Diário da Quarentena - XLII
Vicente Serejo
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Créditos: Divulgação
Na história, mesmo ainda em curso, da Operação Lava Jato, são três as suas pulsações mais fortes: a prisão de Luís Inácio Lula da Silva, por sua magnitude de ex-presidente e maior líder popular; a prisão do ex-presidente Michel Temer, um professor de Direito Constitucional nas relações sombrias com o Caso JBS; e agora a operação no Rio, impondo grave suspeição sobre o governador Wilson Witzel, um magistrado e no segundo maior centro urbano do país.
O espetáculo que aconteceu no Rio não se pode atribuir a um gesto meramente policial. A Polícia Federal é de natureza intrinsecamente judiciária e só atua em operações desse porte sob autorização expressa da Justiça. E a Justiça, sejamos claros, não teria autorizado uma busca e apreensão em tão larga e profunda escala se não dispusesse de gravíssimos indícios levando a ação policial aos palácios administrativo e residencial do segundo maior governo estadual.
Há dois panos de fundo nesse palco: um escândalo de corrupção que fere o coração de um governador que foi eleito no rastro de uma missão clara dada pelo eleitor carioca diante de um juiz - varrer o passado desastroso do ex-governador Sérgio Cabral, preso com mais de cem anos de condenação por avalanches de crimes que destroçaram as finanças do Rio até hoje; e a desestabilização do maior crítico de Jair Bolsonaro, além de João Dória, o governador de SP.
O fato, por sua própria magnitude e ainda que tenha longo percurso jurídico a percorrer, desmantela qualquer princípio de autoridade que parecia sustentar com solidez e concretude a imagem do governador carioca. Um líder com sinais declarados de autoritarismo que chegou a defender o extermínio generalizado de bandidos e que saltou de um helicóptero na Ponte Rio-Niterói saltitando com a execução do sequestrador quando cabia a um juiz lamentar o inevitável.
Não se pode esquecer que o governador Wilson Witzel, mesmo legitimado pelo voto do Rio de Janeiro, é produto de fenômeno e não de tradição política. Um passageiro astuto e ágil que soube surfar rápido no fenômeno Jair Bolsonaro - que hoje se declara traído por Witzel e Dória - e com um agravante: fez de sua toga uma capa de justiceiro e conquistou a principal poltrona do Palácio do Governo, no Rio, e, bem pior, como um juiz em nome da lei e da ordem.
O episódio prova que as novas siglas partidárias não cumprem o que seus enunciados pregam. São oportunistas. As siglas tradicionais resistem as crises e suportam grandes impactos garantidas pelo caldo de cultura mais forte que a tempestade. Ou o PSC prova sua inocência na acusação de R$ 800 milhões de corrupção no Rio, ou não terá como abrir sua boca para dizer que é partido social e muito menos cristão, se tomou da dor e da morte do seu próprio povo.
TROZOBA - O presidente Jair Bolsonaro não abre mão de sua linguagem chula, bem típica da gíria de quartel. Tanto que usou a expressão ‘trozoba’, como o que querem enfiar no governo.
EXISTE - ‘Trozoba’ não há no ‘Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”, da Academia Brasileira de Letras”, guardiã das palavras. Mas há no registro da oralidade popular do Google.
VALE - Sabe-se: o uso corrente vale até como forma de dicionarização, e, dado que nem todos sabem, Sua Excelência usou ‘trozoba’ como a forma de referir ao tamanho avantajado do pênis.
ALERTA - Grave e necessária a advertência feita ontem, nesta TN, pelos deputados Vivaldo Costa e Getúlio Rego. Com anos e anos de janela, eles sabem que a CPI pode virar um palanque.
ALIÁS - O risco é ainda maior durante uma grave pandemia, quando o Legislativo não pode cair na tentação do oportunismo dos que surfam como uma forma de ganhar espaços nas mídias.
TEIMOSIA - A Itália e a França, foi notícia ontem, proibiram o uso da hidroxicloroquina para pacientes portadores do Coronavírus. Mas há plano de saúde em Natal distribuindo com receita.
DÚVIDA - A essa altura, mantida a distribuição mediante receita medica, é transferir para seus médicos a responsabilidade da pessoa jurídica ou, então, levar a medicina a duvidar da ciência.
FEIO - Segundo o noticiário sobre o escândalo de corrupção no Rio, a advogada e mulher do governador Wilson Witzel teria recebido R$ 350 mil do PSC. Isto não é coisa de partido cristão.
RISCO - Esta coluna tem reclamado, anos e anos, da facilidade da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa na concessão de títulos de cidadania natalense e norte-rio-grandense ao sabor de desejos particulares de parlamentares com os seus egos, interesses e até compadrios.
CASOS - Há, na história recente e mais recente, dois exemplos desastrosos da sofreguidão na concessão do que há de mais valioso que é fazer parte da nossa história: os títulos concedidos ao médico Roger Abdelmassih e ao governador do Rio de Janeiro, magistrado Wilson Witzel.
CASSAR - A coluna sugeriu a cassação do título de Abdelmassih por não ser médico, mas um monstro, já julgado e condenado. Não foi ouvida. Mesmo assim, sugere a cassação do título de Witzel, se julgado e condenado. Só os monstruosamente autoritários não esperam o julgamento.