Crítica | Sangue e Água – Garota procura irmã sequestrada na série da Netflix
by Janda MontenegroUma série juvenil que retrata o drama do Ensino Médio, com personagens endinheirados, competição entre adolescentes, uma escola refinada com uma diretoria que não tem o menor controle de quem circula por ali. Poderia ser o conceito de mais uma série estadunidense, mas estes são os elementos que compõem a trama de ‘Sangue e Água’, nova série da Netflix que traz uma diferença: é uma produção da África do Sul.
Falado em inglês e em africâner (uma das línguas da África do Sul), o enredo conta a história de Puleng Khumalo (Ama Qamata), uma jovem de dezesseis anos cuja irmã mais velha está desaparecida há dezessete anos. A mãe delas, Thandeka Khumalo (Gail Mabalane), se recusa a perlaborar a perda da filha e o pai está sendo acusado como principal responsável pelo desaparecimento da primogênita da família. Porém, em uma festa, Puleng conhece Fikile Bhele (Khosi Ngema) e passa a desconfiar de que a garota possa ser sua irmã desaparecida. Em busca da verdade, Puleng começa sua própria investigação sobre o caso.
Como vocês podem ver, a trama é bem simples, que poderoa se passar na juventude de em qualquer país mas que, por acaso, é sul-africana. A proposta de Nosipho Dumisa, Daryne Joshua e Travis Taute (que assinam o roteiro e dirigiram o longa) é retratar a juventude millenial da Cidade do Cabo – o abismo social que anos de apartheid produziu na população, o elitismo existente nas escolas, os ruídos do racismo velado, a influencia do sistema educacional ocidental na formação dos jovens sul-africanos, entre outros temas que são pincelados numa camada profunda do enredo.
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O roteiro permeia os seis episódios com bastante consistência, reforçado pelo elenco carismático que de fato parece ter a idade de seus personagens (o que sempre favorece a credibilidade de uma produção). Apesar disso, por vezes o roteiro é meio ingênuo, buscando soluções muito fáceis para gerar ou solucionar conflitos que entram na trama para fazer a história caminhar e que, por vezes, são contraditórias. Por exemplo, quando a mãe de Fikile entra no banheiro sem bater quando Puleng está no cômodo, tentando falar no celular, e, duas cenas depois, a mesma mãe de Fikile bate na porta para avisar à filha que está indo embora (e dessa vez anuncia sua chegada para não pegar a filha num flagrante). Nada que uma segunda temporada não possa consertar.
A temática universal de ‘Sangue e Água’ ajuda a aproximar o espectador da Netflix aos conflitos vividos por seus personagens, mas, em um plano latente a série oferece uma reflexão sobre a juventude globalizada da África do Sul. Para firmar essas oposições, vale falar a língua local e o inglês, vale citar Sylvia Plath junto com Maya Angelou, e vale ainda colocar Fikile falando para Puleng logo no primeiro episódio que “nós, meninas, temos que ficar unidas”.
‘Sangue e Água’ é uma boa série afrofuturista que mostra uma África do Sul bem diferente daquela que permeia o imaginário coletivo ocidental. E ainda mostra como a natureza e a geografia de lá se assemelha ao Brasil, quando, no quinto episódio, é possível ver uma orla bastante semelhante à orla do Leblon, no Rio de Janeiro. ‘Sangue e Água’ podia ser uma série brasileira em muitos aspectos, e, se você a vir dublado, vai mesmo acreditar que é brasileira.
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