Cartas ao director

Os nossos bairros da Jamaica

Com 3 meses de pandemia às costas, chegamos agora a uma situação desafortunada, em que 70% da população do país já tem o problema praticamente resolvido - com valores decrescentes desde o início de Maio, até números quase residuais, mas em que na região de Lisboa e Vale do Tejo – onde estão os restantes 30% do país -, a contaminação recrudesceu até atingir valores de 85% dos totais, em completa oposição com o comportamento de acalmia do restante país.

As imagens do bairro da Jamaica chocam e entristecem-nos. Como é possível ter havido e haver dinheiro público – ou seja que é nosso mas que é gerido por outros, para tantas vaidades centralistas, com e sem asas, e não haver dinheiro para dar dignidade de vida aos portugueses mais desprotegidos. Queixávamo-nos dos bidonvilles de Paris e dos franceses. Queixámo-nos das favelas do Brasil e dos brasileiros. E não acorremos a construir habitações dignas, jardins e jardins-de-infância, escolas e centros de saúde, para os mais pobres de nós?

Que país é este em que a região mais rica é aquela onde há mais miséria? E porque se prefere esconder esta pobreza? Será por vergonha? Ou será por incómodo? Vamos agora segregá-los? Mas isto é por medo! Vai o Presidente correr para lá?

Há que tomar decisões de âmbito nacional para terminar com estas situações de enorme infelicidade, em que certamente todas as regiões se empenharão com vontade e sem preconceitos. O Papa Francisco, que não se cansa de dizer para não termos medo, adiou a visita ao país. Teria sido uma vergonha para nós.

António Matos, Viana do Castelo

​Atendimento público

Fui contactado telefonicamente no dia 26 de Maio propondo-me o levantamento do cartão de cidadão (que estava previsto ser levantado na Loja do Cidadão das Laranjeiras) na Av. Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, com data e hora marcada. Propuseram-me o dia de ontem, 28 de Maio, às 8h50m. Tive o cuidado de perguntar se teria de estar numa fila. Responderam-me que não haveria fila e no local estaria alguém para me indicar onde me dirigir. Para meu espanto, quando cheguei ao local cinco minutos antes da hora marcada e me dirigi ao segurança mostrando o agendamento feito, foi-me pedido para ir para o final de uma das duas filas, de cerca de 20 pessoas cada, sem que se verificasse qualquer distanciamento social. Como é evidente, retirei-me imediatamente do local.

Considero inadmissível que seja feito um contacto com indicações precisas de data, hora e local, para afinal sermos colocados numa fila que duraria no mínimo duas horas a escoar. É também inadmissível que na situação actual se permita a existência junto a serviços públicos de filas de pessoas sem qualquer preocupação de manter o distanciamento social. Com a prevista abertura das Lojas do Cidadão a partir de 1 de Junho, é de temer o pior, mesmo com agendamento prévio que, como pude verificar, não funciona.

Fernando Parente, Lisboa