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EUA restringiram entrada de pessoas que estiveram no Brasil por causa da pandemia de coronavírus. Foto: NICHOLAS KAMM / AFP

Brasileiros que vivem no exterior relatam dificuldades em sobreviver fora do país

Muitos estão sem emprego e sem ajuda dos governos estrangeiros durante a pandemia de coronavírus. Para piorar, quem está nos Estados Unidos têm medo de sofrer xenofobia depois que o presidente Donald Trump proibiu entrada de viajantes do Brasil. ONGs e representantes de comunidades brasileiras tentam ajudar os imigrantes com doação de cestas básicas.

POR ISA STACCIARINI (isa.stacciarini@cbn.com.br)

Depois de perder o emprego por causa da pandemia do coronavírus e sem apoio dos governos estrangeiros, alguns brasileiros que estão nos Estados Unidos e em países da Europa contam com a solidariedade de outras pessoas para conseguir se manter e garantir o sustento da família. Para piorar, a notícia de que o Brasil integra a segunda colocação no ranking dos países com mais casos de coronavírus repercute em todo exterior e quem está nos Estados Unidos, principalmente, teme sofrer xenofobia depois que o presidente Donald Trump restringiu a entrada de viajantes do Brasil.

Esse é o caso da personal trainer natural de São Paulo, mas que vive em Nova York há quatro anos. Ela está no país sem autorização e por isso tem medo de se identificar, mas conta que perdeu o emprego há três meses e agora vive de doação de cestas básicas. A brasileira diz que tem medo até de ser reconhecida pela sua nacionalidade.

"Pelo fato de a gente ser brasileiro e não ter nenhum apoio de nenhum dos governos, temos muito medo do que vai acontecer e do que pode acontecer. Você não sabe para onde você vai, com quem você fala, para onde você corre. É muito difícil até sair na rua. Você tem muito medo até de não conseguir voltar para casa", desabafa.

Presidente do Conselho de Cidadãos Brasileiros em Boston e responsável por uma ONG que trabalha com a população brasileira, Lídia Souza estima que 1 milhão de brasileiros estejam em todo território americano. Os principais estados onde eles vivem são Massachussets, Flórida e Califórnia.

Só em Boston, no estado de Massachussets, ela acredita que sejam cerca de 400 mil, mas 75% deles não têm documentação e ficaram de fora da ajuda do governo. Só a ONG de Lídia doou 300 cestas básicas em abril, o que serviu para alimentar 1.200 pessoas. Ela desabafa que a recente decisão de Trump pode gerar preconceito contra a comunidade de brasileiros.

"Aumenta mais o target de que nós somos aquele povo que traz doença, aumenta a discriminação. O nosso país ser falado em todos os jornais americanos, de uma forma pejorativa... Nós somos o bobo da corte da situação toda. É muito triste falar isso, porque nós aqui lutamos para que a gente construa uma identidade brasileira de uma forma correta", frisa.

Larissa Gomes mora em Nova York há mais de oito anos e faz parte do movimento Mulheres da Resistência no Exterior que, junto com o coletivo Brado NY, organiza doação de cestas básicas para brasileiros. Ela destaca que a comunidade vive uma situação de incerteza.

"O cidadão americano já está passando por várias incertezas de não poder viajar e agora você coloca isso em uma situação muito pior, que é você viajar internacionalmente e se sentir preso no país. Não só os ilegais, mas também os que estão legais estão sendo atingidos com essa lei [do Trump de restringir o acesso de viajantes brasileiros no país]. E as pessoas que são ilegais morrem de medo de ir aos hospitais, ficam doentes, não têm nenhum recurso e aí a pandemia vai se espalhando, principalmente nos grupos de quem é imigrante”, conta.

A insegurança não é só de quem vive em solo americano. Representante da população brasileira na Holanda e presidente do Conselho de Representante das Comunidades Brasileiras no Exterior, Marcos Viana diz que apenas em março 200 das 30 mil pessoas que viviam nos Países Baixos voltaram ao Brasil.

"Nunca consegui tão fácil mandar o pessoal de volta. É só pedir e dois ou três dias o processo está pronto, o tíquete está marcado e a pessoa vai embora. Uma das coisas que mostraram aqui [no noticiário da Holanda] rapidamente foram várias covas sendo abertas. O povo que vê isso pensa que está todo mundo morrendo no Brasil e aí cria-se uma impressão muito ruim, de que o Brasil está entregue às traças e não está sendo feito nada. É unânime aqui, pelo menos entre os nórdicos, de que o Brasil está em maus lençóis pelo governo que tem", relata.

Nesta semana, o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, considerou que o fato de Trump ter restringido entrada de viajantes brasileiros no país foi um critério técnico.

"Sobre a posição dos Estados Unidos, eles se basearam em critérios técnicos, da mesma forma que o Brasil se baseou em critérios técnicos, porque nós já tínhamos bloqueado a entrada dos americanos aqui. Assim que possível, dentro de critérios técnicos, nós iremos reabrir. Tem gente que acha que isso é só uma decisão de governo, mas todos opinam antes de se tomar uma decisão dessa", reforça.

Além da restrição da entrada de brasileiros nos Estados Unidos, a equipe técnica do governo prevê uma redução dos investimentos estrangeiros a partir de abril, devido à pandemia do coronavírus. Entre janeiro a março, houve um crescimento de 6% em comparação ao mesmo período de 2019. No ano passado, o Brasil recebeu US$ 80 bilhões e foi o quarto maior destino de investimentos estrangeiros direto do mundo. Ficou atrás apenas dos Estados Unidos, China e Singapura.