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Ainda não está tudo bem

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Aos poucos, a normalidade parece estar a ser reposta e as correrias do dia-a-dia voltam a ganhar forma. As ruas começam a encher-se de gente (com máscaras) e de carros, as distâncias de segurança ganham novas formas e as lotações nos espaços comerciais e serviços obrigam a esperas quase infindáveis. O toque e o contacto social a que estávamos habituados dá agora lugar ao “olá” a, pelo menos, dois metros de distância.

Apesar destas novas formas de convivência, a expressão “Vai ficar tudo bem”, pintada em milhares de arcos-íris desde o início do confinamento, aparenta fazer sentido, mas estará efetivamente tudo bem?

A resposta é evidente: Não! Além da falta de contacto social, a que todos nos habituámos desde tenra idade, a pandemia deixou marcas na economia, sobretudo naquela que está dependente do cliente final e da confiança de quem circula nas ruas e está habituado a admirar montras, por exemplo. O comércio local é, portanto, uma das faces da moeda que mais tem sentido que não está mesmo tudo bem.

As limitações trazidas pelos planos de desconfinamento do governo impõem a redução da lotação em restaurantes, cafés, cabeleireiros e lojas, o que se traduzirá, inevitavelmente, em perdas significativas de negócio ao final do dia e, por conseguinte, uma ameaça direta à sua sustentabilidade.

Com ordenados para pagar no final do mês, a que se juntam as despesas correntes dos estabelecimentos, é necessário criar alternativas para que o comércio tradicional resista a este embate.

Foi, aliás, a pensar no comércio tradicional e nas dificuldades que o confinamento social e as sucessivas declarações de estado de emergência criaram que, no seio do movimento tech4COVID19, desenvolvemos o projeto Preserve.pt. A plataforma, desenvolvida por um grupo de voluntários que não se conheciam até se juntarem no projeto, permite que os consumidores contribuam diretamente para a solução dos comerciantes, através da compra de vouchers para utilizar mais tarde. A dinâmica é simples e permite entrada imediata de dinheiro nas contas dos comerciantes.

Desde o seu lançamento, a plataforma conquistou espaço e atenção, tendo conseguido o apoio de marcas como a Super Bock, a L’Oreal, a Energia Simples, a Cosmenatura, a AGEAS, Keep Warranty, assim como a MBWay. Da proposta de valor, com grande parte destas marcas, passou a fazer parte o reforço dos vouchers comprados pelos consumidores: em vouchers de X euros comprados, o consumidor foi premiado com Y, o que se traduziu na entrada direta da soma dos valores na conta dos comerciantes.

Se durante o período de confinamento os apelos para ajudar o comércio ganhavam expressão, agora, que entramos na segunda fase de desconfinamento, a mensagem deve ser reforçada: ainda não está tudo bem e o comércio, apesar de começar a abrir as suas portas, continua a necessitar do apoio dos consumidores. Não só porque as contas continuam a ter que ser pagas e os postos de trabalho assegurados, como também viram a capacidade de gerar negócio diminuir por força das circunstâncias, como lotações reduzidas, falta de confiança dos consumidores para sair às ruas, entre outras.

Sabemos que as receitas criadas através da Preserve.pt não são suficientes para mitigar as dificuldades dos comerciantes, mas acreditamos que fazemos parte da solução para mais de 1500 comerciantes aos quais já ajudámos a chegar mais de 70 mil euros. Sabemos que nosso contributo é limitado, mas que “grão a grão, enche a galinha o papo”.

Daniela Pereira é voluntária do projeto Preserve