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Julio Secchin, Mahmundi e Thiago Risi: cada um a sua maneira, reunindo amigos e fãs, em suas modestas lives Foto: Reprodução

Lives intimistas na madrugada viram remédio contra insônia e chat de paquera

Longe do engajamento virtual gerado por nomes do sertanejo, há quem faça das transmissões ao vivo uma ação entre amigos

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RIO — Nem só de recordes de likes e visualizações vivem as lives neste período de quarentena. Responsáveis por estabelecer novas saídas para o consumo de conteúdo cultural em meio à pandemia, as transmissões ao vivo se transformaram em palco para muitas estrelas brilharem, de Marília Mendonça a Roberto Carlos, de Gusttavo Lima a Sandy.

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Mas há quem venha utilizando suas lives para fins mais modestos, de menor apelo porém com um charme único. São pessoas que apenas querem reunir alguns amigos virtualmente, desabafar, jogar conversa fora e até atravessar em boa companhia as noites de insônia.

É o caso do cantor Julio Secchin (@juliosecchin), que da sala de sua casa, na Gávea, vem fazendo algumas transmissões ao vivo despretensiosas, somente à base de voz e violão. E sempre durante as madrugadas, quando reúne, no máximo 250 pessoas on-line em seu Instagram.

— Sempre rola por volta de 2h, 3h. Sou eu, a luz do abajur e minha vizinha interfonando para reclamar. É muito bacana a espontaneidade dessas lives mais intimistas — comenta Secchin, que sempre aproveita  suas apresentações para mapear a origem de alguns dos seus mais de 31 mil seguidores no Instagram — Consigo conversar com a galera, tem gente de Rio Branco, Manaus, interior do Maranhão. Às vezes rola um clima de paquera, galera flertando, tipo "live Tinder".

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E não é somente em pocket show que o amor virtual pode dar o tom. O ator Ricardo Cabral, que todas as sextas-feiras apresenta a peça "O filho do presidente" (@teatrocaminho) da sala de sua casa, no Rio, conta que já teve casal uma das sessões do espetáculo em oportunidade para um primeiro encontro, mesmo que virtual.

Os dois pombinhos, que já vinham trocando mensagens, combinaram de assistir juntos ao monólogo estrelado por Ricardo, e que é transmitido pelo aplicativo Zoom para um público restrito a 100 pessoas.

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— Eles assistiram à peça na mesma sessão e depois marcaram uma videochamada para tomar uma cerveja e se conhecerem melhor — conta o ator — Teve também outra sessão em que mãe e filha estavam na mesma "plateia" sem saber.

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No Dia das Mães, Thiago Risi contou com a participação de sua própria mãe durante uma live Foto: Reprodução

E por falar em mãe... o publicitário carioca Thiago Risi (@thiagorisi) conseguiu uma canjinha da sua, em pleno Dia das Mães, durante uma das lives que vem fazendo nesta quarentena. Cavaquinista amador e morador de São Paulo, o rapaz vem utilizando os horários de almoço de seu home office para saciar a vontade dos amigos que tanto o incentivaram a se apresentar via Instagram.

Durante a semana, os shows duram meia hora. Já nos feriados, ganham 15 minutos a mais e, nos fins de semana, com mais tempo para matar a saudade dos seguidores, as lives duram cerca de uma hora.

— Para o repertório, escolho temas variados:  São Jorge, malandragem, anos 1990. Sempre com a intenção de levar alegria aos que eu amo nesse momento difícil. Já teve encontro de casais que estão longe pela quarentena, e acho até que consegui uma crush para conhecer no pós-pandemia — celebra Thiago.

Antídoto contra vazio afetivo

Aliás, planos para um futuro sem o novo coronavírus também estão no horizonte da cantora Marcela Vale, a Mahmundi (@mahmundi). Nesta quarentena, ela deu vida a um sonho que sempre carregou de forma silenciosa durante anos: o de ter um programa de rádio. E é no seu perfil no Instagram que a carioca vem brincando de ser radialista.

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— Comecei apenas com as lives bem simples, conversando com a galera. Até o momento que me deu um estalo e comprei um mixer. Hoje, monto playlists e meclo com áudios que meus seguidores enviam por mensagem direta — diz Mahmundi, que leva seu programa "Mahmundi FM" ao ar sempre aos sábados, à meia-noite — Tem um clima caseiro que eu amo, e também me aproxima não só dos meus amigos, como também dos fãs. Pretendo continuar com a rádio mesmo depois da pandemia.

E se teve gente descobrindo nas lives uma brecha para realizar sonhos pessoais, há outros que já estavam ambientados com tal ferramenta. Como o artista visual e professor da UFRJ Alvaro Seixas (@alvaroseixas), que há alguns anos utiliza as transmissões ao vivo no Instagram para debater sobre o campo das artes e se conectar com seus alunos.

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O professor da UFRJ Alvaro Seixas comanda lives no Instagram em que debate com alunos sobre artes Foto: Reprodução

Defensor das lives 'intimistas', ele aposta nestes encontros ao vivo como forma de expurgar e entreter.

— Lives menores abrem chance para você falar com as pessoas e também para elas serem ouvidas. Nas megalives, você não vai receber atenção. Ainda mais se for no YouTube, onde a comunicação é completamente assimétrica. Nas lives mais intimistas você estabelece uma troca e preenche o vazio que estamos experimentando confinados dentro de casa.