Pessimismo com economia aumenta e 2 em cada 3 brasileiros temem crise, diz Datafolha
59% dos que trabalham dizem ter tido corte de jornada e salário
A percepção de que a crise causada pelo coronavírus terá efeitos negativos duradouros sobre a economia do país disparou no último mês.
Pesquisa realizada pelo Datafolha nos dias 25 e 26 de maio revela que dois em cada três brasileiros —68% dos 2.069 entrevistados pelo telefone— acreditam que a pandemia afetará a atividade produtiva por muito tempo.
A parcela representa um aumento substancial em relação aos 56% que tinham essa visão em abril.
No primeiro levantamento em que essa pergunta foi feita, em março, metade dos entrevistados achava que o efeito econômico da pandemia seria de longo prazo.
Naquele momento, 44% ainda apostavam que a atividade seria afetada por pouco tempo. Agora, apenas 27% disseram acreditar nesse cenário menos pessimista.
A piora de percepção pode ser motivada pelo fato de que muitos já têm sido, diretamente, afetados pela crise.
A pesquisa mostra que, entre os brasileiros que possuem trabalho, 59% relatam terem amargado redução de jornada e renda em consequência da pandemia.
Por trás do número expressivo, há diferenças segundo o tipo de inserção do entrevistado no mercado laboral.
A parcela dos que foram atingidos por cortes de jornada e rendimentos é de 48% entre os que atuam no setor formal e 72% entre os empregados no segmento informal.
Há também distinções de acordo com o tipo de ocupação.
Entre os empregados com carteira assinada, 43% disseram estar trabalhando e ganhando menos. Essa fatia cresce para 51% entre os empregados sem registro e dispara para 78% entre autônomos, profissionais liberais e empresários.
Apesar do maior pessimismo em relação ao país e de muitos trabalhadores terem sofrido queda de jornada e renda, a expectativa dos entrevistados em relação à sua própria situação financeira não se alterou de forma significativa.
Segundo o Datafolha, 35% dos brasileiros acreditam que suas finanças serão afetadas pela crise do coronavírus por muito tempo. No levantamento anterior, de abril, 37% expressaram essa visão.
Já a fatia dos que esperam não serem afetados, financeiramente, pela pandemia aumentou de 19% para 23%.
A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Em relação à resposta econômica do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) à crise sanitária, a pesquisa Datafolha indica que a população brasileira está bastante dividida.
Os que acreditam que a gestão federal tem feito menos do que deveria para enfrentar a situação somam 45% dos entrevistados.
Esse percentual é próximo à fatia recorde de 43% dos brasileiros que, ao serem perguntados sobre o governo Bolsonaro de forma geral –sem referência específica à Covid-19– responderam considerá-lo ruim ou péssimo.
Mas os que julgam que o governo tem reagido na medida certa na esfera econômica em resposta ao coronavírus são 37% do total. Já os que acham que a administração fez mais do que deveria nesse quesito somam 15%.
Alguns segmentos da população são, especialmente, críticos à resposta econômica do governo à crise da Covid-19.
A percepção de que as ações nessa área têm sido insuficientes chega a 52% dos brasileiros de 25 a 34 anos, caindo para 41% entre aqueles com mais de 60 anos.
Entre a população com ensino superior, 57% do total acham que o governo faz menos do que deveria. No grupo com ensino fundamental, a fatia dos mais críticos é de 37%.
No recorte por renda, a visão negativa em relação à resposta econômica da gestão Bolsonaro à crise é maior entre os que ganham mais.
Mais da metade dos brasileiros com rendimento familiar mensal acima de cinco salários mínimos acham que o governo tem feito menos do que deveria. Entre os que recebem até 2,5 salários mínimos, os que compartilham dessa visão somam 43% do total.