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© Mladen ANTONOV / AFP

Encontrada a vacina novo problema. Como se vacinam 6 mil milhões de pessoas?

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Encontrar a proteção não resolve a pandemia, diz o diretor de um ensaio clínico que aponta o prazo de um ano para termos milhões de doses disponíveis. E como se escolhe quem vacinar?

Existem já dez potenciais vacinas contra a covid-19 a serem testadas em seres humanos - com mais 110, pelo menos, também em investigação. O número de laboratórios a tentar fabricar uma vacina contra a doença não para de crescer. Mas existe uma, que poderá parecer ficção cientifica, que talvez venha mesmo a resultar. Se assim for, será pioneira, porque será a primeira vacina a usar o ADN do próprio vírus a ser licenciada. Um médico espanhol dirige o ensaio clínico.

Chama-se Pablo Tebas e está à frente, nos EUA, do ensaio desenvolvido no laboratório Inovio, uma empresa de biotecnologia que está a apostar numa nova tecnologia que será revolucionária se vier a resultar. Porquê?

Porque, ao contrário do que acontece com a maioria das potenciais vacinas que estão a ser desenvolvidas, neste caso é realizada uma injeção direta do ADN do próprio vírus - cultivado por cientistas - no interior das células, para que estas produzam anticorpos capazes de bloquear o vírus.

Tanto o Inovio quanto a Moderna estão a optar pelo uso de novas tecnologias baseadas na alteração ou manipulação de material genético. O laboratório Inovio estima produzir um milhão de doses da vacina até o final de 2020, lê-se no site da farmacêutica.

Ao El País, o médico que dirige o ensaio clínico - já na fase 2 - explica-o de forma sucinta: "Tornamo-nos a fábrica da proteína que nos imuniza".

Já funcionou em ratos e macacos. Será segura para as pessoas?

Se vier a dar resultados, a INO-4800 - o nome que a vacina recebeu - poderá ser a primeira baseada em ADN de um vírus a ser licenciada, pelo menos parece ser esta a revolução que o médico Pablo Tebas desmistifica.

"Temos recebido muita atenção, como se fosse algo de ficção científica, mas quando vacinamos uma criança contra a varicela estamos a injetar o ADN do vírus que causa essa doença. E quando comemos um bife estamos a comer ADN".

A INO-4800 já provou resultar em ratos e macacos e agora "é preciso provar que é segura e que as pessoas que a recebem geram uma resposta imune", diz Tebas em entrevista ao diário espanhol.

.Por agora está a ser testada em pessoas saudáveis ​​com idades entre os 18 e os 50 anos.

"Acredito que os estudos da fase 3, já com milhares de pessoas, começarão em julho ou agosto. O que vamos querer saber é se é eficaz, se impede a infeção. Isso é o mais complicado de provar. E quando for comprovado, vamos precisar de vacinar 6 mil milhões de pessoas, e este é o maior problema", afirma o médico, que deixa a pergunta: "Como vamos vacinar os 75% da humanidade que são necessários vacinar?".

"Não há atualmente nenhuma farmacêutica no mundo que consiga produzir 6 mil milhões de vacinas. Não há. Não existe", reforça Pablo Tebas.

No mundo existem quase 8 mil milhões de pessoas e para que a pandemia termine é necessário vacinar 75 por cento da população.

"Haverá centenas de milhões de doses da vacina" dentro de um ano

"Terá de haver um acordo entre governos: o chinês, que tem uma grande capacidade de produção, o dos EUA e os europeus. Produzir a vacina tem de ser uma missão global", diz Tebas.

Apesar dos problemas que elenca - e que não terminam na possibilidade de se encontrar uma vacina eficaz e segura -, o médico acredita que uma vacinação em massa poderá arrancar dentro de um ano. Como também acredita que nesse prazo "haverá centenas de milhões de doses da vacina".

Depois, virá a política, talvez. A economia, se calhar. Quem se vacina primeiro? Os trabalhadores que estão na linha de frente? As polícias, os médicos e enfermeiros, quem lida com doentes covid-19? Os cuidadores de idosos?

"Como se pode distribuir a vacina para que esta alcance o maior benefício social? Esse será o problema mais complicado depois de provar que a vacina funciona", refere o médico espanhol.

Na altura da gripe das aves e suína, recorda-se na entrevista, os países ricos armazenaram o medicamento Tamiflu, mas este faltou nos países pobres.

E, como Pablo Tebas sublinha, haverá sempre alguém a usar a cartada nacionalista: "Quero a vacina para mim e para os meus", exemplifica o médico.