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Mutações não estão a tornar o vírus da Covid-19 mais perigoso

Entre as mais de seis mil mutações observadas desde o início da pandemia, não foi encontrada nenhuma que tornasse o novo coronavírus mais letal ou contagioso.

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As mutações já identificadas do novo coronavírus não mostram um maior perigo de infeção do que aquele que já é observado. A partir da análise de 15 mil pacientes de Covid-19 de 75 países, investigadores do University College de Londres verificaram que nenhuma das mais de seis mil mutações observadas tornou o vírus mais perigoso ou contagioso que aquele observado em Wuhan, a cidade onde teve origem a pandemia.

As descobertas, divulgadas num estudo pré-publicado na bioRxiv - portal que serve para a introdução de estudos ainda antes destes serem revistos por outros investigadores -, foram feitas a partir de estudo divulgado no início deste mês na revista científica Infection, Genetics and Evolution e que indicava que a pandemia podia ter começado entre o mês de outubro e o início de dezembro, com base em cerca de 7.500 sequências de genoma do novo coronavírus.

"À medida que a divulgação do número de mutações do novo coronavírus vai aumentando, cientistas tentam descobrir se alguma delas pode tornar o vírus mais mortal ou mais contagioso. Criámos uma nova técnica para determinar se a Covid-19 se está a transmitir a um maior ritmo e descobrimos que nenhum dos candidatos a mutação está a beneficiar o vírus", explica François Balloux, um dos investigadores principais do estudo que também juntou investigadores da Cirad (Centro de Desenvolvimento Internacional para Investigação Agricultora de França), a Universidade de Reunião e a Universidade de Oxford.

Tal como outros vírus de ARN, os coronavírus podem desenvolver mutações de três maneiras diferentes: por erro durante a replicação viral, através de interações com outros vírus durante a infeção numa mesma célula (através de recombinação), ou podem ser parte de uma estratégia de defesa criada pelo sistema imunitário.

As mutações acontecem porque o vírus da Covid-19, por si mesmo, não se consegue reproduzir e utiliza o ser humano como hóspede. "Rapta" as suas células e obriga-as a fazerem cópias do vírus. Quando ficarem cheias, rebentam e o vírus passa à célula mais próxima. Durante duas semanas, o genoma do coronavírus - onde está guardado o seu material genético – é replicado centenas de milhares ou até milhões de vezes. Depois sai do organismo através de gotículas e vai fazer o mesmo processo a outra pessoa.

A maioria das mutações são neutras, outras podem ser benéficas ou prejudiciais para o vírus. O mais comum na virologia é que as alterações genéticas benéficas ou neutras se tornem cada vez mais comuns, à medida que o vírus é replicado.

Para o estudo, foram identificadas 6.822 mutações a partir da base de dados Gisaid. Entre estas, 273 mostraram ocorrer de maneira repetida e independente – 31 mutações mostraram ser as preferidas do vírius, acontecendo pelo menos 10 vezes desde o início da pandemia.

Entre as mutações mais comuns, não foi encontrada numa prova de que estas aumentem a transmissibilidade da Covid-19. Em vez disso, as mutações foram neutras e até prejudiciais para o vírus.