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Foto: Arquivo/Global Imagens

IVA da luz pode descer mesmo sem decisão de Bruxelas

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A Comissão Europeia sugere que o Governo avance sozinho com a descida do IVA da luz. A medida consta do Orçamento do Estado para 2020.

A Comissão Europeia ainda não decidiu sobre o pedido de Portugal para descer o IVA da eletricidade consoante os escalões de consumo, mas sugere que o Governo pode avançar com a medida.

"O processo de consulta é uma mera formalidade, uma vez que o Comité do IVA não pode aprovar ou rejeitar a medida sugerida", referiu fonte do Executivo comunitário ao JN/Dinheiro Vivo, lembrando que "antes de aplicarem taxas reduzidas em algumas áreas, nomeadamente no que se refere ao gás natural, à eletricidade ou ao aquecimento urbano, os estados-membros devem consultar o Comité do IVA da UE".

A única coisa que este organismo pode apontar são questões legais, "possíveis preocupações jurídicas em matéria fiscal causadas pela medida", suscitando problemas de incompatibilidade com o direito comunitário.

O processo de consulta com Bruxelas já arrancou em dezembro do ano passado, com uma carta do primeiro-ministro à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Na missiva, António Costa puxou do argumento do combate às alterações climáticas para defender a medida.

Em meados de dezembro, num debate quinzenal, o chefe do Governo indicou que enviaria uma "proposta concreta ao Comité do IVA para criar taxas diferenciadas de imposto baseadas nos níveis de consumo, com vista a desincentivar o consumo excessivo de eletricidade", reconhecendo que "não está em linha com os princípios tradicionais de neutralidade do sistema do IVA".

O país decide

No esclarecimento enviado ao JN/DV, a Comissão Europeia faz notar que "o processo de consulta deve ser claramente separado de qualquer eventual avaliação da medida noutros domínios do direito comunitário, por exemplo, auxílios estatais".

"A decisão de um Estado-membro de reduzir a sua taxa de IVA na eletricidade é efetiva, mesmo que o Comité do IVA não tenha sido consultado [e mesmo que tenha suscitado preocupações]", ou seja, Portugal pode avançar com a medida, estando sujeito a avaliação posterior. "Nesse caso, o Estado-membro poderá ser exposto se a validade da taxa for questionada perante os tribunais", avisa a Comissão.

Neste momento, o Governo espera pela decisão do Comité do IVA, mas a intenção é manter a medida. Não há calendário para avançar, ficando dependente do que Bruxelas disser.

Em todo o caso, a medida prevista no Orçamento do Estado (OE2020) para este ano é uma autorização legislativa, ou seja, no limite, pode até nem sequer entrar em vigor. As variáveis também se alteraram com a pandemia de covid-19.

Na Lei do OE2020, é referido que "o Governo [fica] autorizado a criar escalões de consumo de eletricidade baseados na estrutura de potência contratada existente no mercado elétrico, aplicando aos fornecimentos de eletricidade de reduzido valor as taxas" previstas no Código do IVA. O modelo exato para fazer a diferenciação de taxa consoante o consumo nunca foi clarificado, ou seja, como seria distinguido dentro da mesma potência contratada famílias com diferentes perfis de consumo.

Potência contratada
A redução do IVA para 6% na componente fixa de eletricidade e gás natural da potência contratada até 3,45 kVA entrou em vigor em julho do ano passado. Abrange três milhões de contratos, pelas contas do Governo.

Mercado livre
O número de consumidores que passaram para o mercado liberalizado de eletricidade continua a crescer. Em março, chegou aos 5,3 milhões de clientes, quase mais 10 mil do que no mês anterior. No mercado regulado permanecem cerca de um milhão de clientes.

Tarifa social do gás
No gás natural, mais de 34 700 consumidores beneficiavam do desconto no mês de março.

Tarifa social da luz
Em março deste ano, mais de 780 mil famílias beneficiavam do desconto na tarifa de eletricidade.