Pacientes com covid-19 relatam experiência dos dias em que passaram entubados na UTI
Ao todo, mais de 7 mil pessoas já conseguiram vencer a doença no Espírito Santo, segundo a Secretaria de Estado da Saúde
by Folha VitóriaSe por um lado o novo coronavírus já causou a morte de 538 pessoas no Espírito Santo, segundo informações mais recentes da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), por outro 7.012 pessoas conseguiram vencer a covid-19 e já estão restabelecidas.
Em alguns desses casos, a pessoa chegou a ser encaminhada para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por apresentar a forma grave da doença, e precisou passar dias no local. Entretanto, no final, saiu vitoriosa da batalha contra o vírus.
É o caso do chef de cozinha e apresentador da TV Vitória, Alessandro Eller, que passou 28 dias internados em um hospital, após ser infectado pelo coronavírus. Nesse tempo, foram 14 dias lutando pela vida, respirando com a ajuda de aparelhos. Ele conta que, do período em que ficou em coma, tem lembranças que transitam entre a realidade e a ficção.
"Eu ficava ali num sonho. Quando você está no coma, você fica meio que numa realidade criada por você, na sua cabeça. Então eu ficava num sonho, pensando diversas coisas, e misturava um pouco de realidade com meu sonho, com aquilo que as pessoas falavam comigo, também junto do meu sonho. E eu não tinha muita precisão de quantos dias eu estava ali realmente em coma", lembra.
Após retirar os tubos, Alessandro ainda ficou internado, mas já não corria mais riscos. A família toda foi contaminada pelo coronavírus, mas apenas ele teve os sintomas mais graves. "Todos com sintomas leves. Eu, infelizmente, tive evolução muito ruim com ela", lamentou o apresentador, que, desde que recebeu alta hospitalar, vem passando por sessões diárias de fisioterapia para recuperar o fôlego e fortalecer o pulmão.
A dona de casa Simone Dias da Neiva também sofreu muito ao passar pelo coronavírus. Ela conta que ficou 23 dias internada na UTI, dependendo da ventilação mecânica para sobreviver.
Com 47 anos, ela não tem comorbidades, mas diz que está acima do peso. Simone conta que, ao despertar do coma, não tinha ideia de que havia passado tanto tempo desacordada. "Perguntei à enfermeira que dia era do mês, porque, na minha cabeça, eu tinha dormido um dia só. Mas na verdade eu estava há vários dias em coma", lembra.
Por causa do excesso de tempo entubada, Simone precisou fazer traqueostomia. Ela conta que foram dias difíceis para ela e a família, mas sente que agora renasceu. "Para todas as famílias que estão passando pelo que eu passei, que não desistam! Que se apeguem a Deus, porque acima dos médicos tem um Deus, que vem em primeiro lugar. Acima de tudo tem Deus", afirmou.
O sentimento também é compartilhado por Alessandro Eller, que enxerga na recuperação uma nova chance. "Tem muita gente passando muito mal, tem muita gente falecendo devido a essa doença. Então é importante você se cuidar. E aquele que está doente, importante, é claro, ter fé, acreditar em Deus e superar. Você pode superar essa doença, vencer essa doença, e logo logo poder agradecer a Deus por essa vitória", declarou.
Casos graves
Pacientes como Alessandro Eller e Simone Dias da Neiva evoluem para a falta de ar, um dos sintomas da covid-19. Com isso, precisam da ajuda de aparelhos para continuar respirando e ficam por 10 a 14 dias, em média, em estado grave. No entanto, os médicos são cuidadosos ao dizer: ser entubado não é uma sentença de morte.
"A gente sabe que as taxas de mortalidade são um pouquinho altas nos pacientes que são internados com a forma grave da doença, mas uma grande parte também se recupera e também volta. Consegue a extubação, consegue desmamar da ventilação mecânica e consegue se recuperar da doença, de forma que a pessoa adquire uma certa imunidade e consegue viver a vida normal depois da doença. Então muita gente se recupera, principalmente se tiver o atendimento precoce e o suporte de ventilação mecânica", destacou o médico intensivista Vitor Dalla.
Durante entrevista nesta quarta-feira (28), o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, chegou a dizer que aproximadamente dois terços dos pacientes entubados acabam morrendo. "Ainda que tenhamos 2 ou 3 mil leitos de UTI, nós não queremos que pessoas morram. Dois terços das pessoas que são entubadas, que evoluem para ventilação mecânica, evoluem a óbito, e isso é muito grave", ressaltou o secretário.
No entanto, de acordo com Vitor Dalla, que atende hoje cerca de 200 pacientes no hospital Jayme Santos Neves, referência para a covid-19 na Serra, esses são casos de pessoas que normalmente já possuem doenças pré-existentes.
"A gente sabe que paciente obeso tem maior pretensão a diabetes, tem maior pretensão a hipertensão não controlada. Então a gente se cuidar, tentar ter uma rotina de vida um pouquinho mais saudável, uma alimentação mais saudável, tudo isso faz com que a gente tenha menores fatores de risco para evoluir de forma ruim", frisou o intensivista.
Com informações da jornalista Andressa Missio, da TV Vitória/Record TV