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Foto: TV Vitória

Dificuldade de acesso à internet prejudica ensino de estudantes de Serra e Cariacica na pandemia

Há mais de dois meses sem aulas presenciais, por causa do coronavírus, alunos das redes municipais afirmam que sequer conseguem estudar em casa

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Mais de dois meses após a suspensão das aulas nas escolas públicas da Grande Vitória, devido à pandemia do novo coronavírus, estudantes ainda enfrentam dificuldades para manter o ritmo e o rendimento dos estudos. Além das dificuldades relatadas pelos alunos das redes municipais de Vitória e Vila Velha, que reclamam da falta de conteúdo adequado disponibilizado pelas secretarias de educação dos dois municípios, estudantes de Serra e Cariacica afirmam conviver com outro problema: a falta de ferramentas para o aprendizado nas residências.

Na casa da estudante Manoá dos Prazeres Eler, por exemplo, não tem internet nem computador. Para ter acesso à rede, a menina de 10 anos precisa caminhar com a mãe, por cerca de 20 minutos, até a sede da Associação de Moradores do bairro Feu Rosa, na Serra, onde vivem.

No entanto, a menina tem bronquite, um problema respiratório que pode se tornar um agravante em caso de infecção pelo coronavírus. Por isso, ela não tem saído de casa desde o início da pandemia. Após o fechamento de sua escola, a Emef Abel Bezerra, que fica na comunidade, Manoá não estudou mais e hoje em dia passa a maior parte do tempo brincando com os irmãos.

"Está chato, porque eu estou com saudade dos amigos, brincar na escola, fazer o dever. No ano que vem, eu já deveria estar no sexto ano e eu vou ter que repetir o quinto ano de novo", lamentou a menina.

O celular da mãe dela, a artesã Késia Alice dos Prazeres, é antigo e está com a tela trincada. Além disso, a internet do aparelho não funciona bem e só pega no quintal. Késia afirma que tentou, mas não conseguiu acessar as atividades disponibilizadas na página da Secretaria de Educação do município.

"Tem que entrar no site da Secretaria Municipal de Educação, clicar na página do covid. Aí de lá vai para outra página e aí todas as atividades são postadas de uma forma conjunta e é muito difícil, porque, pelo celular, com internet móvel, a gente não consegue fazer isso. Tem áreas que não pegam, tem dia que não está pegando", disse.

"As soluções que vêm aparecendo, desde o uso de tecnologias mais complexas até a entrega do material físico, para os alunos realizarem em casa, são positivas. Mas tem uma série de lacunas, porque o processo ensino-aprendizagem pressupõe que o professor acompanhe a sequência do conteúdo e de apropriação dos alunos. Essa gestão é feita em sala de aula. Fora desse espaço, esse tipo de aprendizagem é sempre fragmentado", opinou o especialista em educação Marcelo Lima.

A Secretaria Municipal de Educação da Serra informou que o calendário escolar será alterado após o retorno das atividades escolares. Disse ainda que vai cumprir a carga horária completa de 800 horas semanais e que não haverá prejuízo para os 46 mil alunos do ensino fundamental.

"São duas realidades totalmente diferentes. Na escola particular, queremos acreditar que todos têm acesso às plataformas digitais para poder assistir às aulas. Na escola pública, pela pesquisa do PNAD, 40% das crianças não têm internet em casa e os pais estão trabalhando ou não têm formação adequada para orientar e auxiliar suas filhos durante as atividades. Por isso que nós temos dificuldades com essa modalidade", destacou o diretor de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), Paulo Loureiro.

Cariacica

Em Cariacica, cerca de 35 mil estudantes da rede municipal que cursam o ensino fundamental tentam se manter empenhados diante das dificuldades. Um deles é a menina Rebeca Fernandes Rodrigues dos Santos, de 8 anos, aluna do terceiro ano de uma escola municipal do bairro Santa Cecília.

Na casa dela, a professora tem sido a mãe. Quando não está trabalhando, a auxiliar de serviços gerais Carla Fernandes ajuda a filha a fazer os exercícios do livro didático e passa outras atividades também, de forma improvisada.

"A gente passa algumas atividadezinhas para ela de matemática. Peço para ela fazer umas leituras e dali ela faz um resumo, faz umas respostas, ditado. Aí a gente vai levando devagarzinho para ver se ela não fica totalmente parada", afirmou Carla.

Em dias de chuva, o sinal da internet do celular da mãe da menina cai bastante e fica difícil acessar as atividades disponibilizadas em um portal da Secretaria de Educação de Cariacica.

Durante a gravação da reportagem da TV Vitória/Record TV, depois de muito tentar, a auxiliar conseguiu abrir um vídeo, que ensina as crianças sobre formas geométricas. "Esse vídeo é muito bom para quem não sabe as formas. Mas eu já aprendi quase todas as formas no segundo ano", contou Rebeca.

"Uma série de atividades pedagógicas são desenvolvidas, periodicamente, para que os alunos possam ter acesso por meio da plataforma, por meio do site da prefeitura. Aqueles que não têm acesso estão buscando fisicamente esse material nas escolas. Nossa intenção é que o movimento pela aprendizagem continue nesse período de pandemia e que o retorno demonstre que o dano à aprendizagem foi o menor possível", ressaltou o secretário de Educação de Cariacica, José Roberto Martins Aguiar.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV