Curador do Prêmio Jabuti renuncia após minimizar mortes por Covid-19

Carta com mais de 5.000 assinaturas pedia demissão do editor Pedro Almeida

O editor Pedro Almeida, curador do Prêmio Jabuti, renunciou nesta quarta-feira (27) a seu posto no troféu literário, anunciou a Câmara Brasileira do Livro, a CBL, em comunicado à imprensa.

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O editor Pedro Almeida, que renunciou ao posto de curador do Prêmio Jabuti - Mathilde Missioneiro/Folhapress

No domingo (24), em post em seu perfil no Facebook, Almeida minimizou as mortes causadas pela Covid-19 no país, o que gerou uma carta com mais de 5.000 assinaturas pedindo seu afastamento do Jabuti.

Iniciando o texto com a frase “alguém está mentindo para você”, Almeida afirmava que o número de mortes por doenças no país registrados em cartório nos meses de março e abril do ano passado foram muito superiores aos deste ano, já com a pandemia.

“Estou negando a importância de cuidados com a saúde? Não! Estou falando que não há um dado claro que indique a necessidade de parar com o país e ferrar a economia por uma mortandade de pessoas, porque não há aumento desses óbitos”, escreveu ele. Almeida apagou a publicação, mas imagens do texto começaram a circular pelas redes sociais e entre escritores e editores.

Uma reportagem publicada pela Folha há cerca de dez dias mostrou, no entanto, que as bases de dados dos cartórios utilizada por Almeida em sua publicação não são confiáveis. Isso porque as informações das últimas semanas são defasadas. Além disso, os dados de anos anteriores tampouco são confiáveis, prejudicando uma comparação com 2020.

A carta de protesto contra ele dizia que Almeida, que também é sócio da Faro Editorial, estava “moralmente desautorizado para o cargo”.

Em suas redes sociais, Pedro Almeida chegou a publicar uma retratação nesta segunda-feira (25). "Fiz um post com dados incorretos", escreveu. "Foi criado um manifesto afirmando que sou contra o isolamento. Está equivocado. Não sou contra o isolamento, não nego o vírus nem seu potencial. Ao contrário, me preocupo com ele e recomendo a todos que mantenham o distanciamento social o máximo que puderem."

Segundo Almeida, suas opiniões não são estavam relacionadas ao Jabuti. "Sou livre para pensar e me expressar. Não aceito censura", afirmou. "O prêmio não tem nada a ver com o meu post."