Como estão a ser afetados pela covid-19 os concelhos mais habitados do país

Os dez concelhos com maior densidade populacional estão longe de serem os mais infetados, mas ao contrário do que acontece no resto do país, o ritmo de infeções não está a abrandar.

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Amadora, Odivelas, Porto, Lisboa, Oeiras, Matosinhos, São João da Madeira, Almada, Cascais e Barreiro são os concelhos portugueses com maior densidade populacional. São também dos concelhos com mais casos de covid-19, atualmente. Sete deles estão na lsita dos 10 concelhos com mais casos confirmados de infeções por esta doença.

Desde o início que se afirma que o distanciamento social é importante, mas é mais fácil manter esse distanciamento em concelhos com uma baixa densidade populacional, como o Alvito ou Mourão (menos de três casos de covid-19). A diferença é que nestes dois concelhos há menos de 9 pessoas por quilómetro quadrado. Em qualquer um dos dez mais densamente populacionados, há mais de 2.000 pessoas por quilómetro quadrado, num país onde a média é de 111,4 pessoas por quilómetro quadrado, segundo as Estimativas Anuais da População Residente de 2018 do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgadas em 2019.

Sete destes concelhos (Amadora, Odivelas, Oeiras, Cascais, Lisboa, Almada e Barreiro) pertencem à região de Lisboa e Vale do Tejo, aquela que neste momento alvita mais preocupações às autoridades sanitárias do país.

 

Até ao final de março, o concelho com mais casos do novo coronavírus era Lisboa, mas a lista de concelhos com mais infetados era dominada por concelhos do Norte: Porto, Vila Nova de Gaia, Maia, Matosinhos, Gondomar, Braga e Valongo registavam, todos eles, mais de 200 casos de Covid-19 numa altura em que o país tinha cerca de 7 mil infetados. No entanto, essa situação mudou drasticamente e desde 10 de maio que Lisboa e Vale do Tejo (LVdT) regista mais casos que qualquer outra do país e especialistas apontam que o pico possa ser atingido apenas na terceira semana de junho.

Olhando apenas para maio podemos observar que, proporcionalmente, os casos nesta região do país ganham cada vez mais proporção, sendo que o aumento na região que engloba a capital do país está a aumentar a um ritmo de largas dezenas de novos casos diários, enquanto o resto do país tem registado novos casos num ritmo muito mais modesto.

 

Desde o início do mês de maio, a região mais do que duplicou o seu número de casos: eram 5.815 casos até ao final de abril e são agora mais de 12 mil. Neste período, Lisboa e Vale do Tejo confirmou 6.304 novos casos de Covid-19 e, entre os concelhos mais afetados, Lisboa até foi o concelho com menos crescimento, registando 825 novos infetados desde 1 de maio.

Entre os concelhos que mais cresceram no número de casos durante este mês de maio estão Amadora (crescimento de 155%), Loures (142%), Odivelas (129%), Vila Franca de Xira (122%), Seixal (108%) e Sintra (100%). Isto quer dizer que, entre os 10 concelhos com mais casos em Lisboa e Vale do Tejo, seis deles duplicaram o número de casos desde o início deste mês. E mesmo os que não o fizeram, registaram grandes subidas: Oeiras (67%), Cascais (63%), Almada (59%) e Lisboa (56%).

 

Esta sexta-feira de manhã, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse à Rádio Renascença que Lisboa "teve sempre uma evolução muito específica" e que, apesar de ser, neste momento, o epicentro da pandemia de Covid-19, o "R" (índice de transmissibilidade) "não é muito diferente de outros países que já desconfinaram". Esta quinta-feita, à saída da reunião do Infarmed, Marcelo tinha revelado que o R de Lisboa estava situado nos 1,02, ligeiramente acima do resto do país.

Questionado sobre o que leva a este aumento significativo em Lisboa, o Presidente apontou dois fenómenos: "Um marcado por condições sócio-económicas. Pois há freguesias em que, nitidamente, existem fenómenos relacionados com áreas residenciais onde as situações socio-económicas são muito complicadas. Depois, há outro fenómeno diferente: é que Lisboa aumentou a realização de testes de forma muito significativa, como Cascais ou Oeiras, que têm valores elevados".

O Presidente afirmou ainda que o facto de haver uma concentração nestes bairros residenciais torna a tarefa de controlar o vírus mais fácil "porque aí sabe-se qual é o fator de unificação e onde está o foco, sabe-se que é aquela comunidade e vai-se atrás das cadeias de transmissão".