Pandemia gerou queda de 91% nos passes da Área Metropolitana de Lisboa
by Jorge TalixaEm Maio, os utentes já compraram mais mas deverão ficar-se por 30% face ao que adquiriam no início do ano. Concurso para novas concessões tem 956 pedidos de esclarecimento.
As medidas de confinamento decretadas no âmbito da pandemia da covid-19 geraram, no mês de Abril, uma quebra de 91% nos passes vendidos na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Segundo Carlos Humberto, 1º. secretário da Comissão Executiva da AML, em Maio, os passes comprados pelos utilizadores já deverão subir para cerca de 30% dos números registados no início deste ano. O responsável metropolitano espera, agora, uma recuperação gradual da procura, mas admite que não deverá atingir os 100% até final do ano.
Carlos Humberto não equaciona, no entanto, uma reformulação do concurso internacional para a concessão dos transportes públicos de passageiros na AML, lançado em Fevereiro, até porque só deverá entrar em vigor no decorrer do próximo ano. O 1º. secretário da Área Metropolitana de Lisboa participou, no final do dia desta terça-feira, numa audição sobre a temática dos transportes promovida pela Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira.
Segundo referiu, o concurso, que envolve um montante global de 1,2 mil milhões de euros para um horizonte de sete anos, tem suscitado muito interesse e regista 956 pedidos de esclarecimento de potenciais concorrentes. Para conseguir responder a tanta questão colocada, a AML, explicou Carlos Humberto, conta com a colaboração de três especialistas e espera dar respostas na próxima semana.
O 1º. secretário da AML fez um balanço muito positivo da reforma dos transportes públicos rodoviários iniciada em Abril de 2019 e sublinhou que, desde essa altura até Março de 2020, o número de passes vendidos cresceu 26% e o número de cartões Lisboa Viva aumentou 61%. Salientou, todavia, que tudo isto insere-se numa estratégia de promoção da utilização do transporte colectivo e das alternativas amigas do ambiente aprovada por todos os 18 municípios da AML que integra mais de uma dezena de medidas.
Carlos Humberto revelou que, já esta quinta-feira, o Conselho Metropolitano (composto pelos 18 presidentes de Câmara) deverá aprovar o concurso para a instalação de 18 quiosques – um por cada município – com capacidade para tratar de uma multiplicidade de questões ligadas aos transportes, incluindo a emissão de “cartões na hora”.
Também na reunião desta quinta-feira, os presidentes das câmaras da AML deverão aprovar a primeira das candidaturas para a instalação da plataforma tecnológica que, no futuro, vai gerir todo o sistema de transportes da região. Segundo explicou, o projecto envolve um investimento de cerca de 10 milhões de euros, com cerca de 4 milhões financiados a fundo perdido por verbas comunitárias. “É uma plataforma tecnológica que vai permitir vender e validar os passes e acompanhar em tempo real o número de títulos vendidos e de validados. Será, também, um sistema de apoio à exploração, permitindo a fiscalização dos serviços e perceber se estão a cumprir tudo de acordo com o estabelecido”, observou Carlos Humberto.
As seis bancadas partidárias da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira colocaram perto de uma centena de questões, muitas de carácter mais local, outras procurando perceber como é que a pandemia está e pode vir a afectar os transportes públicos na região. Vários eleitos quiseram saber como é que se vão aplicar as novas regras de distanciamento e como é que as operadoras terão capacidade para aumentar a oferta, de modo a acomodar o mesmo número de utentes com menos passageiros por autocarro. Pedro Gaspar, eleito do PS, quis mesmo saber se, com todo este impacto da covid-19 e perante a incerteza da procura nos próximos meses (anos), não seria de reformular o concurso para as novas concessões regionais.
Carlos Humberto evitou de certo modo a questão. Salientou que o concurso está a seguir os trâmites normais, segue a legislação nacional e europeia e motivou, até terça-feira, 956 pedidos de esclarecimento. “Estamos já a preparar respostas com o apoio jurídico, técnico e financeiro de três consultores. Pensamos durante a próxima semana responder a estas questões”, revelou.
Mostrou-se, também, confiante que o concurso para as novas concessões não ficará “deserto” tal o nível de interesse que está a suscitar, mas admitiu que venha a gerar alguma “litigância” jurídica. “Gostaria muito que isso não acontecesse, mas não esta nas nossas mãos”, reconheceu. Em resposta ao socialista Vítor Moreira, garantiu, ainda, que o próprio concurso prevê que as operadoras vencedoras venham a ter que contratar os actuais funcionários das operadoras que actuam na área da AML, evitando, assim, que caiam no desemprego.
O 1º. secretário da AML disse, também, que, em Abril, venderam-se na região apenas 9% dos passes sociais contabilizados nos meses anteriores e que, em Maio, estima-se que esse número suba para 30%. Ainda assim, referiu, dados cerca de 5% acima das previsões. “No mês de Junho, a nossa previsão é que atinja os 40%, o que até acho um bocado optimista. Vamos ver, temos que ir acompanhando. Aquilo que prevemos é que mesmo no fim do ano não estejamos nos 100%”, admitiu Carlos Humberto, garantindo que a AML, enquanto Autoridade Metropolitana de Transportes, está em diálogo permanente com as operadoras para que assegurem uma oferta correspondente ao que estão a receber em termos de comparticipação para os passes com tarifas apoiadas. Nesse sentido, o serviço deverá ter atingido os 38% em Março, 43% em Abril e 50% em Maio. “O que eles estão a receber é cerca de 50 por cento. Do que conhecemos das operadoras que estão a servir a zona de Vila Franca de Xira, a oferta é de mais de 50%”, afiançou.