Inquérito no STF mira operadores de ataques, aliados de Bolsonaro e financiadores; entenda

Roberto Jefferson, Luciano Hang e ativistas bolsonaristas são alvos de operação contra fake news

​Investigadores que trabalham no chamado inquérito das fake news do STF (Supremo Tribunal Federal) concentraram a operação desta quarta-feira (27) em três grupos: operadores de uma rede de ataques a autoridades, possíveis financiadores dessas atividades e parlamentares aliados do presidente Jair Bolsonaro.

Foram alvos de mandados de busca e apreensão militantes, blogueiros, youtubers, políticos bolsonaristas e assessores. A maior parte tem forte atuação nas redes sociais e publica críticas a ministros do STF e integrantes de outras instituições.

Neste primeiro grupo está Allan dos Santos, editor do site Terça Livre. Ele é considerado um influente participante da rede que promove ataques a desafetos do presidente. São citados também dois assessores do deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), um dirigente do movimento Nas Ruas e a ativista Sara Winter, que lidera o acampamento criado em Brasília para formar militantes bolsonaristas.

O inquérito também mira possíveis financiadores dessas atividades. Segundo investigadores, esse é considerado um dos pontos-chave do funcionamento dessa rede.

Foram alvos Luciano Hang (dono da rede de lojas Havan), Edgard Corona (CEO das academias Bio Ritmo e Smart Fit) e Otávio Fakhoury (investidor). Este último anunciou que financiaria as manifestações do dia 15 de março, que tiveram ataques ao STF e ao Congresso.

Já os deputados federais e estaduais citados na operação não foram alvos de busca e apreensão. O ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo inquérito no Supremo, determinou que eles sejam ouvidos pela Polícia Federal em até 10 dias.

Estão no grupo conhecidos defensores do governo nas redes, como as deputadas federais Bia Kicis (PSL-DF) e Carla Zambelli (PSL-SP).

Outro nome citado é o do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ). Em novembro do ano passado, depois que o STF decidiu contra o cumprimento de penas após condenação em segunda instância,​ o parlamentar publicou em suas redes: "Se precisar de um cabo, estou a [sic] disposição". A frase era uma referência a uma declaração feita por Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), em 2018, sobre uma eventual reação de seu grupo político ao Supremo. Filhos do presidente e seus assessores diretos não foram alvos dessa operação.

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O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, alvo de operação contra fake news nesta quarta-feira - Pedro Ladeira/Folhapress

O inquérito do STF já foi alvo de críticas por ter sido criado sem a participação do Ministério Público e por ter determinado medidas classificadas como censura a veículos de imprensa.

Alvos da operação protestaram contra a execução dos mandados e negaram a divulgação de notícias falsas. O empresário Luciano Hang cobrou a defesa da "liberdade de expressão e de pensamento".

Conheça, a seguir, os alvos da operação desta quarta-feira (27).

Alvos de mandados de busca e apreensão

RIO DE JANEIRO

SÃO PAULO

PARANÁ

SANTA CATARINA

BRASÍLIA

MATO GROSSO

Parlamentares investigados

Houve determinação para que eles sejam ouvidos em dez dias e para que suas postagens em redes sociais sejam mantidas

DEPUTADOS FEDERAIS
Bia Kicis (PSL-DF)
Carla Zambelli (PSL-SP)
Daniel Lúcio da Silveira (PSL-RJ)
Filipe Barros (PSL-PR)
Junio do Amaral (PSL-MG)
Luiz Phillipe Orleans e Bragança (PSL-SP)

DEPUTADOS ESTADUAIS
Douglas Garcia (PSL-SP)
Gil Diniz (PSL-SP)

POLÊMICAS SOBRE O INQUÉRITO DO STF

Origem Em março de 2019, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, abriu inquérito para apurar fake news, ameaças e ofensas caluniosas, difamatórias e injuriosas a ministros da corte e seus familiares. Ele apontou como relator o ministro Alexandre de Moraes

Como a PGR recebeu a medida A então PGR, Raquel Dodge, disse que a investigação era inconstitucional, violou o devido processo legal e feriu o sistema acusatório, segundo o qual o órgão que julga não pode ser o mesmo que investiga.

O novo procurador-geral, Augusto Aras, que assumiu em setembro, afirmou não ver nulidade no inquérito e disse ser contra o arquivamento da apuração, como defendeu sua antecessora

Quais alguns dos pontos contestados Toffoli abriu o inquérito por ato de ofício, sem provocação de outro órgão, o que é incomum. Para os críticos, ele deveria ser encaminhado ao Ministério Público. Além disso, Moraes foi designado para presidir sem que houvesse sorteio ou consulta em plenário

O que prevê a lei Pelo Código de Processo Penal, o arquivamento de um inquérito passa pela avaliação do juiz (artigo 28). No mesmo sentido, o regimento interno do STF dispõe que é atribuição do relator determinar a abertura ou o arquivamento de um inquérito quando a Procuradoria assim requerer (artigo 21)

Próximos passos Uma ação da Rede questiona a investigação, e o caso deveria ser levado ao plenário do Supremo a pedido do relator, o ministro Edson Fachin. Mas o julgamento não tem prazo para ocorrer

Desdobramentos O STF tem desmembrado o inquérito, remetendo pedidos de investigações de casos concretos à Polícia Federal, em uma manobra para colocá-los dentro do rito processual normal e tentar fazer com que tenham prosseguimento em ações na Justiça