Conclusão da crise política será drástica

Espaço para diálogo encolhe e disputa entre Bolsonaro e Poderes tende a terminar ou em afastamento ou em ruptura institucional

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Já foram diversas tentativas infrutíferas de diálogo. Já houve apelos em vão e oportunidades para tal deperdiçadas. Agora, parece cada vez mais claro que a solução para crise entre o governo do presidente Jair Bolsonaro, os demais Poderes e parte da sociedade caminha para uma conclusão drástica. E dramática, para um lado ou para o outro.

Muitos eram os que apostavam que a pandemia, com a trágica morte de milhares de pessoas, forçaria um entendimento ou ao menos uma trégua. Afinal, como brigar por poder enquanto famílias são arrasadas com a perda de entes queridos em uma velocidade nunca vista? Pois não foi o que se viu. Mesmo diante do cenário que choca o mundo inteiro, as tensões se acirraram. O presidente brigou com governadores e prefeitos, trava uma batalha com o Judiciário, dispara pelas costas do Congresso mesmo após a busca por um entendimento e se dissocia da parcela mais expressiva da sociedade. É fortemente criticado pela imprensa nacional e internacional e por boa parte das entidades da sociedade civil.

Nos últimos dias, com a operação determinada pelo STF contra um grupo ligado ao presidente acusado de disparar fake news, e com as reações de Bolsonaro ameaçando não cumprir eventuais ordens judiciais, a situação chegou ao ponto em que não é possível mais retornar. Ainda mais após o filho do presidente pregar abertamente que chegaremos ao momento de ruptura da ordem democrática.

Embora não esteja na rua, a população já está se posicionando. Nos últimos dias as pesquisas demonstraram que os setores médios da sociedade abandonaram a posição dúbia e se enfileiraram contra o presidente. Por outro lado, sua base de apoio se solidificou. Hoje temos dois terços da população que reprovam fortemente o presidente, e um terço que o defende de forma incondicional. Isso pode variar um pouquinho para cima ou para baixo, mas não muito. O que indica que até mesmo no seio da sociedade o espaço para a ponderação se esgotou.

Esse clima de confronto, aliado ao avançar das investigações por um lado e à retórica belicista do grupo presidencial de outro, leva-nos à conclusão de que chegaremos, cedo ou tarde, ou ao afastamento do presidente, com a prisão de alguns dos que estão em seu entorno, ou viveremos de fato a situação de um golpe contra os demais Poderes. Difícil imaginar que alcançaremos 2022 sem uma dessas graves consequências. A tormenta política vivida no Brasil nos últimos anos, e que já levou a um impeachment de uma presidente e a uma batalha em torno de uma denúncia contra outro, parece ainda não ter chegado ao seu pico, o que é dramático.