Conselho de saúde recomenda florais, homeopatia e reiki no tratamento da Covid-19

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CLÁUDIA COLLUCCI
SÃO PAULO (FOLHAPRESS) – O CNS (Conselho Nacional de Saúde) aprovou recomendação para que gestores públicos usem e divulguem práticas integrativas e complementares, como homeopatia, acupuntura, fitoterapia, florais e reiki, no tratamento da Covid-19.

O mesmo conselho recomendou ao Ministério da Saúde que suspenda o uso da hidroxicloroquina em casos leves da infecção por falta de evidência científica.

Na avaliação da comunidade científica, as decisões são contraditórias já que as terapias integrativas também não têm embasamento científico sólido.

Segundo o infectologista Esper Kallás, professor da USP, o mesmo critério para não recomendar o uso de hidroxicloroquina deveria nortear a tomada de decisão para a prática de medicina integrativa. “Há necessidade de demonstração científica clara de benefício. O investimento em saúde deve se pautar em evidências científicas”, afirma.

O médico e advogado sanitarista Daniel Dourado, pesquisador do núcleo de pesquisa em direito sanitário da USP, tem a mesma opinião. “Não faz sentido [as diferentes recomendações]. Parece que tem uma preocupação do CNS que não é bem a evidência científica. É mais uma questão de posicionamento político.”

Para ele, as práticas integrativas gastam o dinheiro de um SUS que já está completamente desfinanciado. “E também é muito preocupante se o paciente abandonar tratamentos convencionais para aderir a essas práticas.”

As práticas integrativas e complementares, as chamadas PICs, estão no SUS desde 2006. Hoje, são ofertadas 29 delas, mas a organização dos serviços depende da adesão dos municípios.

Segundo a conselheira Simone Leite, coordenadora de comissão de práticas integrativas do CNS, a recomendação aos gestores vem no sentido de reforçar importância do uso dessas terapias nesse momento em que não existe cura para a Covid-19.

“Os florais, a automassagem, a acupuntura são complementares à assistência. Todas essas práticas já estão no rol do ministério e são amparadas por evidências científicas.”

Leite afirma que não há contradição nas recomendações do CNS sobre o uso da cloroquina e das práticas integrativas. “A cloroquina em si é um tratamento [que não tem eficácia comprovada]. As práticas integrativas são complementares ao atendimento.”

A conselheira exemplifica: “você pode ter um paciente com Covid que está com dores. Uma massagem pode ser feita nele. Ela vai complementar o tratamento do Covid. A gente não quer competir com a alopatia de jeito nenhum”.

Na recomendação, o CNS diz que se apoia em evidências cientificas produzidas por entidades como a Rede de Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas Américas e o Cabsin (Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa), sobre o uso das práticas neste momento de pandemia.

Publicação do próprio Cabsin, no entanto, informa, em letras maiúsculas, que até o momento não existem evidências de tratamentos específicos para a Covid-19.

O consórcio elaborou um “mapa de evidências” em que incluiu 127 estudos realizados em 12 países. Há apenas uma revisão sistemática, feita pela China, com foco específico na Covid-19. Trata do uso da fitoterapia no manejo de sintomas.

O documento também pontua que “lacunas de evidências permanecem sobre as metodologias utilizadas pelas revisões e estudos clínicos incluídos”.

Para Simone Leite, a recomendação do CNS também será muito importante no pós-Covid porque as práticas integrativas podem ajudar as pessoas a melhorar o estado geral da saúde.

“A gente tem muito trabalho científico sobre o reiki à distância, sobre meditação. Plantas medicinais, os chás? Muita gente usa, muitos médicos recomendam e a gente tem muito estudo com as indicações e contraindicações.”

Leite diz que embora a ozonioterapia ainda não faça parte do rol de terapias integrativas do SUS, já existem estudos em andamento para que ela também possa ser usada durante a pandemia.

A conselheira afirma que o Ministério da Saúde prepara uma cartilha em que endossará a recomendação do CNS sobre o uso das práticas integrativas no contexto da Covid.

O CNS é um órgão vinculado ao Ministério da Saúde composto por representantes de usuários do SUS e entidades representativas de trabalhadores da saúde, governo e prestadores de serviços. É competência do CNS, por exemplo, aprovar o orçamento da saúde e acompanhar a sua execução.

Na opinião de Leite, as críticas da comunidade científica às práticas integrativas ocorrem por desinformação. “Vem crescendo muito o número de médicos, de enfermeiros e outros profissionais da saúde trabalhando nisso, fazendo estudos.”

A própria Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) apoia o uso das práticas alternativas no contexto da pandemia e tem parceiros como a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva). Mantém um observatório sobre elas (ObservaPICS) e lançou recentemente a coleção Cuidado Integral na Covid-19, sobre diferentes práticas integrativas que teriam tido sucesso em cenários similares de sofrimento.

A primeira publicação é sobre a terapia floral. “Uma prática reconhecida pela Organização Mundial de Saúde há 70 anos, com resultados evidentes no autocuidado, equilíbrio mental e emocional”, diz o texto.

Segundo Simone Leite, vários municípios brasileiros estão aprovando leis para garantir a oferta dessas práticas à população, que hoje, no âmbito federal, são reguladas apenas por normas do Ministério da Saúde. Também tramita no Congresso um projeto de lei federal nesse sentido.

“No Ceará, onde há anos estão implantados a fitoterapia, o reiki, diminuiu em 40% o uso de psicotrópicos com o uso das práticas integrativas. Você é diabético, pode tomar um chá, e isso pode diminuir a quantidade de medicamento que você usa.”