Caso Latam vem na esteira da falta de suporte dos governos ao setor na AL
by Estadão ConteúdoA recuperação judicial (chapter 11) da Latam, protocolada nos Estados Unidos, vem na esteira de dados divulgados pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) que apontam para a ausência de suporte dos governos na América Latina às aéreas durante a pandemia do coronavírus.
Em toda a América Latina, as aéreas conseguiram ajuda financeira de governos de US$ 300 milhões, o que representa um total de 0,8% da receita registrada pelas companhias em 2019. De forma global, as aéreas conseguiram um total de US$ 123 bilhões em auxílio de governos, o que equivale a 14% da receita registrada em 2019. Os números foram divulgados pela Iata nesta terça-feira.
Por causa das restrições de mobilidade, aéreas foram obrigadas a cortar em mais de 90% sua oferta de voos, que começaram a voltar agora, mas em ritmo lento e com custos elevados por causa das medidas de segurança sanitária. Nos aeroportos, a demanda hoje está entre 5% e 7% do que era antes da pandemia, a depender da região do Brasil. Com isso, as companhias do setor, que já operam com margens pequenas, mergulharam em uma crise com a forte queima de caixa.
Conforme antecipou o Estadão/Broadcast, o grupo Latam e suas afiliadas no Chile, no Peru, na Colômbia, no Equador e nos Estados Unidos entraram com pedido de recuperação judicial (Chapter 11) nos Estados Unidos nesta terça-feira. A empresa seguiu os passos da colombiana Avianca, que há duas semanas fez pedido de similar.
O governo brasileiro prometeu ajuda às aéreas para atravessar esse período de dificuldade. A negociação, entretanto, não tem sido tão simples. O próprio presidente da Azul, John Rodgerson, afirmou em teleconferências que o governo brasileiro busca uma solução de mercado para as aéreas em um momento que o mercado não existe. A crítica segue na esteira de desembolsos elevados em países como os Estados Unidos e Alemanha para socorrer suas companhias do segmento.
Os números da Iata apontaram que do total de US$ 123 bilhões em financiamento às aéreas por parte dos governos, US$ 66 bilhões ficaram apenas na América do Norte. O montante equivale a 25% das receitas das empresas da região no ano passado. Já na Europa, a ajuda foi de US$ 30 bilhões, equivalente a 15% das receitas em igual comparação.
“Mais da metade do alívio concedido pelos governos cria novos passivos. Menos de 10% serão adicionados ao patrimônio da companhia aérea. Isso muda completamente o quadro financeiro da indústria”, disse Alexandre de Juniac, diretor geral e CEO da Iata, em nota. Ele acrescentou ainda que pagar a dívida dos governos e credores privados significa que a crise “vai durar muito mais do que o tempo necessário para a demanda de passageiros se recuperar”.
Em relatório publicado na manhã desta terça-feira, o banco Citi destacou que a ausência do braço brasileiro da aérea Latam no processo de recuperação judicial sugere que a empresa ainda está negociando com o governo brasileiro uma ajuda financeira. Os analistas do banco destacaram ainda que a recuperação judicial da Latam, apesar de não ser uma surpresa, dada a necessidade de recursos da empresa, chegou mais rápido do que eles imaginavam.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o presidente da Latam, Jerome Cadier, destacou que o governo brasileiro “entrou em uma cilada” ao divulgar que a ajuda seria de R$ 10 bilhões ao setor, mas conceder apenas R$ 4 bilhões. A medida deu a sensação de ser um número pequeno. Mesmo assim, ele reconheceu que a capacidade do governo brasileiro não é equivalente aos Estados Unidos ou Alemanha.