Profissionais de saúde estrangeiros sob pressão no Reino Unido

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O futuro dos profissionais de saúde estrangeiros no Reino Unido está em causa com a estratégia defendida pelo Governo conservador de Boris Johnson de reduzir a enorme dependência de imigrantes no serviço de saúde pública britânico (NHS, na sigla original/ SNS, na sigla portuguesa).

As noites de quinta-feira, às 20 horas, têm ficado marcadas por uma manifestação de apoio aos profissionais de saúde que têm vindo a trabalhar na linha da frente do combate à Covid-19, mas esta semana pode ditar o último tributo depois de os fundadores da iniciativa terem criticado a politização do evento após a participação mediática na passada semana do primeiro-ministro Boris Johnson e do líder da oposição trabalhista Keir Starmer.

A participação dos dois rivais políticas aconteceu numa altura em que o Governo britânico se viu obrigado a recuar num projeto-lei que visava agravar as taxas nos vistos de estrangeiros a trabalhar no Reino Unido.

O executivo retirou os profissionais de saúde do âmbito da lei, com Boris Johnson já a ser catalogada de hipócrita por participar no tributo aos profissionais de saúde e ao mesmo sobrecarregar alguns deles com mais impostos.

A ameaça levantada pelo Brexit

As novas taxas para residentes estrangeiros no Reino Unido poderão vir também a aplicar-se sobre os cidadãos da União Europeia após o final da fase de transição do Brexit, que termina em dezembro e põe fim à livre circulação de trabalhadores europeus no Reino Unido.

Assim, e se até lá não for estabelecido nenhum acordo bilateral, também os portugueses vão ter de passar por um novo processo de emigração para o Reino Unido baseado em pontos.

É um sistema de imigração que pretende privilegiar os candidatos mais qualificados e com um salário base de €28.500.

Como muitos dos atuais prestadores de cuidados de saúde no Reino Unido ganham menos que isso, teme-se que a porta esteja de facto a ser fechada para estrangeiros como Sandija Jasinovica.

Oriunda da Lituânia, Sandija é prestadora de cuidados continuados no domicílio. Com a pandemia, ficou confinada nos últimos dois meses, a cuidar de uma idosa.

"As últimas semanas têm sido muito exigentes mentalmente. Ao mesmo tempo, têm sido muito recompensadoras. Sei que tenho ajudado a manter alguém a salvo", disse Sandija à Euronews.

Esta lituana faz parte dos cerca de mil prestadores de cuidados continuados na empresa "The Good Care Group". Quase metade deles são oriundos de outros países europeus.

A gerente da empresa diz-nos ser preciso "começar a dar valor a estas pessoas como trabalhadores qualificados". "Não os estamos a contratar porque são mais baratos, mas sim, porque não temos pessoas no Reino Unido dispostas a fazer este trabalho", explica Dominique Kent, do "The Good Care Group".

Governo recua sob pressão

O governo de Boris Johnson defende que a imigração não é solução para a prestação de cuidados de saúde, mas o setor não vislumbra o futuro sem os atuais trabalhadores estrangeiros, sobretudo depois do importante papel desempenhado durante esta pandemia.

O próprio primeiro-ministro enalteceu publicamente um enfermeiro português e uma neo-zelandesa que o assistiram quando esteve internado com Covid-19 e o governo acabou por recuar nas sobretaxas aos profissionais de saúde estrangeiros.

"A nossa mão-de-obra precisa claramente de ser colocada na lista das necessidades do país. Isso permitiria continuar a contratar estes trabalhadores estrangeiros e, claro, no futuro, os salários seriam melhorados e um dia estariam dentro dos limites", preconiza Karolina Gerlich, uma polaca imigrada no Reino Unido há 12 anos e hoje diretora-executiva da associação de apoio aos prestadores de cuidados continuados no Reino Unido.

O novo projeto-lei britânico para a imigração pós-Brexit já recebeu apoio no parlamento, mas mesmo com a recente revisão terão os eleitores britânicos mantido a opinião?

Uma sondagem recente realizada pela empresa de estudo de mercado YouGov para o Conselho Conjunto para o Bem-Estar dos Imigrantes no Reino Unido sugere que 54 por cento dos britânicos apoia agora regras de imigração mais flexíveis para os trabalhadores vistos como essenciais durante a pandemia.