Arlindo Almeida: Desperta Campina!

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Peça indispensável em qualquer empreendimento humano, é, sem dúvida, o controle da informação, adquirida seja por meio da inteligência, da razão ou da experiência. Tratando especificamente do domínio econômico a boa informação, o conhecimento da realidade em que se opera, torna maiores as probabilidades de sucesso. Com isso garantindo a implantação e o bom funcionamento das empresas, seus efeitos positivos – geração de emprego, renda, tributos. Os empreendimentos bem sucedidos contribuem, ainda, para fortalecimento das cadeias de atividades, pelas conexões para frente e para trás no universo dos mercados.

Geralmente o centro gravitacional desses negócios ocorre em determinado local do território, lugar de grande fluxo comercial, cujo traço comum é sua localização estratégica, determinada pela observação das melhores rotas de escoamento dos bens comercializados.

Desde tempos bíblicos, é registrada a existência dos entrepostos comerciais que é a reunião de vários empreendimentos – a exemplo da Fenícia que atuou por todo o Mar Mediterrâneo durante o período que foi de 1 500 a.C. a 300 a.C – que tinham por objetivo a defesa dos interesses comuns dos mercadores e o desenvolvimento das relações econômicas, e também políticas, das respectivas regiões. Hoje os países mais desenvolvidos são grandes entrepostos de bens e também de serviços. Estados Unidos, China, etc.

Isso acontece ainda em um determinado território dentro dos países, e no Brasil, não é diferente desde o tempo da colonização. Um exemplo disso é Campina Grande, que se transformou, a partir da rede de estradas e, principalmente, da instalação da rede ferroviária em 1907, no polo concentrador de negócios de amplas áreas da Paraíba, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte e até do Ceará, com ênfase no ciclo do algodão. No auge do progresso, Campina Grande chegou a representar mais de um terço do PIB do estado.

Hoje as coisas não mais como dantes. Com as mudanças ocorridas na economia, Campina Grande tem experimentado um novo ciclo de desenvolvimento, a partir do ensino superior – abrigamos três universidades públicas, cerca de vinte universidades e faculdades particulares, institutos de pesquisa, uma rede hospitalar que atende a mais de cem cidades da Paraíba e de outros estados limítrofes. Mas ainda é significativa a presença de importantes estabelecimentos industriais e comerciais, estes voltados para as cidades mais próximas, ao contrário do passado.

No presente, a procura por determinados tipos de bens de consumo, em que a população precisa sair do próprio município para comprar vestuário e calçados, móveis e eletroeletrônicos já não se faz em Campina Grande. É o que aponta estudo do IBGE (Regic 2018) – Regiões de Influência das Cidades, cujos resumos para os 30 arranjos mais importantes estão nos quadros a seguir.

As distâncias médias percorridas por quem compra vestuário e calçados foi de 78 quilômetros e para móveis e eletroeletrônicos de 73 quilômetros.
Surpreendentemente, Campina Grande, tradicional centro de produção de calçados, abrigando o Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado (CTCC-SENAI/PB), não é citada na lista dos lugares de comercialização desses produtos. A produção das maiores empresas locais não é comercializada na própria cidade. A mesma coisa ocorre com confecções – temos uma ótima escola do SENAI preparando pessoas para esse mister.

Vamos os números do estudo do IBGE, divulgados neste dia 22.

Em vestuário e calçados, registramos: Caruaru (2º na pesquisa), Santa Cruz do Capibaribe e Toritama (9º e 10º).

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Já tratando de móveis e eletroeletrônicos, se encontram Caruaru (6º) e Patos (22º). Campina Grande também de fora.

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Nosso município teve um dos maiores PIB’s da região até a década de 1960, com posição de destaque em todo o Brasil. No presente, ocupamos a posição 110ª. no PIB nacional; Recife a 13ª. e João Pessoa a 44ª. Em termos populacionais somos o 59º. Nosso PIB per capita é inferior a 2/3 do nacional.

Há pouco tempo éramos vistos como “uma das 100 melhores cidades para se trabalhar e fazer carreira do Brasil,” única cidade do interior entre as capitais escolhidas no ranking da revista Você S.A. A Gazeta Mercantil considerou que o município era a cidade mais dinâmica do Nordeste e a 6ª do Brasil e foi apontada como uma das 20 metrópoles brasileiras do futuro. Para onde foi isso?

Do que vimos, cabem algumas indagações:
1º – Quais as razões do nosso declínio como empório comercial de vestuário, calçados, móveis e eletroeletrônicos?

2º – Quais as políticas de desenvolvimento adotadas pelas autoridades do município (e também do Estado), para estancar essa redução da importância de Campina Grande em setores como os objeto da pesquisa do IBGE?

3º – O Que tem sido feito para tornar realidade os prognósticos da Você S.A. e da Gazeta Mercantil, estimulando setores novos?

É sabido que em economia, não é possível voltar ao passado. É ineficaz colocar um farol iluminando a popa de um barco ou os faróis dos automóveis voltados para a ré. Você não vê o que vêm à sua frente, como diria o grande economista Roberto Campos.

Enfim, temos um plano estratégico de desenvolvimento? O que restou do trabalho intitulado Campina 2035, financiado pela SUDENE e Sistema Indústria da Paraíba?

Desperta Campina!