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Rita Ferreira num balcão improvisado à porta da mercearia
Foto: Gerardo Santos / Global Imagens

Comércio local tenta recuperar confiança perdida com a pandemia

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Em menos de dois meses tudo mudou. A habitual azáfama própria das lojas de rua e dos cafés, com pessoas a entrar e a sair, foi substituída pelo silêncio Para superar a crise causada pela pandemia de covid-19, todos tiveram de se adaptar às novas regras, com soluções criativas para manter a cabeça à tona de água e sobreviver no "novo normal".

Em plena Baixa do Porto, o emblemático Majestic Café reabriu esta segunda-feira, ainda que com um funcionamento muito diferente do habitual. O gerente, Fernando Barrias, não espera receber os habituais turistas - que são 95% da clientela - mas está a fazer tudo para recuperar o que perdeu nos últimos dois meses. A sala tem agora apenas metade da lotação e há um funcionário exclusivo para "limpeza constante", descreve.

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Histórico café Majestic, no centro do Porto, reabriu esta segunda-feira, após dois meses de encerramento devido à pandemia
Foto: JOSÉ COELHO/Lusa

Já o café Velasquez, conhecido pelas enchentes em dias de futebol, reabriu na semana anterior. "Muita higienização e espaçamento são os nossos principais cuidados", diz Carlos Branco, sócio-gerente. Na confeitaria Petúlia, já há proteções de acrílico nos dois balcões de atendimento e soluções para os grupos. "Vamos deixar 12 cadeiras e uma mesa no caso de virem mais do que duas pessoas que coabitem", explica Jorge Pinto, o gerente.

Ainda no Porto, o sapateiro O Pérola também trabalha de forma muito diferente. Agora só entra um cliente de cada vez e só depois de ser contactado para ir buscar o calçado. "Quando o calçado é deixado fica três dias sem ser manuseado. Só conserto um par de sapatos de cada vez e antes de pegar desinfeto as mãos. Trabalho o sapato e quando está terminando volto a lavar as mãos e coloco-o num saco fechado", explica Francisco Barbosa.

Na capital, as mudanças também se fazem sentir. Na Avenida Guerra Junqueiro, Lisboa, muitos estabelecimentos já não vão reabrir e outros retomam a atividade lentamente. As pessoas movimentam-se com mais medo. Quando Ana Silva, 41 anos, voltou à atividade na sua sapataria e abriu uma nova loja de roupa - cuja inauguração foi suspensa por causa da pandemia - encontrou clientes mais desconfiados.

Antes mexiam em tudo, agora têm medo de experimentar a roupa e perguntam se podem tocar nos sapatos. Desinfetamos os artigos, mas mesmo assim não têm confiança

"Antes mexiam em tudo, agora têm medo de experimentar a roupa e perguntam se podem tocar nos sapatos. Desinfetamos os artigos, mas mesmo assim não têm confiança. É um novo normal muito anormal", considera. Para apaziguar o pânico, Ana sugere às clientes que "levem o artigo sem experimentarem". "Se toda a gente experimentar temos de meter a loja em quarentena", brinca.

Nas duas lojas, ao contrário de outras, a entrada não é vedada a ninguém. A quem não tiver máscara, Ana oferece. Uma medida que vai atraindo mais pessoas, nem que seja para conhecerem as suas máscaras em acrílico transparentes, que têm sido um sucesso. "Muitas pessoas perguntam-nos se vendemos, porque, além de terem um design bonito, permitem-nos manter o contacto facial, que é muito importante", explica.

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Em Lisboa, Ana Silva e a cliente Isabel Oliva a experimentar uma gabardina após desinfetar as mãos
Foto: Gerardo Santos / Global Imagens

Mais cautelosa, Rita Ferreira, 40 anos, da Mercearia Criativa, só prevê reabrir em junho. Tem procurado as melhores soluções, a nível de preço e qualidade, de máscaras, viseiras e acrílicos. "Os preços destes artigos estão muito inflacionados, há quem não reabra por não ter dinheiro para os comprar. Queremos ir com calma", explica. Na mercearia, onde também se servem refeições, as dez mesas da esplanada passarão a metade e uma mesa comprida, no interior da loja, será retirada. "Quando retomarmos no formato de porta aberta, vamos ter de pedir uma entrada moderada e aguardamos pelo bom senso das pessoas", diz.

Na pastelaria Néctar, Conceição Sá, 52 anos, vai observando a movimentação à volta e aprendendo com a reabertura dos colegas. A entrada está vedada e para já só atende à porta, também porque muitos clientes ainda preferem assim. Lá dentro, uma mesa em cada ponta já deixa adivinhar o que se prepara. "Já tiramos metade das mesas. Vamos ter de nos adaptar, mas ainda estamos a tentar perceber como vai ser", admite.