“Vulnerabilidades… a culpa é só da pandemia?”

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Desde que a pandemia Covid-19 começou a trilhar seu rastro, ainda na China, depois Europa à fora, até que chegasse por aqui, invariavelmente venho me perguntando se todo o caos provocado foi originado unicamente por ela, ou se seria muito mais uma consequência de um sistema socioeconômico mundial que já se mostrou falido e incapaz de cuidar e proteger seu próprio criador.

Apesar dos prenúncios, jamais imaginamos viver um cenário como o que agora se alastrou mundo à fora em uma velocidade absurdamente desmedida, passando a exigir do Estado e da sociedade ações enérgicas no sentido de enfrentar um inimigo invisível, mas igualmente onipresente e de uma voracidade quase incontrolável, o qual é inclusive capaz de enfrentar seus oponentes cara a cara e se enfronhar em suas estruturas mais internas, abalando, enfraquecendo e destruindo sem a menor cerimônia.

Observando este cenário dentro do contexto socioeconômico, no qual estão inseridos países como o Brasil, especialmente sob a ótica dos trabalhadores, vê-se que se encontram estes fortemente afrontados pela angústia das incertezas, do risco de demissões, perdas salariais, fechamento de mercado etc. Em sendo assim, é essencial que não deixemos considerar que já vínhamos vivenciando uma intensa precarização das condições de trabalho nos últimos anos, com evidente enfrentamento entre o capital e o trabalho.

Como exemplo da vulnerabilização dos trabalhadores já desenhada no país, tem-se a “uberização”, os contratos de “intermitência”, os “contratos de zero hora”, dentre outros, que oprimem os trabalhadores ao deles exigir que se escolha entre sujeitar-se aos malefícios do desemprego ou a um trabalho que prestará assumindo os ônus do negócio, sem ter qualquer poder de decisão, além somadas às dificuldades decorrentes da falta de qualificação e até dos investimentos financeiros que deles são ali exigidos.

Por ser esta a crueza da realidade vivenciada pelo trabalhadores neste momento, até para que se tenha condições de enfrentar os desafios, é importante a conscientização de que a causa não está na crise de saúde, mas no ambiente favorável que os nefastos efeitos econômicos dela decorrentes conseguiram encontrar, a ponto de agravarem ainda mais as vulnerabilidades laborais existentes. Os espaços já estavam abertos.

Refletir sobre o tema é relevante, até para que tenhamos condições de evoluir e nos fortalecermos com instrumentos que possam ser eficazes nas crises e não desnecessários agravantes das mesmas. Muito temos a pensar e mais ainda por fazer!