Liberação de Doria para reabertura apenas na capital gera revolta na Grande SP
Até prefeitos aliados do tucano questionam decisão e há quem fale em anunciar reabertura nesta sexta (29)
A liberação para reabertura dos comércios na capital paulista gerou revolta em prefeituras de cidades da Grande São Paulo.
A região metropolitana foi incluída, junto com o litoral, em uma zona vermelha, com proibição de flexibilização da quarentena, segundo protocolo divulgado nesta quarta (27) pelo governo João Doria (PSDB). A capital paulista ficou de fora dessa zona, após tensão entre a gestão Bruno Covas (PSDB) e o governo Doria.
Aliado do governador João Doria, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), cobrou isonomia na decisão do governo.
"Eu estou seguindo a regra da ciência, desde que surgiu a pandemia. Recebi [o protocolo] com profunda surpresa, quando a cidade de São Paulo, que está inserida na região metropolitana, foi feita apartada", afirma Morando.
Ele diz que os índices de São Bernado, isoladamente, são melhores que os de São Paulo. Citou como exemplo a ocupação de vagas em UTI, de 70% —a da capital é de 85%.
Segundo Morando, a lógica utilizada para a Grande SP foi fazer uma média de todos os municípios. "Não tem coloração partidária quando se trata do vírus. A briga aqui não é política. Se é para seguir a ciência, quero que prove por que São Paulo pode sair da quarentena", disse ele, que pretende se reunir com o Ministério Público para tratar do assunto.
Na opinião dele, a capital deveria ser mantida na zona vermelha, até para não prejudicar as demais cidades do ABC.
A entidade que reúne prefeituras da região do ABC afirmou que recebeu com profunda surpresa e indignação o novo conjunto de regras para quarentena anunciado pelo governador.
"O Consórcio Intermunicipal Grande ABC, representado pelas sete cidades da região, esclarece que recebeu com profunda surpresa e indignação, nesta quarta-feira (27), o comunicado feito pelo Governo do Estado de São Paulo de que a cidade de São Paulo teve uma análise separada da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) na nova fase do plano de retomada econômica do estado", diz a nota.
"Vale lembrar que o Departamento Regional de Saúde (DRS1), responsável por cuidar do planejamento das ações do setor na RMSP, é o mesmo que cuida das diretrizes da Capital. O Consórcio Intermunicipal Grande ABC, através dos seus entes, irá se certificar do motivo dessa análise separada da capital e voltará a se reunir na próxima sexta-feira (29), por videoconferência, às 10h, com os prefeitos da região", acrescenta o comunicado.
A prefeitura de Guarulhos também afirmou ter visto a decisão com estranheza. Apesar de estar na zona vermelha, a gestão de guarulhense afirma ainda que anunciará novas regras para reabertura no dia 29.
"O prefeito de Guarulhos, Guti (PSD), recebeu com estranheza os critérios utilizados para liberar apenas a Capital, em detrimento dos demais municípios da Região Metropolitana. Ele informa que Guarulhos apresenta índices de casos confirmados e mortes, proporcionais à população, muito inferiores aos registrados em São Paulo", afirma nota da prefeitura.
A administração afirma que já tinha um plano de flexibilização, "cuja segunda fase se iniciaria em 8 de maio passado, mas que não foi colocado em prática para respeitar a orientação do estado para que todos os municípios da RMSP atuassem em bloco".
No Palácio dos Bandeirantes, a reação dos prefeitos também foi vista com surpresa por alguns, uma vez que os secretários e prefeitos participam de reuniões em que são tratadas as decisões do governo.
A gestão Covas sustenta que fez a lição de casa no combate ao vírus e conseguiu manter a doença controlada.
Nesta semana, índice de reprodução do vírus (Rt) da cidade, que indica para quantas pessoas cada infectado transmite a doença, estava em 1.1, enquanto o do estado, incluindo o interior, chega a 1.7.
A gestão atribui isso às medidas tomadas na capital, como um megaferiado, e outras logo abortadas, como o megarrodízio que tirava metade da frota das ruas e os bloqueios em corredores da cidade.
Outro dado que a gestão apresenta como exemplo de que fez a lição de casa é a criação de mais 1.007 leitos de UTI na cidade, triplicando os cerca de 500 existentes. Além disso, dois hospitais de campanha foram abertos, e as vagas de enfermaria foram ampliadas em outras unidades.
Com isso, os índices de ocupação de UTI têm permanecido abaixo de 90% —atualmente, em 85%. Os índices de isolamento cresceram ligeiramente após caírem.