Após novo incômodo com STF, Bolsonaro convoca ministros para discutir estratégia de reação à Corte

Depois de mais uma ação do Supremo Tribunal Federal (STF) que provocou desconforto no governo, o presidente Jair Bolsonaro convocou ministros para uma reunião na tarde desta quarta-feira no Palácio do Planalto. Um dos objetivos é discutir uma estratégia de reação à operação determinada pela Corte que atingiu deputados aliados, empresários e blogueiros bolsonaristas, todos suspeitos de integrar uma rede de disseminação de notícias falsas.

A operação da Polícia Federal (PF) foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news. A investigação foi aberta no ano passado e busca desvendar financiadores e operadores do esquema.

O encontro não estava previsto na agenda oficial do presidente, e a lista de participantes ainda não foi divulgada. Ministros da área jurídica do governo, como André Mendonça (Justiça e Segurança Pública) e José Levi (Advocacia-Geral da União), foram chamados ao Palácio do Planalto. Ministros da ala militar, como Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), também estão entre os participantes.

Bolsonaro já demonstra publicamente a insatisfação com o STF desde a suspensão da nomeação do delegado Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal, também determinada por Alexandre de Moraes. Na ocasião, o presidente ironizou o ministro ao afirmar que ele havia sido escolhido para a Corte por ser amigo do ex-presidente Michel Temer, responsável pela indicação. Na semana passada, Bolsonaro também se rritou com um despacho em que o ministro Celso de Mello encaminhou à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma ação protocolada por deputados em que havia um pedido de busca e apreensão do celular do presidente.

Celso de Mello ainda foi responsável por tornar público o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, apontado pelo ex-ministro Sergio Moro como uma prova de interferência de Bolsonaro na PF. No fim de semana, o presidente sugeriu que o decano da Corte cometeu crime previsto na Lei de Abuso de Autoridade ao divulgar a íntegra da reunião.

Na reunião ministerial que teve o conteúdo revelado, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, chamou ministros do STF de “vagabundos” e disse que deveriam ser presos. Mesmo com a situação complicada – o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (PMDB-PE), chegou a defender publicamente a demissão –, Weintraub se mantém no cargo.

Antes de convocar a reunião para alinhavar a resposta ao Supremo, Bolsonaro visitou nesta manhã o presidente da Corte, Dias Toffoli. O ministro está internado em um hospital de Brasília e se recupera de uma cirurgia.

Na operação de hoje, foram cumpridos 29 mandados de busca e apreensão. O ex-deputado Roberto Jefferson, o empresário Luciano Hang e o blogueiro Allan dos Santos foram alguns dos alvos. Também foi determinada a quebra de sigilo bancário e fiscal de quatro pessoas, como Hang e o empresário Edgard Corona, da Smart Fit.

Também são investigados no inquérito os deputados federais Bia Kicis, Carla Zambelli, Daniel Silveira, Filipe Barros, Cabo Junio Amaral e Luiz Philippe de Orléans e Bragança, todos do PSL. Eles deverão ser ouvidos pela PF.