Operação contra desvios na Saúde atinge Witzel

CAIO SARTORI, CAMILA TURTELLI e FAUSTO MACEDO 
Agência Estado 

RIO DE JANEIRO (AE) — Após autorização do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a Polícia Federal (PF) apreendeu ontem três celulares e três computadores do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), como parte de uma investigação sobre supostos desvios de dinheiro da Saúde. Segundo a acusação, Witzel deu "anuência" para que o governo assinasse um contrato para o gerenciamento de sete hospitais de campanha para o combate à pandemia do novo coronavírus que teria fraudes, como superfaturamento de orçamentos por parte de uma organização social (OS).

Créditos: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDOWilson Witzel negou as acusações de ter autorizado contratos com suspeitas de fraudes

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Witzel negou que tenha cometido irregularidades e afirmou que o ministro do STJ Benedito Gonçalves, que autorizou a operação Placebo, foi induzido a erro pelos investigadores. O governador classificou a investigação como um ato de perseguição política do presidente Jair Bolsonaro, seu adversário, e avaliou que o mesmo pode acontecer com outros governadores que têm feito oposição ao mandatário. "O que aconteceu comigo vai acontecer com outros governadores considerados inimigos. Narrativas fantasiosas, investigações precipitadas", disse.

Ao ser questionado sobre o cumprimento de mandados de busca e apreensão contra Witzel, ontem pela manhã, Bolsonaro sorriu e deu "parabéns" à PF. À noite, afirmou que não teve nada a ver com a operação, que não tem ingerência sobre o STJ e provocou Witzel. "Tem gente preocupada, querendo botar a culpa em mim, falando do meu filho", afirmou o presidente. A operação foi comemorada no Palácio do Planalto e vista como um "troco" no adversário.

Witzel e Bolsonaro não foram os únicos que politizaram a operação policial de ontem. O líder do PSB na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (RJ), disse que vai pedir investigação ao Ministério Público Federal (MPF) sobre o suposto vazamento da operação Placebo, à deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). Na noite de segunda-feira, a parlamentar havia dito, em entrevista à Rádio Gaúcha, que a PF estava prestes a deflagrar operações para investigar irregularidades cometidas por governadores durante a pandemia da covid-19.

Ontem, em entrevista ao Estadão, Carla negou que tenha recebido informações da investigação. "Dia 21 de maio saiu um avião da PF daqui (de Brasília) para o Rio de Janeiro. Houve uma operação anterior a essa. Então, era meio óbvio que fossem acontecer outras operações", disse a deputada.

Secretários
O inquérito que cita Witzel no STJ foi aberto há duas semanas, a partir de informações já investigadas pelo Ministério Público Estadual do Rio - como governador tem foro, a ação foi levada a Brasília. A investigação mira a escolha da OS Iabas para gerir os sete hospitais de campanha anunciados pelo governo fluminense durante a pandemia. A Iabas já recebeu R$ 256 milhões - o contrato prevê o pagamento total de R$ 836 milhões.

De acordo com os procuradores, o acordo foi assinado mesmo contendo fraudes, como orçamentos superfaturados para serviços de montagem e desmontagem de tendas, instalação de caixas d’água, geradores de energia e pisos para as unidades. Para a procuradoria-geral da República (PGR), há fortes indícios de que uma "estrutura hierárquica" foi criada no Executivo, "escalonada a partir do governador Witzel", para fazer contratações fraudulentas.

Entre as provas citadas pelo ministro Benedito está diálogo interceptado na operação que levou à prisão, no último dia 14, o empresário Mário Peixoto e o ex-deputado Paulo Mello. Ao comentar a revogação da desqualificação de outra OS com contrato no Rio, um aliado de Peixoto, o empresário Luiz Roberto Martins, faz referência a uma pessoa que seria Witzel. "O zero 1 do palácio assinou aquela revogação da desclassificação da Unir". O ministro Benedito fala em um "vínculo bastante estreito e suspeito" entre a primeira-dama do Rio, Helena Witzel, e a empresa DPAD Serviços Diagnósticos Limitada, de Alessandro de Araújo Duarte, apontado como suposto operador de Mário Peixoto.

Além da prisão de Peixoto e Mello, outras duas investigações que envolvem a Saúde do Rio atingiram o Palácio Guanabara. Dois ex-subsecretários da Secretaria Estadual de Saúde, Gabriell Neves e Gustavo Borges, foram presos por indícios de superfaturamento na compra de respiradores.