Maioria dos estados já tem mais de 70% de ocupação de UTI para Covid-19
No Ceará, Amapá e Pernambuco, lotação está acima de 90%; governadores começam reabertura
Pela primeira vez desde a eclosão da pandemia do novo coronavírus no Brasil, a maioria dos estados brasileiros registra uma ocupação maior que 70% dos leitos públicos de terapia intensiva para o tratamento da Covid-19.
Levantamento da Folha aponta que 17 dos 26 estados já têm pelo menos sete de cada dez leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ocupados. Em três deles —Ceará, Amapá e Pernambuco— a ocupação está acima de 90%.
O avanço do número de pacientes graves acontece no mesmo momento em que parte dos estados anuncia medidas de abertura gradual do comércio e de outros setores da economia, caso de São Paulo, Ceará e Maranhão.
Mesmo nos estados que adotaram medidas restritivas mais rígidas e bloqueio total em algumas cidades, caso de Pernambuco, Maranhão, Pará e Rio de Janeiro, o número de pacientes graves internados permanece em patamares considerados preocupantes.
Em Pernambuco, onde a taxa de ocupação oficialmente divulgada é de 97%, o tamanho da fila de pacientes com síndrome respiratória aguda grave que aguardam uma vaga de UTI nos hospitais da rede estadual de Pernambuco diminuiu 26% em três semanas.
No dia 4 de maio, 256 doentes esperavam por um leito, número que caiu para 190 nesta quarta-feira (27). Ainda há casos de infectados pelo novo coronavírus que aguardam a transferência há mais de duas semanas.
No Rio de Janeiro, a abertura de uma nova ala no hospital de campanha do Maracanã na última sexta (22) aliviou um pouco a situação. A ocupação dos leitos de terapia intensiva estaduais, que era de 90% há uma semana, passou para 82% nesta terça.
Parte das 160 vagas abertas ali, porém, deve ser rapidamente ocupada nos próximos dias, já que o estado tem uma fila de 286 pessoas aguardando transferência. Seis hospitais de campanha fora da capital ainda não foram inaugurados —um deles vai começar a receber pacientes nesta quinta.
No estado de São Paulo, 4.779 pacientes estavam em leitos de UTI com Covid-19 nesta terça, com uma ocupação de 74% das vagas disponíveis.
Na capital paulista, segundo o prefeito Bruno Covas, a ocupação de leitos de terapia intensiva nesta terça era de 85%. Há mais de três semanas, o índice tem se mantido entre 85% e 92%.
O governo de São Paulo afirmou que dobrou o número leitos de UTI no estado, passando de 3.600 para 7.200. Além disso, sete hospitais de campanha foram abertos: quatro na capital paulista e três no interior.
A queda na taxa de ocupação de leitos é um dos critérios observados para a retomada da economia —os demais são respeito ao índice de isolamento social de, no mínimo 55%, controle do número de casos e mortes de Covid-19 e de internações.
Na nova fase do Plano São Paulo, anunciada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), as cidades da Grande São Paulo e o litoral não terão relaxamento da quarentena. Na capital paulista, será permitida a abertura do comércio (com restrição de horário), de concessionárias, de escritórios e de imobiliárias.
O Ceará é outro estado que deve começar a adotar medidas de relaxamento do isolamento social a despeito de registrar uma ocupação de 91% dos 661 leitos de UTI para Covid-19.
Nesta terça, o governador Camilo Santana (PT) anunciou o início de uma reabertura gradativa da economia a partir de 1º de junho. A retomada será em fases, mas os setores e regiões contempladas ainda não foram anunciados.
O mesmo já começou a acontecer no Maranhão, que tem 89% dos leitos para pacientes graves ocupados. O governador Flávio Dino (PCdoB) autorizou a abertura, a partir desta segunda-feira (25), de empresas exclusivamente familiares, na qual trabalham apenas o proprietário e pessoas de sua família.
A expectativa é de que outros setores da economia tenham a sua abertura autorizada a partir da próxima semana. De acordo com o governo, a retomada será gradual e seguirá protocolos sanitários como o uso de máscaras e distanciamento social.
O estado, que decretou confinamento obrigatório por 12 dias em São Luís e mais três cidades nos arredores, viu sinais positivos da medida, que chegou ao fim no dia 17 de maio. A ocupação dos leitos de UTI na capital, por exemplo, caiu de 100% para 86% na última semana.
O Rio Grande do Sul adotou um protocolo de reabertura da economia há um mês. Contudo, segue com uma ocupação crescente dos leitos de terapia intensiva, chegando a 71% nesta terça, número que também inclui os hospitais privados.
A ocupação ajuda a calcular o risco da Covid-19 no modelo de bandeiras que flexibilizam as atividades econômicas no estado. Antes, o número de casos confirmados da doença era considerado. Mas o governo entendeu que regiões que testam mais acabavam penalizadas pelo modelo.
Em situação relativamente mais tranquila, outros nove estados e o Distrito Federal estão com a ocupação abaixo de 70%.
O Distrito Federal ampliou sua rede de leitos de UTI para a Covid-19 na medida em que crescem os casos de pacientes graves. A unidade da federação busca manter a taxa de ocupação desses leitos especiais abaixo de 50%. Por isso, na última semana, foram inaugurados 70 novos leitos de UTI.
Nesta terça-feira (26), 121 leitos de terapia intensiva para Covid-19 estavam ocupados. Mesmo o avanço do número de pacientes graves, o DF segue em seu processo de abertura da economia.
Depois de autorizar o funcionamento do comércio, os shoppings e centros comerciais foram autorizados a funcionar em horário reduzido a partir desta quarta-feira (27).
Com um acréscimo de 67 UTIs da rede privada graças a uma ação de confisco de leitos pelo estado, o Tocantins chegou a 121 UTIs disponíveis para tratamento da Covid-19. A taxa de ocupação atual é de 19%.
Mato Grosso apresentou alta no total de pacientes internados em UTIs destinadas a Covid-19, mas manteve a ocupação em 13% devido à implantação de 48 novos leitos na última semana. São 34 os pacientes internados, ante os 28 da semana anterior.
Estado que está em último na lista de casos confirmados da Covid-19, Mato Grosso do Sul continua com uma situação confortável, com apenas 3,3% das 296 UTIs exclusivas para pacientes da doença ocupadas. Em Campo Grande não há registro de internações na rede pública nesse tipo de leito.