COMO O “EFEITO CRISTIANO RONALDO” NA JUVENTUS TRANSFORMA O ASTRO EM UMA MINA DE OURO PARA A JEEP
Família Agnelli, uma das mais poderosas da Itália, contratou CR7 para jogar na Juve em 2018 e desde então usa o português para alavancar seus negócios e fazer a FCA expandir seu mercado, principalmente na Ásia
by ANDRÉ CHIAPPERO SCHAUNTerça-feira, 10 de julho de 2018. Kalamata, Grecia. A bela cidade no sul do território grego foi o palco dos detalhes finais da transferência de Cristiano Ronaldo para a Juventus, da Itália. Naquela tarde, Andrea Agnelli, presidente do clube, conseguiu algo que poucos imaginavam: tirar o astro português do Real Madrid. O contrato de quatro anos foi assinado em uma negociação que envolveu 105 milhões de euros, cerca de 470 milhões de reais na época.
Andrea Agnelli é um dos membros de umas das famílias mais poderosas da Itália. Seu avô, Giovanni Agnelli, foi um dos fundadores da Fiat, em 1899, e atualmente a família detém 30% do controle de todo o grupo FCA (Fiat Chrysler Automobiles). Entre tantos outros negócios, eles também estão no controle da Juventus desde 1923: são donos de 64% do clube. Vale lembrar que a Jeep, do grupo FCA, é patrocinadora máster da Juventus.
Nesses quase 100 anos a frente da Velha Senhora (apelido do time) a contratação de Cristiano Ronaldo foi considerada um dos negócios mais inteligentes na história recente dos poderosíssimos Agnelli. Além de ter a lenda CR7 em campo, o marketing do português trouxe lucros que o clube jamais teve na história e ajudou o grupo FCA a bater recorde de vendas em 2018 e 2019.
Mas nem tudo começou bem na chegada de Cristiano Ronaldo.
A última temporada pelo Real Madrid, em 2017/2018, foi uma das melhores da carreira de Cristiano Ronaldo. Ele marcou 44 gols em 44 jogos e foi campeão da Champions League pela quarta vez com o time merengue sendo artilheiro da competição com 15 gols.
Com isso, o português pediu aumento salarial para os espanhóis na negociação da extensão de seu contrato que terminaria em 2021. Por esses e outros motivos, o acordo não foi feito e Andrea Agnelli viu a chance de ouro de trazê-lo para a Juventus. Então ofereceu 105 milhões de euros e um salário anual de 31 milhões de euros, o que hoje equivale a cerca de 185 milhões de reais. Isso gerou revolta nos operários da fábrica da Fiat em Melfi, no leste da Itália.
A União Sindical de Base decretou greve de três dias após o anúncio da contratação de Cristiano Ronaldo, alegando que os trabalhadores não poderiam continuar se sacrificando economicamente, enquanto a empresa gasta "milhões de euros com um jogador".
Neste momento, as ações da Fiat caíram 3%. No final das contas, apenas alguns trabalhadores fizeram a greve. Juventus e Ronaldo se acertaram e o clube começou a ver o ambicioso plano dar certo.
Se a família Agnelli viu as ações da Fiat caírem uma semana após contratar CR7, as ações do clube subiram 30% na Bolsa de Valores de Milão. O valor de mercado da Juventus foi para 853 milhões de euros, cerca de 200 de milhões de euros a mais que na semana anterior.
E essa alta continuou durante toda a temporada, principalmente nos triunfos da Juventus na Champions League — Cristiano Ronaldo foi protagonista em vários jogos. Após o jogo contra o Atlético de Madrid, que CR7 fez os três gols da vitória, as ações do clube explodiram. No dia 13 de março, um dia após a vitória, os papéis valorizaram 140% em relação ao período que o português chegou ao clube.
O lucro só não foi maior porque o time caiu nas quartas de final para o Ajax, da Holanda.
No balanço da primeira temporada de Cristiano Ronaldo, a supervalorização dos contratos da Juventus ficou totalmente relacionada com a imagem do astro português. Desde que ele chegou a Turim, a exposição global da marca Juventus alcançou outro patamar. E quem foi o principal beneficiado com essa exposição foi justamente a Jeep.
Patrocinadora única e exclusiva na parte frontal da camisa da Juventus, o “efeito Cristiano Ronaldo” foi tão positivo que o valor pago para continuar estampando a camisa do time aumentou antes mesmo da renovação com o clube.
No atual contrato, que vigora desde 2012 e vai até 30 de junho de 2021, a montadora paga ao clube 17 milhões de euros por ano – cerca de R$ 100 milhões –, mas devido aos grandes resultados alcançados desde que CR7 chegou ao clube, o patrocínio passou a ser de 25 milhões de euros – R$ 147,2 milhões – para a temporada atual 2019-2020, paralisada por causa do coronavírus, e para a próxima, 2020-2021.
