luta. Só pensava nas próximas três ou quatro lutas pra disputar o cinturão. Perdi o foco. Por isso o meu foco agora é só nessa próxima luta. Ganhei bem? Vou pedir a disputa de cinturão. Não ganhei bem? Nem vou pedir. Mas sei que vai ser um sufoco, estou pronto pra passar esse sufoco, e é aquilo: ou eu saio com o meu escudo, ou saio em cima dele.

Tyron Woodley é o adversário de Gilbert Durinho na luta principal do UFC do próximo sábado — Foto: Evelyn Rodrigues

O Combate transmite o "UFC: Woodley x Burns" ao vivo, na íntegra e com exclusividade neste sábado, a partir das 19h (de Brasília), com o "Aquecimento Combate". O SporTV 2 e o Combate.com transmitem o "Aquecimento" e as duas primeiras lutas do card preliminar. O site acompanha todo o evento em Tempo Real.

UFC
30 de maio de 2020, em Las Vegas (EUA)
CARD PRINCIPAL (22h, horário de Brasília):
Peso-meio-médio: Tyron Woodley x Gilbert Durinho
Peso-pesado: Augusto Sakai x Blagoy Ivanov
Peso-casado (até 68kg): Billy Quarantillo x Spike Carlyle
Peso-leve: Roosevelt Roberts x Brok Weaver
Peso-palha: Mackenzie Dern x Hannah Cifers
CARD PRELIMINAR (19h, horário de Brasília):
Peso-mosca: Katlyn Chookagian x Antonina Shevchenko
Peso-meio-médio: Daniel Rodriguez x Gabriel Green
Peso-meio-pesado: Klidson Abreu x Jamahal Hill
Peso-mosca: Tim Elliott x Brandon Royval
Peso-galo: Casey Kenney x Louis Smolka
Peso-galo: Chris Gutierrez x Vince Morales

Woodley x Durinho: Hora de fazer história! Ao vivo no Combate Play! — Foto: Combate

Woodley x Durinho: Hora de fazer história! Ao vivo no Combate Play!

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