Motoristas por aplicativos relatam aumento da violência no RN

Ícaro Carvalho
Repórter

Saindo de casa diariamente em uma das maiores crises sanitárias dos últimos anos, os motoristas de aplicativos na cidade de Natal e da Região Metropolitana convivem com outro risco na pandemia: a insegurança. São vários os relatos de violência, assaltos e até sequestros durante a quarentena por conta da Covid-19. O transporte de passageiros foi classifico como uma das atividades essenciais. Para não entrar nas estatísticas da violência, os trabalhadores relataram à TRIBUNA DO NORTE que têm adotado cuidados extras e rotas específicas para evitar situações perigosas.

Créditos: Alex RégisDouglas Pinheiro foi vítima de assalto na zona Norte de Natal e entregou tudo o que tinha enquanto era ameaçado com uma arma

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Um desses trabalhadores que utiliza os aplicativos de transportes para compor a renda é o parnamirinense Douglas Pinheiro, 20 anos, que presta serviços para três empresas. Logo no começo da pandemia, em meados de março, ele foi assaltado por um trio de homens na zona Norte de Natal, nas proximidades do Partage Norte Shopping. A conversa dos homens era de que iam encontrar mulheres no local, mas ao chegar perto do shopping, anunciaram o assalto. Os bandidos ameaçaram Douglas Pinheiro e colocaram uma arma na cabeça dele. Os bandidos levaram o carro, celular e dinheiro da vítima. 

“Não andaram muito porque o carro tinha bloqueador. Consegui recuperar o carro na mesma hora. O mais incrível é que, na mesma semana, em Parnamirim, três caras apareceram na frente. Já tinha sido assaltado, estava com medo. Estava atento e quando vi os três caras, acelerei. Eles ainda deram três tiros no carro”, recordou. Por pouco, Douglas não foi atingido pelos disparos. Ele afirmou que roda 13 horas por dia e conta que, em média, tem 15 viagens por jornada de trabalho.

Situação parecida viveu o motorista Jerônimo Santos, 41 anos, morador de São Gonçalo do Amarante e que roda todos os dias na capital potiguar. No final do mês passado, ele foi assaltado por um homem e uma mulher que embarcaram na Cidade da Esperança, zona Leste, em direção ao bairro do Alecrim. Ele contou que o casal chegou a discutir sobre sua morte, que foi descartada pelo fato de Jerônimo ser “pai de família”. 

“Eu preciso rodar todos os dias, preciso trazer sustento pra dentro de casa. Mas a segurança está zero. Estou receoso para pegar qualquer tipo de passageiro. Mexeu até com meu psicológico. Estou ganhando até menos porque estou dispensando muito mais corridas”, relatou o motorista, que atua para duas empresas.

De acordo com o presidente da Cooperativa de Profissionais de Aplicativo Potiguar (Coopap-RN), Anísio Barbosa, os relatos de assaltos contra os motoristas são constantes. “Está difícil, está muito inviável você contar com a polícia que está se dedicando ao coronavírus, a fechar bar, etc. A meta hoje do delinquente é pegar o carro para fazer assaltos. A gente pede aos colegas que tomem cuidado, tem poucas corridas, a gente sabe, mas quem está correndo é porque a situação está pegando”, declarou Barbosa. 

Quem também atesta o aumento nos casos é o presidente da Associação dos Motoristas Autônomos por Aplicativos do RN (Amapp-RN), Evandro Henrique Roque Pereira. Segundo ele, os motivos podem estar associados à falta de policiamento nas ruas e o fato de menos carros estarem rodando, de forma geral. “Isso faz com que os motoristas sejam mais facilmente vítimas dos bandidos. Nós sempre procuramos separar de duas formas: o assalto que ocorre quando o bandido se passa por passageiro e o que acontece pela violência urbana. Fazia muito tempo que eu não ouvia tantos relatos de motoristas que foram assaltados por passageiros, que eram bandidos”, disse.

“Não tem quem faça eu levar passageiro em porta de estabelecimento 24h, na rua. Só pego se estiver dentro de casa. Meu aplicativo já tem mensagem automática e tudo. Prefiro cancelar do que perder o carro ou a vida”, frisou Douglas Pinheiro, alegando uma das medidas tomada por ele. Outros motoristas ouvidos pela reportagem alegaram que se comunicam com outros colegas durante as viagens, utilizam os botões do pânico disponíveis nos aplicativos e que evitam pegar passageiros que não correspondam ao perfil disponível no software.

Em nota enviada à reportagem, a Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social do RN (Sesed-RN), disse que “apesar do período de pandemia causada pelo Covid-19, segue com o trabalho ostensivo e investigativo para inibir os crimes praticados no Estado, incluindo as ocorrências com motoristas de aplicativos”. Em abril, segundo a pasta, foram recuperados 323 veículos com registros de roubos.

Empresas montam estratégias de segurança
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou as duas principais empresas de carona compartilhada que operam em Natal e Região Metropolitana. Em nota, a Uber e a 99 Pop disseram que possuem mecanismos de segurança para atuação antes, durante e depois das corridas, como mostrar aos motoristas informações sobre o destino final, a nota do passageiro e a frequência com que o usuário utiliza o aplicativo. Há possibilidade de compartilhamento de rota e um botão que liga automaticamente para a polícia.

“Durante o trajeto, ferramentas como compartilhamento de rotas estão disponíveis. Depois das viagens, uma central telefônica 24h para emergências oferece apoio imediato em caso de necessidade”, disse a 99 Pop em nota. A empresa informou ainda que “o que o aplicativo faz é um mapeamento de áreas de risco e envia aos motoristas notificações quando a corrida começa ou termina nelas. O levantamento é feito utilizando estatísticas internas e dados externos das Secretarias de Segurança Pública. Essas áreas são dinâmicas e o motorista pode escolher cancelar as corridas caso o alerta apareça”. A 99 Pop disse ainda ter um seguro contra acidentes pessoais, que compreendem usuários e motoristas desde o aceite até a finalização das corridas.

A Uber disse que possui um mecanismo que possibilita o bloqueio de “viagens consideradas potencialmente mais arriscadas, a menos que o usuário forneça detalhes adicionais de identificação”. Os colaboradores também podem cancelar corridas por motivos de segurança, caso não se sintam confortáveis. A empresa citou ainda que, além das avaliações de usuários e motoristas após as viagens, uma equipe da Uber monitora essas informações e pode banir da plataforma usuários ou motoristas com média baixa ou conduta inapropriada.

Além disso, a Uber informou que, em caso de paradas longas e não previstas nas rotas, o aplicativo pode iniciar uma checagem e enviar mensagem ao motorista parceiro e ao usuário perguntando se é necessário algum suporte, podendo direcionar os dois às ferramentas de segurança. Também há possibilidade de compartilhamento de rota e o botão “Recursos de Segurança”, que reúne funções de resguardo na plataforma.