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Trabalhar em casa se tornou mais comum para muita gente durante a pandemia. Foto: Pixabay

Janelas amplas, varandas, escritórios... como será o imóvel ideal no mundo pós-Covid?

A pandemia do novo coronavírus e o isolamento social criaram novas demandas dentro das casas, como a necessidade de transformar a sala em um espaço de trabalho, por exemplo. Para tentar projetar as possíveis configurações dessas 'casas do futuro', a CBN ouviu especialistas em arquitetura.

POR RAYSSA CERDEIRA (rayssa.cerdeira@cbn.com.br)

"A arquitetura nunca foi tão falada porque a gente está experienciando ela de uma forma única. A nossa casa hoje é o nosso restaurante, a nossa casa é a nossa academia, é nossa sala de yoga, de meditação… Então a gente tá reunindo tudo na casa."

A pandemia do novo coronavírus mudou a rotina dentro e fora das casas, criando novas necessidades e fazendo com que as pessoas repensem os espaços. Apartamentos com varandas, salas que se transformam em escritórios e, até, em academias. O que agora é uma solução temporária pode se tornar parte dos futuros projetos residenciais.

Com o isolamento social, espaços que permitam o contato com o sol, ar puro e a natureza ganham importância. Arquitetos já esperam uma valorização de janelas amplas, varandas e terraços. Apartamentos com mais metros quadrados e casas também podem se tornar desejos. Mas, o arquiteto Hélio Pellegrino vai além: esvaziamento dos grandes centros para o interior.

"Como tudo vai mudar, principalmente as pessoas e a arquitetura por consequência. A arquitetura vai virar o centro nervoso de cada família porque você vai trabalhar em casa, você vai cozinhar em casa, você vai ter todas as relações em casa. A "casa do futuro" elas terão a consciência de que são o centro do universo das famílias e os arquitetos vão privilegiar o que hoje em dia é a benção: o sol e o vento. O aglomerado ele não interessa mais ao ser humano."

Nessa mesma linha, os condomínios de apartamentos pequenos e áreas comuns grandes também podem se tornar obsoletos. Mas, o arquiteto Carlos Carvalho, do Studio Ro+Ca, ainda aposta na versatilidade dos empreendimentos menores.

"Eu não acredito que as casas vão ter que aumentar. Eu acho que a tendência dos apartamentos menores vai continuar, porém teremos espaços mais versáteis. Eu acho que não teremos mais nada fixo, os móveis serão todos com possibilidade de deslocar e abrir espaço para podermos fazer um espaço para malhar, um espaço para sentar no chão e comer, um espaço para os filhos brincarem. Porém a gente vai poder ter alguns móveis versáteis para isso."

Ele também acredita que as futuras construções terão a tecnologia como uma aliada.

"Algumas empresas já estão estudando para o futuro entregas via drones. Então eu acho que os edifícios do futuro próximo, talvez daqui a 10, 15 anos, eles já tenham algum ponto no edifício, talvez na cobertura, em que tenha um sinal de GPS e esses drones cheguem nesse ponto, e a gente vá ter que ir nessa cobertura buscar esse produto."

Já pra arquiteta Giselle Valério, do escritório Konstrova, a pandemia está ressignificando o passado. Cômodos que vinham perdendo espaço nos projetos residenciais voltaram a ganhar importância e devem ser incorporados no futuro.

"Por exemplo, os halls de entrada eles antes não eram vistos com tanta importância. Nessa epidemia, estamos usando muito espaço para colocar os sapatos, os objetos... Tem se tornado um ambiente importante de transição entre o interno e o externo. Um grande aliado dele são os lavabos que anteriormente, em projetos menores, eram excluídos. E agora, com a necessidade maior de higienização, teve sua importância fortalecida."

O arquiteto e presidente da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura, Celso Rayol, criou o "Diário de uma quarentena" - tirinhas que ilustram as novas rotinas das pessoas: comunicação por vídeochamadas, home-office com os filhos e, até, arrependimento por ter fechado a varanda. Além de uma maior procura por casas, ele ressalta também a preocupação com a altura das construções num mundo pós-coronavírus.

"Pé direito alto ou baixo. Ou seja, uma casa com pé direito muito baixo, as pessoas estão se sentindo sufocadas nesse pé direito. Então já estão vendo a possibilidade de troca de apartamento por lugares com pé direito mais alto. Pé direito é a altura do apartamento. Onde essas alturas são mais generosas parece menos ar de confinamento ou pressão"

Prédios corporativos e locais de trabalho coletivo também devem ganhar novas configurações. Pro arquiteto Francisco Hue, locais que têm apenas sistema de ar-condicionado precisam ser repensados.

"E a gente imaginar hoje um edifício corporativo ou mesmo os hotéis, onde os vidros não abrem, são selados. Ar condicionado é uma instalação que vamos ter que pensar muito... Em como esses espaços vão ser saudáveis a partir de agora. Abre e fecha a porta a cada 12 horas, o que se dissemina pelas tubulações comuns de ar condicionado... É como um avião."

Em 2021, o Rio vai receber o Congresso Mundial dos Arquitetos, que deveria acontecer esse ano, mas foi adiado por causa da Covid-19. Será uma oportunidade pra profissionais discutirem o futuro da arquitetura e das cidades no mundo pós-pandemia.