Zuckerberg critica Twitter por questionar publicações de Trump

Após ter tuíte contestado, presidente assinou decreto que pode reduzir poder de redes sociais sobre conteúdos

Mark Zuckerberg e Jack Dorsey entraram em choque sobre como lidar com a desinformação em suas redes sociais, o que resultou em uma escalada das tensões entre os fundadores do Facebook e do Twitter enquanto eles se preparam para enfrentar um decreto do presidente sobre o que este define como censura praticada pelas empresas.

A Casa Branca anunciou na noite de quarta-feira (27) que o presidente assinaria uma ordem executiva que removeria algumas das proteções de que as companhias de mídia social desfrutam contra responsabilidade judicial por conteúdo gerado pelos seus usuários, depois que o Twitter marcou dois dos tuítes de Trump como factualmente improcedentes.

https://f.i.uol.com.br/fotografia/2020/05/29/15907639245ed12194dd6de_1590763924_3x2_rt.jpg
Logo do Twitter e do Facebook; Zuckerberg afirmou que a política de sua plataforma é diferente da de Dorsey - Reuters

De acordo com um rascunho inicial da ordem, visto pelo Financial Times, o presidente busca restringir a proteção legal das empresas contra processos por difamação e limitar seu acesso às verbas federais de propaganda.

Dorsey, um dos fundadores e presidente-executivo do Twitter, rebateu com o que definiu como “verificação de fato”, defendendo as ações de sua empresa ao rotular duas mensagens de Trump no Twitter como potencial desinformação, pela primeira vez esta semana.

“Continuaremos a apontar para informação incorreta ou contestada sobre eleições em todo o mundo. E admitiremos e nos responsabilizaremos por quaisquer erros que cometermos”, escreveu Dorsey no Twitter.

"Isso não nos torna ‘árbitros da verdade’. Nossa intenção é ligar os pontos de declarações conflitantes e mostrar que a informação está em disputa, para que as pessoas possam julgar por si mesmas."

A disputa pública entre os fundadores do Facebook e do Twitter surge no momento em que as duas empresas estão se preparando para enfrentar a ordem executiva do governo Trump que poderia privar as empresas de mídia social das proteções de que desfrutam no momento sob a Lei da Decência na Comunicação. Ela permite que as empresas de internet determinem como preferirem suas regras de moderação de conteúdo.

A seção 230 da lei aprovada em 1996, que dispõe que os prestadores de serviços digitais não devem ser tratados como provedores de informações postadas por terceiros, vem sendo debatia há anos entre o setor de tecnologia e legisladores. Em janeiro, Joe Biden, o adversário democrata de Trump na eleição presidencial, disse que a seção 230 deveria ser abolida.

De acordo com um rascunho da ordem, que pode ser contestada judicialmente, Trump busca privar as plataformas de mídia social das proteções que lhe são conferidas sob a seção 230 caso elas removam conteúdo ou o acesso de usuários sem notificá-los explicitamente ou lhes dar oportunidade de responder, de uma maneira que seja “incompatível” com suas normas de uso.

A modificação também daria à Comissão Federal do Comércio (FTC, na sigla em inglês) mais poderes para responder a acusações de parcialidade por parte dos serviços online, e restringiria a veiculação de publicidade federal nessas plataformas, de acordo com a abordagem adotada por elas quanto aos “princípios da livre expressão”.

Ellen Weintraub, comissária da Comissão Eleitoral Federal dos Estados Unidos, publicou uma longa série de tuítes na noite de quarta-feira contendo extensas provas de que “simplesmente não exista base para a teoria de conspiração de que o voto pelo correio gera fraudes”.

Trump reagiu furiosamente à decisão do Twitter, acusando a empresa de interferir na eleição e ameaçando “regulamentar fortemente” as companhias de mídia social, ou mesmo “fechá-las”, pelo que descreveu como censura a mensagens conservadoras.

As ações do Twitter caíram em 2% na manhã de quinta-feira (28), depois de uma queda de 3,6% logo que Trump fez sua ameaça, na quarta-feira (27).

As companhias de tecnologia já estão conversando privativamente sobre um possível processo judicial caso a ordem seja assinada com a formulação vista no rascunho.

O Facebook até agora não colocou qualquer tipo de advertência nas mensagens de Trump, apesar dos anos de controvérsias sobre a procedência das mensagens que o presidente posta online.

Zuckerberg disse à Fox News que “creio que a política do Facebook quanto a isso seja diferente da política do Twitter”.

“Em termos gerais, que um governo escolha censurar uma plataforma por estar preocupado com censura não me parece exatamente o reflexo certo, aqui”, disse Zuckerberg.

Tradução de Paulo Migliacci