Empresários apontam necessidade de atuação conjunta entre setor público e privado no RS
Discussão entre lideranças empresariais ocorreu em encontro virtual nesta quarta-feira
by Felipe SamuelLideranças empresariais e do terceiro setor defenderam nesta quarta-feira, durante videoconferência, a atuação conjunta do setor público e privado para agilizar ações junto à população em meio à pandemia do novo coronavírus. Além de criticar os entraves burocráticos em função da legislação, os participantes destacaram que é preciso mobilização maior de todos os setores da sociedade para enfrentar as consequências da doença e o impacto econômico e social no Rio Grande do Sul. Com o tema “Os impactos da Responsabilidade Social das Empresas no Desenvolvimento da Sociedade”, o encontro virtual foi promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide-RS) e conduzido pelo presidente do Lide, Eduardo Fernandez.
Presidente do Conselho no Instituto Cultural Floresta (ICF), Claudio Goldsztein reforçou que a criação do ICF surgiu da necessidade de colaborar no combate à criminalidade em Porto Alegre. Por meio de um projeto, o instituto angariou mais de R$ 14 milhões em doações, em 2018, que foram revertidos em equipamentos e viaturas, entre outras coisas, à área da segurança pública. Para Goldsztein, o exemplo poderia ser replicado em setores como a saúde e a educação. "Não teve nenhum real de incentivo, não teve benefício fiscal, renúncia ou isenção", justifica. Em meio à pandemia da Covid-19, o ICF já contribuiu com equipamentos para UTI, como respiradores, e distribuiu 45 mil cestas básicas e mais de 1,5 milhão de máscaras de proteção.
Ele salientou que a ideia de apresentar um projeto tinha como objetivo mostrar que o Estado não tem "condições e competência", dadas as limitações burocráticas e jurídicas. "Além de não ter dinheiro, fica amarrado a questões jurídicas que impedem que faça compras de qualidade, por preço adequado, num prazo razoável, bem diferente do que vemos na iniciativa privada", avaliou. A exemplo do projeto elaborado para a segurança pública, onde empresas podem destinar 5% do seu ICMS para o setor, Goldsztein acredita que isso pode ser realizado em outros setores. "É preciso criar legislações simples, menos burocráticas", advertiu.
Para o presidente do Conselho de Administração da ONG Parceiros Voluntários, Daniel Santoro as ações de responsabilidade social não podem ser realizadas apenas em momentos de crise. Ele lembrou que os problemas sociais se aprofundaram a partir de 2015 e que o surgimento da Covid-19 atingiu todos segmentos da sociedade. Conforme Santoro, com ciclo de 'bonanza' do país até aquele período, as demandas que antes eram por serviços básicos, como alimentação e higiene, se tornaram mais elaboradas. "Nos últimos anos regredimos, e a comunidade passou a necessidades mais básicas como alimentação", observou.
Santoro afirmou que o empresariado precisa ampliar a percepção tanto no terceiro setor quanto no primeiro setor. "Se queremos resolver nossos negócios precisamos transitar pelo terceiro setor, compreender, interagir, influenciar e reconhecer o primeiro setor. Há uma desigualdade muito grande na sociedade. Tendo consciência e compreensão disso tudo, vamos conseguir avançar como empresa", explicou. Para encontrar solução em cenário econômico de incerteza, garantiu que é preciso atuação conjunta entre o público e privado.
Conselheiro da Fiergs e Consultor da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais da Fiergs, Marcino Fernandes Rodrigues Junior afirmou que o Estado não tem mais capacidade para atender todas as demandas sociais e defendeu a co-gestão público-privado para agilizar as ações para a sociedade gaúcha. Para Rodrigues, isso permitiria a execução de orçamentos públicos com mais eficiência, velocidade e economicidade. "Recurso na mão de um empresário é multiplicador, ao contrário na gestão púbica. Em função da burocracia e regras criadas, isso dificulta de chegar na ponta e atender uma ação seja na habitação, saúde, educação das pessoas que mais precisam", avaliou.
Ele destacou o trabalho da entidade por meio do Banco de Alimentos, que já entregou mais de 195 mil cestas básicas e beneficiou mais de 900 mil pessoas. Na avaliação de Rodrigues, é preciso mobilização coletiva, junto com setor público, para gerenciar recursos públicos, e evitar sobreposição de ações nos setores. Ele reforçou que é preciso ajustar mecanismos legislativos que permitam a empresários contrapartida justa com relação a uma agenda social no Estado. "É preciso mobilizar grupos empresariais, fazer grande convocação. Temos projetos, programas, cada uma das entidades pode fazer uma entrega positiva, transparente", acrescentou.
Secretário de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, Catarina Paladini destacou as ações do governo junto à população durante a pandemia, alertou para necessidade de evitar áreas de "sombreamento" entre os entes federados e os não-governamentais e sincronizar ações com o Executivo. Paladini lembrou que os efeitos da pandemia vão provocar imapcto "nefasto" na economia, com agravamento das questões sociais, e frisou a importância de programas voltados aos jovens e da participação do empresariado. Apesar de reconhecer a necessidade de garantir mais agilidade nos processos da gestão pública, ele frisou que o surgimento da Covid-19 tornou mais célere o rito para atender às demandas da secretaria.
De acordo com Paladini, o Estado precisa ser indutor do desenvolvimento, mas defendeu projetos e programas de longo prazo. "Precisamos construir um ambiente que aglutine privado e público, principalmente sem sombreamento", afirmou. O secretário também chamou atenção para os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) que apontam mais 74 mil desempregados no Estado no mês de abril. "Precisamos ver como vai chegar a cesta básica. Vencido isso, precisamos avaliar como reinserir pessoas no mercado de trabalho", comparou.