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António Sarmento, diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Hospital de São João
Foto: Pedro Correia/Global Imagens

Diretor do serviço de infeciosas do São João pede "coerência" nas regras "incluindo aviões"

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O diretor de serviço de doenças infeciosas do Hospital de São João (HSJ), no Porto, defendeu esta quarta-feira que as regras associadas à prevenção de contágio pela covid-19 devem ser as mesmas, incluindo nos aviões, sob pena de ficarem "desacreditadas".

"As regras dentro dos aviões têm de ser as mesmas que dentro desta sala. O distanciamento social não é para cumprir nuns sítios e não cumprir em outros. Porque há o risco de se desacreditarem essas medidas. É necessária coerência. A economia é importante, os voos são importantes, mas têm de existir regras que são cumpridas nas outras áreas. A não ser que alguém cientificamente nos dissesse que os aviões são entidades diferentes", disse António Sarmento.

O especialista em doenças infeciosas e medicina intensiva, que falava à Lusa à margem de uma sessão que juntou a Associação Empresarial de Portugal (AEP) e a Ordem dos Médicos (OM), analisou que "é muito difícil ponderar entre a saúde pública e a economia" porque, disse, "para não se morrer do vírus, há quem passe fome", mas pediu coerência, admitindo que a retoma dos voos é "assusta".

"As pessoas têm de ponderar entre a economia e a saúde pública e a sociedade tem de decidir o que prefere privilegiar. Sei que a economia é importante porque as pessoas sem dinheiro morrem à fome, mas são decisões muito difíceis", referiu,

O diretor de serviço de doenças infeciosas do HSJ, hospital do Porto no qual a 2 de março foi detetado o primeiro caso de infeção pelo novo coronavírus em Portugal, sublinhou que "não tem uma fórmula mágica" e que "não sabe qual é a solução certa", mas lançou a pergunta: "Esta pandemia espalhou-se ao mundo em muitos poucos dias porquê?".

"Por causa dos voos intercontinentais constantes. Sem voos a epidemia não teria chegado a muitos sítios. Os voos são necessários, mas assusta-nos porque começa outra vez a haver contacto entre zonas que estão muito piores do que nós. Até aqui conseguimos uma boa contenção, mas este é o princípio das bases comunicantes. Se a pessoa abrir as comportas, a água nivela-se", afirmou.

Convidado a fazer um balanço sobre o combate à pandemia e a partilhar quais as suas principais preocupações para o futuro, António Sarmento que é também professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, elogiou o desempenho dos portugueses.

"O futuro ninguém o adivinha, mas até ao dia de hoje Portugal fez um trabalho notável e com resultados notáveis", considerou o especialista em doenças infecciosas e medicina intensiva, lamentando, no entanto, que as pessoas tenham "uma tendência um bocadinho mórbida de procurar pontos fracos e o que falhou".

"Numa doença nova que nos apanhou de surpresa e sobre a qual não se sabe nada, é evidente que nem tudo é bem feito desde o início. Apesar de se ter de liderar na incerteza, as coisas foram ponderadas e feitas de uma melhor maneira possível", concluiu António Sarmento.