Para 61% dos que viram encontro, Bolsonaro quis interferir na PF, diz Datafolha
Segundo o levantamento, 55% dos entrevistados tiveram acesso aos vídeos da reunião do presidente com seus ministros que foram divulgados após decisão do ministro do STF Celso de Mello
by FolhapressPara a maioria dos brasileiros (61%) que assistiu ao polêmico vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, o presidente Jair Bolsonaro usou o cargo para interferir politicamente na chefia da Polícia Federal.
A versão foi dada pelo ex-ministro Sergio Moro (Justiça) como motivo para sua saída do governo e é objeto de inquérito no Supremo Tribunal Federal –a liberação do vídeo, com alguns trechos cortados, foi determinada pelo ministro Celso de Mello na sexta (22).
Ainda dentro daqueles que assistiram a reunião, 32% dos brasileiros acreditam na história contada por Bolsonaro, de que ele se referia à mudança da segurança pessoal de sua família ao dizer que iria "interferir sim" e que poderia demitir o ministro responsável pela área.
Os dados foram aferidos pelo Datafolha em pesquisa na segunda (25) e na terça (26), feita por telefone com 2.069 adultos em todo o país. A margem de erro é dois pontos percentuais para mais ou menos.
Tiveram acesso ao vídeo ou a seu conteúdo 55% dos brasileiros, segundo o instituto. A disparidade de opiniões por regiões segue o padrão de divisão quando o tema é Bolsonaro: Sul e Norte/Centro-Oeste tendem a defendê-lo, enquanto a desconfiança é maior no Nordeste.
Já acreditam mais fortemente na versão negativa para Bolsonaro jovens de 16 a 24 anos (70%), os mais instruídos (66%) e os mais ricos (acima de 10 salários mínimos, 65%).
Passado pouco mais de um mês da saída de Moro do governo, onde chegara com carta-branca e prestígio dos seus anos como o juiz-símbolo da Operação Lava Jato, o ex-ministro ainda tem melhor imagem no embate com o ex-chefe.
Acham que Moro fala a verdade na troca de acusações com Bolsonaro 54% dos ouvidos, o mesmo patamar da aferição de 27 de abril (52%), três dias depois de o ex-ministro deixar o cargo.
Já o presidente viu sua credibilidade avançar sobre aqueles que antes diziam não ter opinião. Acreditam que ele fala a verdade 27%, ante 20% na rodada anterior.
O número dos que não sabiam responder caiu de 19% para 10%. Não creem em ambos ou em nenhum o mesmo patamar anterior, 3% (eram 2%) e 7% (eram 6%), respectivamente.
Aqui, curiosamente, há bastante homogeneidade regional. Bolsonaro se sai menos pior com os mais ricos, grupo no qual vem perdendo apoio geral em pesquisas: 39% dos que ganham mais de 10 salários mínimos acreditam mais em sua versão. Já seu pior desempenho é com os mais jovens, dos quais 63% veem a versão de Moro como mais crível.
A sequência de palavrões, a menos 33 usados no vídeo de cerca de 2 horas, e as agressões usadas por Bolsonaro não passaram em branco.
Nada menos que 76% das pessoas consideraram a fala do presidente na reunião inadequada, 61% delas muito e 15%, um pouco.
As mulheres, sempre um ponto fraco do desempenho de Bolsonaro em pesquisas desde a eleição de 2018, foram especialmente críticas, com 68% reprovando fortemente o presidente, assim como moradores do Sudeste e do Nordeste (64% nas duas regiões mais populosas do país).
Apenas 19% dos entrevistados viram adequação nas colocações do presidente, 11% deles optando por achá-las muito apropriadas.
O apoio é mais pronunciado no Norte e no Centro-Oeste, com 14% de concordância incisiva, mas são os mais ricos aqueles que mais acham que Bolsonaro estava correto em falar daquele jeito: 19%.
Esse dado conversa com a aprovação dessa fatia com mais recursos à versão de Bolsonaro para a crise com Moro.
No corte racial, o presidente é sensivelmente mais mal avaliado pelos que se declararam pretos: para 72% deles, Bolsonaro usou o cargo para interferir na PF, 67% acharam sua fala muito inadequada e 62% acreditam em Moro no embate.
A pesquisa telefônica, utilizada neste estudo, representa o total da população adulta do país. As entrevistas são realizadas por profissionais treinados para abordagens telefônicas e as ligações feitas para aparelhos celulares, utilizados por cerca de 90% da população.
O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos, por exemplo. Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma cautela por limitar o uso desses instrumentos.
Nesta pesquisa, feita dessa forma para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados se aproximem ao máximo do universo que se pretende representar.
Todos os profissionais do Datafolha trabalharam em casa, incluídos os entrevistadores, que aplicaram os questionários através de central telefônica remota.
Foram entrevistados 2069 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais. A coleta de dados aconteceu nos dias 25 e 26 de maio de 2020.