Weintraub associa nazismo a operação do Supremo contra rede de bolsonaristas

A operação desta quarta-feira (27), parte do inquérito das fake news, atinge políticos, empresários e ativistas bolsonaristas

No dia em que a Polícia Federal cumpre 29 mandados de busca e apreensão no inquérito das fake news, que apura ataques a integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, associou a operação ao nazismo.

A operação desta quarta-feira (27) atinge políticos, empresários e ativistas bolsonaristas.

Em publicações nas redes sociais, Weintraub escreveu que "hoje foi o dia da infâmia, VERGONHA NACIONAL, e será lembrado como a Noite dos Cristais brasileira", acima de uma foto da Alemanha nazista. "Profanaram nossos lares e estão nos sufocando. Sabem o que a grande imprensa oligarca/socialista dirá? SIEG HEIL!", escreveu.

A expressão em alemão significa "Salve vitória" e era muito usada durante o período nazista na Alemanha.

Já a Noite dos Cristais foi um dos primeiros grandes episódios coordenados de violência nazista direcionada aos judeus, em 1938, considerado um precursor do Holocausto

Em outra publicação, também nesta quarta, Weintraub relata que cresceu escutando que familiares seus foram perseguidos pelo nazismo e que a polícia do regime entrava nas casas de inimigos do nazismo. "Nesse momento sombrio, digo apenas uma palavra aos irmãos que tiveram seus lares violados: LIBERDADE".

Ao determinar medidas contra políticos, empresários e ativistas bolsonaristas, o ministro do STF Alexandre de Moraes citou a suspeita de participação do chamado gabinete do ódio —grupo de servidores lotados na Presidência da República— num esquema para disseminar notícias falsas e ofensas contra autoridades e instituições, entre elas a própria corte.

Weintraub também está no alvo do STF por causa de suas declarações na reunião ministerial de 22 de abril. Ele disse que botaria todos na prisão, "começando pelo STF". Após defender cadeia aos ministros, Weintraub disse que falava de "alguns, não todos".

Na terça-feira (26), Moraes mandou Weintraub prestar depoimento em cinco dias à Polícia Federal por causa da afirmação. O ministro afirma que há “indícios de prática” de seis delitos.

Segundo o Código Penal, Weintraub pode ser enquadrado por difamação e injúria. Os outros estão tipificados em quatro artigos da lei que define os crimes contra a segurança nacional e a ordem política e social.

Um deles prevê pena de um a quatro anos a quem caluniar ou difamar os presidentes dos três Poderes e o da Câmara dos Deputados.

Outro pode dar de dois a seis anos de reclusão a quem tentar impedir o livre exercício dos Poderes da União e dos estados.

O terceiro estabelece uma pena de um a quatro anos de prisão para quem fizer propaganda que leve à discriminação racial ou perseguição religiosa. Nesses casos, a pena é aumentada em um ano quando a propaganda for feita em local de trabalho.

O último é o que se refere a quem incitar a subversão da ordem política e prevê reclusão de um a quatro anos.

Moraes classificou a manifestação de Weintraub como “gravíssima” por não atingir apenas a honra dos magistrados, mas por também constituir “ameaça ilegal à segurança dos ministros do STF”.

Além disso, a declaração, segundo o ministro, “reveste-se de claro intuito de lesar a independência do Poder Judiciário e a manutenção do Estado de Direito”.

Procurado, o MEC (Ministério da Educação) informou que não comenta declarações feitas pelo ministro no Twitter.

Em nota, a Conib (Confederação Israelita do Brasil) condenou a comparação feita pelo ministro entre o inquérito e a Noite dos Cristais.

"A comparação feita pelo ministro Abraham Weintraub é totalmente descabida e inoportuna, minimizando de forma inaceitável aqueles terríveis acontecimentos, início da marcha nazista que culminou na morte de 6 milhões de judeus, além de outras minorias", afirmou a confederação.​

O American Jewish Committee, principal entidade judaica dos EUA, também reprovou a associação feita por Weintraub, e as constantes menções ao nazismo pelo governo brasileiro em geral.

"O repetido uso de menções ao Holocausto como arma política por autoridades do governo brasileiro é profundamente ofensivo para judeus de todo o mundo e um insulto para as vítimas e sobreviventes do terror nazista. Isso precisa parar imediatamente", declarou.