Trump sugere atirar em manifestantes, e Twitter inclui aviso sobre glorificação da violência

Presidente americano assinou decreto para reduzir proteções legais de empresas de tecnologia

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu em sua conta no Twitter nesta sexta-feira (29) atirar em manifestantes para impedir saques em meio à onda de protestos contra violência policial em Minneapolis.

Em resposta, o Twitter incluiu um aviso de que a mensagem promove a “glorificação da violência”, em uma escalada do embate entre o líder americano e a rede social.

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Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, na Casa Branca - Jonathan Ernst/Reuters

"Estes BANDIDOS estão desonrando a memória de George Floyd, e eu não deixarei que isso aconteça. Acabei de conversar com o governador Tim Waltz e disse que o Exército está com ele até o fim. Qualquer dificuldade e nós assumiremos o controle, mas quando começam os saques, começam os tiros", tuitou Trump.

A mensagem gerou indignação na rede social por sugerir o emprego de armas de fogo contra manifestantes.

O Twitter incluiu um aviso à mensagem de Trump, alertando que a mensagem “viola as regras do Twitter sobre a glorificação da violência".

"No entanto, o Twitter decidiu que pode ser do interesse do público que este post continue acessível”.

Virtual adversário de Trump na eleição presidencial de novembro, o democrata Joe Biden criticou inidiretamente o republicano em um vídeo no qual comentou o caso. "Este não é o momento para tuites incendiários. Não é o momento de encorajar violência. Isso é uma crise nacional e precisamos de uma liderança real agora", afirmou ele.

Esse é o episódio mais recente da rusga entre a rede social e Trump. Na terça-feira (26), a empresa incluiu pela primeira vez um aviso de desinformação em posts do líder americano.

A decisão irritou o presidente, que chegou a fazer ameaças de fechar companhias como Twitter e Facebook. Na quinta (28), assinou um decreto para reduzir proteções legais de empresas de tecnologia.

A cidade de Minneapolis, no estado americano de Minnesota, tornou-se palco de protestos após o assassinato de George Floyd, homem negro que teve o pescoço prensado contra o chão pelo joelho de um policial branco. Foram registrados saques e atos de vandalismo nas manifestações.

Um trecho da frase de Trump —"quando começam os saques, começam os tiros"— foi retirada de um pronunciamento feito em 1967 pelo então chefe da polícia de Miami, Walter Headley, um oficial branco.

O ex-militar ficou conhecido por implementar uma cultura de violência policial contra negros durante seu mandato, numa época na qual roubos à mão armada eram comuns em bairros de maioria negra na cidade.

Em uma entrevista coletiva, Headley anunciou que as forças de segurança de Miami usariam armas de fogo e cães no combate à violência, afirmando que "quando começam os saques, começam os tiros" —"when the looting starts, the shooting starts", em inglês.

Uma reportagem do jornal Miami Herald sobre o trabalho de Headley afirmou que ele teria dito a seus subordinados que o uso de qualquer método de força, inclusive a morte, era válido na abordagem de supostas contravenções.

Ele ficou no cargo durante 20 anos, período no qual se gabava de contratar policiais negros, embora apenas oficiais brancos fossem chamados de "policiais" —os negros eram "patrulheiros".