O clube e a montadora já praticamente encaminharam a renovação do contrato a partir de 2021, e o especulado é de que o valor pago possa chegar a 50 milhões de euros por ano, ou R$ 295 milhões, tornando-se assim o segundo maior patrocínio de um clube no mundo. Atrás apenas do Manchester United, da Inglaterra, que tem um contrato de 54,4 milhões de euros – R$ 320 milhões – com outra montadora, a Chevrolet.
Esses números, divulgados pela Forbes, não levam em consideração o patrocínio de material esportivo, dominado por Adidas e Nike na Europa, a conta é somente de patrocinador máster que estampa o uniforme.
Para a bilionária família Agnelli, o negócio não poderia ser melhor. Além de turbinar as contas da Juventus, a valorização do clube gera mais receita e mais visibilidade para a FCA, deixando a marca mais global do que nunca, principalmente para expandir mercado na Ásia, que é o principal objetivo. A última pré-temporada da Juventus foi pela China, Singapura e Coreia do Sul.
Em 2018 e 2019, o grupo FCA bateu recordes de vendas. Em 2018, melhor ano que o grupo já teve, foram 4,7 milhões de carros emplacados pelo mundo, e uma receita de 115,4 bilhões de euros, que corresponde a R$ 680 bilhões.
Já em 2019, a grupo vendeu 2,4 milhões de carros e teve uma receita de 108,1 bilhões de euros, R$ 637 bilhões. Apesar da retração, os números foram suficientes para deixar 2019 como o segundo melhor ano em lucratividade para o grupo FCA.
Especificamente a Jeep, que estampa a camisa da Juventus, também bateu recorde em 2018, vendendo 1,6 milhão de carros, 12,4% a mais que em 2017. Já em 2019, o número baixou, mas foi o suficiente para também colocar o ano como segundo melhor da marca, com 1,5 milhão de unidades vendidas.
"Sem dúvida, o Cristiano Ronaldo, com seus milhões de seguidores e fãs em todo o mundo, ajudou a marca a aumentar ainda mais seu reconhecimento, alcançando pessoas menos ligadas ao mundo automotivo. No entanto, é importante considerar que apenas dez anos atrás a Jeep vendia cerca de 300 mil veículos por ano enquanto hoje somos uma marca global que vende cinco vezes esse número", afirmou a equipe de comunicação da FCA na Itália à Autoesporte.
Os efeitos de Cristiano Ronaldo para os donos da Fiat ainda vão além. Andrea Agnelli também fechou um contrato com a Allianz, em um valor de 103,1 milhões eu euros, R$ 605 milhões, até 2030. A seguradora vai continuar com seu naming rights, que estampa o nome do estádio em Allianz Stadium, e agora também passará a estampar o uniforme de treino da Juventus.
Nas redes sociais, CR7 fez a Juventus ser um fenômeno e o time faz disso um grande meio de divulgação da Jeep. Na volta aos treinos após o afastamento pela pandemia, foi postada uma foto com vários jogadores, entre eles CR7, chegando ao CT com um Grand Cherokee. Para se ter uma ideia, antes de Cristiano Ronaldo, a Juve tinha 10,5 milhões de seguidores no Instagram. Depois do anúncio do português, o número começou a crescer diariamente e hoje está com 39,8 milhões de seguidores.
Cristiano Ronaldo também é usado como garoto propaganda de comerciais da Jeep. No início da última temporada, o português foi protagonista da propaganda com toda a gama dos carros da marca, com destaque para o Wrangler.
O objetivo da Juventus é ter um retorno financeiro de 595 milhões de euros com Cristiano Ronaldo, o que daria R$ 3,5 bilhões. Este, considerado o melhor dos cenários. O custo estimado com ele é de 340 milhões de euros, ou R$ 1,9 bilhão. Esses números incluem vendas de camisas e ingressos, aumento nas ações e renovações de contratos com os patrocinadores e direitos de imagem. Sem contar as premiações que elevariam esses ganhos.
Aposta todo esse dinheiro em um jogador de 33 anos na época, parecia loucura. E seria mesmo, se não fosse Cristiano Ronaldo. O português não se envolve em polêmicas e tem um nome extremamente forte para alavancar os negócios da família Agnelli.
Usar a Juventus para promover a FCA e usar a FCA para promover a Juventus é o grande objetivo da família Agnelli para deixar seus negócios ainda mais poderosos. O sucesso da Juventus traz frutos diretos ao Grupo FCA. Quatro dos dez maiores mercados automotivos do mundo estão na Ásia, com China, Japão, Índia e Coreia do Sul. E Cristiano Ronaldo é o jogador mais popular daquele continente. O tal "efeito Cristiano Ronaldo" está virando uma mina de ouro para os Angnelli e todos os seus negócios.