Adaptação literária
Tádzio França
Repórter
Ler é um ato essencial. Abrir um livro é uma das melhores formas de viajar sem sair do lugar e conservar a saúde mental e física. A pandemia do Covid-19 trouxe ao mercado livreiro o desafio de se manter economicamente e ao mesmo tempo atender a uma nova demanda de leitores remotos. A Cooperativa Cultural da UFRN, tradicional livraria do campus universitário, lançou mão de uma campanha on-line para se manter em funcionamento, e agora está apostando nos serviços delivery, assim como outros estabelecimentos que trabalham com livros. As prateleiras estão na rede.
Créditos: ALEX REGISTradicional Cooperativa Cultural, na UFRN contou com a solidariedade dos leitores para seguir funcionando e se adaptou ao delivery
A campanha #apoieacooperativacultural esteve no ar de 17 de abril a 11 de maio, e propôs ao leitor a compra de um voucher de R$100 para trocar em livros no local. A adesão foi além das expectativas da livraria, arrecadando cerca de R$77 mil reais em vouchers. “Foi incrível o retorno das pessoas, não só de sócios, mas de leitores, amigos e freqüentadores. Professores, alunos e funcionários deram apoio total e eu diria que trataram a livraria como um patrimônio cultural comum, um bem de todos – como deve ser o princípio de toda cooperativa”, afirma Alex Galeno, presidente da organização livreira.
Passada a campanha, os desafios continuam. As portas para o atendimento presencial continuam fechadas, e a Cooperativa está investindo cada vez mais no serviço delivery através de atendimento por telefone e Whatsapp. O serviço está disponível às segundas e quartas, das 9 às 15h, e entregas às terças e quintas a partir do meio-dia. Também há a opção de retirada no local com agendamento prévio e todos os cuidados de higiene, claro. O cliente pode conferir o acervo no site da loja, que também posta um catálogo com as promoções da semana.
Segundo a Câmara Brasileira do Livro, houve uma queda de 46% no mercado nacional do livro. Alex ressalta que o segmento já vinha numa onda de crise desde 2019, apenas piorada pela ocasião da pandemia. “É óbvio que a pandemia nos deixou em perspectivas muito críticas, pessimistas. Hoje em dia, mesmo com o delivery, nós arrecadamos 1/3 do que vendíamos antes”, diz. O reduzido hábito de leitura do brasileiro é um problema vigente desde muito antes do isolamento.
O presidente da Cooperativa não achar correto afirmar que a pandemia aqueceu o mercado livreiro no país. “O fato de as pessoas estarem lendo mais em casa não significa que elas estão comprando mais livros. Elas não se tornam leitoras consumidoras do dia pra noite”, diz. Segundo ele, o que aconteceu foi outro fenômeno: o aumento do interesse pelo livro eletrônico. “Com as livrarias fechadas, baixar um livro pra ler no computador ou num e-reader qualquer foi algo que se tornou mais comum. Nesse sentido, quem tem ganhado bastante no mercado mundial é a Amazon, que aumentou seu patrimônio em 30 bilhões de dólares, segundo informações recentes”, diz. A média de leitura do brasileiro é de dois a quatro livros por ano, o que é pouco até a nível de América do Sul.
Os livros mais pedidos nos dias pandêmicos também refletem o momento, segundo Alex Galeno. Entre os mais vendidos estão os livros de Albert Camus, principalmente “A Peste”, já esgotado no estoque da loja; “Essa Gente”, de Chico Buarque; os livros do historiador Yuval Noah Harari, principalmente o “21 lições para o século 21”; “O oráculo da noite”, de Sidarta Ribeiro, um best-seller do professor da UFRN; e o que surpreendeu Alex, muitos livros do filósofo Karl Marx. O presidente também ressalta a procura pelos infanto-juvenis. A Cooperativa Cultural tem um acervo de aproximadamente 60 mil livros, entre literatura universal e brasileira, livros técnicos e acadêmicos, e infanto-juvenil.
Para Alex Galeno, o desafio que a Cooperativa está enfrentando e vai enfrentar pela frente é o mesmo de todo mercado livreiro. “Tudo o que a gente pode fazer no momento é dinamizar o comércio on-line. E será assim também depois que a pandemia passar. A loja virtual nunca foi uma tradição nossa, portanto, é um desafio mesmo”, diz. Ele acredita que por um bom tempo o comércio presencial se manterá fraco. “Acho que as pessoas irão cada vez menos às livrarias, shoppings e espaços públicos, até que uma vacina apareça”, diz. Uma alternativa, ressalta, seria levar à frente projetos e leis de incentivos públicos a pequenas e médias editoras e livrarias. Uma cooperação para manter o patrimônio comum da leitura.
Páginas em delivery
Desde o início da quarentena, as casas de livros têm procurado manter a clientela com a leitura em dia apesar das portas fechadas. A livraria Távola dos Livros, de Nova Parnamirim, já havia aderido aos pedidos via Whatsapp. Segundo o proprietário Francisco Dantas, a livraria sentiu a necessidade de incentivar o isolamento social, continuando o comércio de livros para quem não vai sair de casa. Foi pensada também dicas para cada pessoa. Entre os mais vendidos da quarentena estão “A revolução dos bichos” e “1984”, de George Orwell; “O apanhador no campo de centeio”, de Salinger; os livros de Yuval Harari e também Harry Potter.
Sebo com um dos acervos mais organizados da capital, o Seburubu, na Cidade Alta, também está oferecendo seu material no Whatsapp com muitas dicas entre o Facebook e o Instagram. A loja também está exibindo parte de sua coleção no site Estante Virtual, o mais procurado para venda de livros on-line. O proprietário Eduardo Vinícius tem atendido aos pedidos de segunda sábado. Tudo é acertado via internet com o cliente, que pode solicitar a entrega em casa ou pegar no sebo – que também é a casa do proprietário. “Morar no local de trabalho tem essa vantagem, já que a pessoa pode acertar o dia e hora para pegar o livro de minhas mãos”, diz ele, que mesmo assim lamenta a falta do convívio pessoal e da troca que só um sebo de livros oferece.
Serviço:
Cooperativa Cultural da UFRN. Whatsapp: 99864-1991
Távola dos Livros: Whatsapp: 99101—0190.
Seburubu. Whatsapp: 99864-9269.