Diário da Quarentena - LX

Vicente Serejo
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Créditos: Divulgação

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A vida inteira, e até hoje, ouço a intolerância dos que acusam Luiz Maria Alves de negar o passado, ao romper com o Partido Comunista Brasileiro e não mais aceitar a esquerda como posição ideológica. Por decepção pessoal; influenciado pelos ingleses, da Western Telegraph, na qual de um simples telegrafista chegou a gerente geral; e o anticomunismo de Chateaubriand - Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, de quem tornou-se um grande admirador.   

Claro, Alves não escapou da vocação incendiaria própria da juventude e que depois veste o homem feito com a farda vermelha, mas de bombeiro. Mesmo assim, nunca deixou de abrigar na velha redação do ‘Dário de Natal’ todos os matizes - ex-presos políticos, velhos comunistas e os jovens subversivos - ditos assim naqueles anos de chumbo. Uma vez, o general comandante da guarnição perguntou a razão. Ele respondeu como Roberto Marinho: “Eles sabem escrever”. 

Alves era um ex-comunista convicto. Bem lido e assentado na sua convicção, mas era um jornalista vaidoso da profissão e de sua então forte liderança de mercado. E liderou em tempos de posições exacerbados. Era um positivista, portanto, admirador da ciência e dos líderes, sem negar sua convicção de que o líder é aquele que se elege com o voto popular, mas governa com as elites para não fracassar. No confronto dos lados, um contra e outro, mas liderando um deles. 

Como todas as pessoas de personalidade forte, mais ainda em um tempo de homens que exerciam o mando absoluto, sabia preparar o ouvido do interlocutor, se sentia que chegara a hora de ser duro e verdadeiro. Alegava o que dizia ser ‘a brutalidade da sua franqueza’.  A partir dali, deixava escorrer uma argumentação contundente, numa técnica muito sua: bem antes da alegação final antecipava as críticas que poderiam vir para esvaziar, logo, qualquer resposta  adversária. 

É verdade, não cuidava quase nunca de reconhecer as razões dos outros, ou as desrazões que ameaçassem suas convicções, mas não deixava nada sem resposta. Acreditava na crise aguda como a única força capaz de produzir a convergência, até pela exaustão das partes em litígio, mas só com saídas honrosas para os dois lados. Era vaidoso do que nomeava como ‘a minha redação’ e por isso nunca deixou de apoiar os editores, mesmo que depois fizesse observações críticas.

Uma vez - não revelo nomes - recebeu um deputado estadual que desejava, por iniciativa sua, contribuir para amainar as relações do jornal com um poderoso governador biônico. Sabia do pouco peso político do parlamentar, mas ouviu. No fim, atirou: “O diretor deste jornal não precisa de interlocutor para falar com o governador, nem ele com este diretor”. E arrematou, irônico, descartando a ajuda: “Se não for incômodo, me deixe ter um pouco de amor próprio”.

NOME - Até sexta, antes do sol posto, a vida aldeã nesta província eclesiástica de Nossa Senhora da Apresentação deverá conhecer o nome do deputado que irá relatar a CPI da Arena das Dunas. 

TOQUE - Para uns, o presidente, seja quem for, não será tão determinante como pensa a nossa vã filosofia. Para outros, as manhas e artimanhas vão depender de quem for escolhido seu relator. 

AVISO - De um servidor da Assembleia fechada há dois meses: “Nem o Coronavírus conseguiu evitar que certos fantasmas vaguem nos corredores desertos e escuros desafiando as boas almas.”.  

BRADOS - Circulam nas redes três, igualmente retumbantes e conhecidos: “Independência ou More”; “Deixo a vida e entro para a História”; e “Querem estourar nossa hemorroida”. Bravo!!!

LUTA – Abimael Silva, feito fera ferida, não se rende e prepara duas reedições: “Teatro de João Redondo”, de José Bezerra Gomes; e a “Memória Viva” do médico Vulpiano Cavalcanti. Valeu!  

ELOGIO - A governadora Fatima Bezerra, sejamos justos, autorizou pagar a insalubridade aos profissionais da saúde retroativo a abril e enquanto durar a pandemia.  Um gesto justo e perfeito. 

SOLAR - O Patrimônio Histórico embargou a colocação das placas de energia solar no telhado do Instituto Histórico. A solução foi instalar na Casa Paroquial e fazer a parceria. Uma boa saída.

MANHA - De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, ouvindo uma companheira a explicar a submissão quando está apaixonada: “Quem cria gatos acaba tão manhoso quanto eles”. 

OLHO - Ninguém pense que o Partido Social Cristão (PSC), aqui no RN, segue à risca a direção do chefe nacional, o govenador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, crítico duro do Governo Jair Bolsonaro, hoje debaixo do olho do MP. Herói de matéria plástica, apesar do seu protagonismo. 

JOGO - Aqui, por exemplo, o coronel André Azevedo prefere agir como deputado, apesar de manter polidas suas dragonas nos ombros e as condecorações no peito. Deixou de lado a velha e tradicional disciplina castrense e desobedece ao superior em nome da tão criticada democracia. 

ALIÁS - Quando deixou o PSL, o então partido do presidente Jair Bolsonaro, sem comunicar suas razões, ficou claro que não era contra o capitão-presidente, mas pelo fascínio de presidir uma sigla e gerir o um fundo partidário. Foi ao Rio, assumiu o PSC de Witzel, e voltou atendido.