Engenheira de som do Pearl Jam compara pandemia ao 11 de Setembro: “isso está em outro nível”
Karrie Keyes é também fundadora do SoundGirls, que apoia mulheres da área técnica na indústria musical
by Felipe ErnaniKarrie Keyes é engenheira de som do Pearl Jam há algum tempo, e também uma das maiores vozes representativas para as mulheres que trabalham em algum aspecto técnico da indústria musical já que é fundadora do SoundGirls, um projeto que busca justamente apoiar essas trabalhadoras.
Em uma nova coluna especial da Rolling Stone americana, Keyes falou sobre o período de pandemia e deu uma perspectiva bem desagradável em relação à vida para estas pessoas. Ela conta como foi percebendo que a situação do novo Coronavírus era mais séria do que parecia:
Quando as pessoas começaram a se preocupar com a COVID-19 em Fevereiro, eu estava em Seattle fazendo ensaios para a turnê do Pearl Jam que estava por vir. Naquele momento, estávamos pensando, ‘Quais as chances de termos que adiar?’ E aí tivemos uma grande crise em Seattle e adiamos a turnê em 9 de Março. Quando o Coachella foi cancelado, eu sabia que a indústria estava em água fervente. Até o final da semana seguinte, praticamente todo mundo que trabalhava em shows estava desempregado.
O cancelamento em questão veio, de fato, acompanhado de um texto forte assinado pela banda sobre o quanto essa situação se mostrava preocupante. Pouco tempo depois, o Pearl Jam lançou o disco Gigaton e até agora não há nenhuma previsão para uma turnê baseada no trabalho. A própria engenheira de som conta como está essa situação:
Naquele momento, ainda esperávamos que o Pearl Jam poderia ir à Europa em Junho. Desde então, todos os dias, as coisas têm piorado. Eu diria que são mais de 50 pessoas [em uma equipe] na estrada. As equipes na maioria das vezes trabalham de turnê em turnê, e eles não são empregados — e me desculpem, todos estão sem trabalho.
Coronavírus e as equipes técnicas de shows
Ainda que algumas bandas, como o Faith No More e o Deftones, estejam buscando uma solução para suas equipes através da venda de produtos exclusivos cujos lucros são destinados a esses trabalhadores, Karrie deixa bem claro que mesmo através do SoundGirls está difícil ajudar quem precisa.
Ela ainda compara o cenário atual com o trágico acidente de 11 de Setembro, mas ressalta que o momento é ainda pior:
Eu comecei o SoundGirls em 2013. Agora, nós estamos tentando descobrir como podemos ajudar nossas afiliadas desempregadas. A única coisa próxima disso foi o 11 de Setembro. As pessoas perderam emprego na época, mas isso está em outro nível. No 11 de Setembro, você ainda tinha cerca de 25 por cento do seu trabalho.
Não teremos grandes shows em estádios em qualquer momento próximo; eu não sei como vamos sair em turnê. Como você planeja uma turnê tendo cidades em lockdown? Então, vai mudar. E, nesse momento, eu não acho que ninguém saiba realisticamente como vai mudar.
A maioria das pessoas que trabalha em shows já aceitou o fato de que não irão trabalhar neste ano. Diversas afiliadas do SoundGirls têm tido dificuldades em aplicar para [auxílio] desemprego, principalmente porque elas não conseguem entrar no sistema independente de qual estado elas morem. Algumas têm se diversificado em outras áreas [de trabalho], mas a maioria de seus serviços gira em torno de oferecer aluguéis para shows. Nós vamos perder muitas pessoas talentosas que dedicaram suas vidas a fazer isso. Elas terão que assumir um trabalho [diferente], e não irão voltar.
Os relatos da engenheira de som ecoam os pensamentos da indústria, como te contamos por aqui. Infelizmente, a perspectiva está longe de ser das melhores; enquanto as coisas não melhoram, você pode conhecer mais sobre o projeto SoundGirls pelo site oficial.