https://assets.folhavitoria.com.br/images/50a34bf0-4ae0-0138-78f1-0a58a9feac2a--minified.jpeg
Foto: Divulgação/Pexels

Quase metade dos trabalhadores do setor de eventos no ES foram demitidos com a pandemia

A estimativa é do Sindiprom-ES, que representa as empresas de eventos no estado. Artistas e produtores culturais têm amargado prejuízos após a suspensão das atividades do setor, um dos primeiros a ser afetado pela pandemia

by

Entre os segmentos econômicos mais afetados pela pandemia do novo coronavírus está o setor de eventos, um dos primeiros a paralisar as atividades e possivelmente um dos últimos a voltar ao normal. Com a suspensão de shows, festas e outros eventos de arte e música, os profissionais do setor seguem amargando prejuízos.

No Espírito Santo, o Sindicato de Empresas de Promoção, Organização e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos em Geral do Espírito Santo (Sindiprom-ES) estima que quase a metade dos trabalhadores do segmento de turismo de negócios e eventos tenha sido demitida desde o início da pandemia.

A Secretaria de Estado da Cultura (Secult) não tem números exatos, mas divulgou um dado do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), de que 179 mil pessoas viviam da economia criativa no Espírito Santo até o primeiro trimestre de 2020, setor que também engloba a classe artística.

Em todo o país, segundo dados da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape), cerca de 580 mil trabalhadores do setor foram demitidos.

Quem tem sofrido com a suspensão dos eventos é o compositor e produtor musical Marcelo Kaju. Ele estava acostumado com a agenda cheia, e antes da pandemia fazia mais de dez eventos por mês, entre apresentações em casas de show, casamentos e formaturas. O músico conta que sua renda girava em torno de R$ 4 mil e R$ 5 mil por mês.

"Sinceramente, eu esperava que em junho eu estivesse trabalhando. Caiu a minha agenda de junho, de julho, caiu a de agosto. Eu tenho um show dia 24 de outubro. É o único que ainda tem, que era um de março e que foi para 24 de outubro, mas que a noiva também está pensando seriamente em adiar. Infelizmente, eu tenho pouca esperança de trabalhar esse ano. Gostaria muito de, em novembro, já ter passado isso", afirmou.

Atualmente, com a pandemia do novo coronavírus, a renda de Marcelo vem de lives e da antecipação de direitos autorais pelas gravadoras. No entanto, os valores não chegam nem perto do que ele recebia.

"Eu também sou compositor, então nesse momento eu posso pedir ajuda para a Sony, posso pedir ajuda para a Amar, que é a minha associação. Então quando o bicho pegar eles podem fazer adiantamentos para pagar lá na frente. Isso ajuda e facilita para caramba. Mas nem todo mundo tem uma associação e nem todo mundo trabalha na parte de composição, o que torna mais complicado", frisou.

O produtor de eventos Eduardo Pagani também sente na pele os efeitos da pandemia no setor. Ele é proprietário de uma grande empresa de eventos e, com as atividades paralisadas há quase três meses, se viu obrigado a suspender contratos e até demitir funcionários.

"A gente tem vários eventos programados, planejados, com tudo fechado já. A gente teve que desmarcar e foi meio corrido, meio em cima. A gente não esperava que ia ser tão rápido. A gente teve que demitir alguns funcionários, suspender contratos de outros. As casas vivem só para eventos, então elas estão fechadas", contou.

Segundo o empresário, o futuro do setor é incerto e preocupante. "A gente acredita muito que, quando voltar — que a gente ainda não sabe a data exata —, a gente vai se reinventar para poder voltar com força total. Até porque, quando voltar, não vai voltar exatamente como era antes. A gente vai ter toda uma norma a ser seguida, que a gente não sabe qual é, como vai ser exatamente ainda", ressaltou.

Lei Aldir Blanc

Nesta semana, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto chamado Lei Aldir Blanc, que prevê socorro financeiro de R$ 3 bilhões para o setor cultural. Se passar também no Senado e for sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, a lei vai garantir o repasse do dinheiro para estados e municípios, que vão aplicar os recursos em editais, prêmios e outros instrumentos de fomento à cultura, e também poderão fazer transferência direta de renda para os artistas.

Dos R$ 3 bilhões previstos no projeto, metade é para os estados e o Distrito Federal. A outra metade vai para os municípios. Com isso, será possível oferecer um auxílio emergencial de R$ 600 por mês, durante três meses, para os artistas, igual ao que é pago pelo governo federal aos trabalhadores informais.

Além disso, os governos estaduais vão poder repassar entre R$ 3 mil e R$ 10 mil por mês para 25 tipos de espaços culturais, incluindo teatros, circos, escolas de dança, de capoeira, museus, entre outros.

"O setor todo de eventos está muito afetado. Então qualquer ajuda é bem quista, porque a gente não sabe quando vai poder voltar. A gente não sabe qual é o tamanho desse prazo da pandemia", afirmou Pagani.

"A medida 1.075 é maravilhosa. Agora vamos ver se ela realmente vai funcionar e vai, de alguma forma, ser atendida, porque não pode ficar só no papel", destacou Marcelo Kaju.

Com informações do repórter Alex Pandini, da TV Vitória/Record TV