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BE acredita na palavra de António Costa sobre Novo Banco

Coordenadora do Bloco de Esquerda considera, porém, que existe uma "enorme opacidade" na operação de injeção de 850 milhões de euros na referida entidade bancária.

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A coordenadora do Bloco de Esquerda disse, esta segunda-feira, não ter "razão nenhuma" para duvidar da palavra do primeiro-ministro em relação à injeção de 850 milhões de euros no Novo Banco, mas considerou existir uma "enorme opacidade" na operação.

"Não tenho razão nenhuma para duvidar da palavra do primeiro-ministro quando me diz que me deu uma resposta não tendo o dado de que a transferência [para o Fundo de Resolução destinado à recapitalização do Novo Banco] tinha sido feita", afirmou Catarina Martins, durante uma entrevista no Jornal das 8, na TVI.

No debate quinzenal de 7 de maio, uma resposta do primeiro-ministro, António Costa (PS), à coordenadora do BE sobre o Novo Banco desencadeou uma polémica que marcou as últimas duas semanas.

"Sobre o Novo Banco a resposta que tenho para lhe dar não tem grande novidade relativamente à última vez que me fez a pergunta, ou seja, a auditoria está em curso e até haver resultados da auditoria não haverá qualquer reforço do empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução para esse fim", respondeu António Costa naquele debate.

No mesmo dia, o Expresso 'online' revelou que a transferência de 850 milhões de euros já tinha sido feita nessa semana, o que levou o chefe do Governo a explicar que não tinha sido informado pelo Ministério das Finanças, liderado por Mário Centeno, e a pedir desculpa ao Bloco de Esquerda pela informação errada transmitida durante o debate quinzenal.

A polémica continuaria na semana seguinte e culminaria numa reunião de várias horas, na quarta-feira à noite, dia 13, em São Bento, entre Mário Centeno e António Costa. No final, o primeiro-ministro reafirmou publicamente a sua confiança pessoal e política no ministro de Estado e das Finanças.

A dirigente partidária explicou hoje que "o problema para o BE não é se o primeiro-ministro sabia ou não que a transferência tinha sido feita", mas, sim, o "dinheiro da transferência e as condições da transferência".

Sobre "isso não há nenhum pedido de desculpas", prosseguiu a líder do BE.

Catarina Martins explicitou que o Orçamento do Estado (OE) "não obrigava à injeção, nem dizia nada sobre o prazo da injeção" no Novo Banco.

Além disso, a coordenadora bloquista sublinhou que nunca foi conhecido o contrato de venda do Novo Banco ao fundo Lone Star.

"Nunca ninguém nos tinha dado o argumento do contrato para dizer que a injeção tinha de ser feita independentemente de haver uma auditoria", esclareceu, acrescentando que "isto é uma absoluta novidade".

Catarina Martins considerou também que "as questões financeiras são muito pouco votadas no parlamento e ficam muito entre o Banco de Portugal, o Ministério das Finanças e uma enorme opacidade".

"O Governo tem o compromisso político de dizer que não há nenhuma injeção nova sem termos o resultado da auditoria. Depois fazem a injeção sem terem o resultado da auditoria e dizem que tinha de ser porque está no contrato", criticou, observando que "a desculpa" do executivo "era que aquilo era sempre um negócio privado entre bancos".

A coordenadora nacional do Bloco de Esquerda questionou como é que "um documento [o contrato] que o parlamento não conhece é mais forte do que o compromisso assumido" de que não haveria uma transferência para o Novo Banco enquanto não fosse conhecido o resultado da auditoria.

O BE requereu, em 22 de maio, que o Fundo de Resolução envie, com urgência, ao parlamento o contrato de venda do Novo Banco ao fundo Lone Star, considerando que este deve ser público "em nome da decência e do rigor".

Questionada ainda, durante a entrevista, sobre se o BE vai avançar com uma candidatura presidencial independente, Catarina Martins respondeu que ainda é cedo para debater a corrida a Belém no próximo ano.

"Acho que as questões das presidenciais não devem ser debatidas tendo em conta conflitos internos no PS, devem ser debatidas tendo em conta o que é que o país precisa [...]. As eleições presidenciais, seguramente, são importantíssimas para definir o perfil do país. Quando nós defendemos o fim das parcerias público-privadas na saúde [...], lembro-me que Marcelo Rebelo de Sousa [chefe de Estado] se opôs pessoalmente a que houvesse uma limitação do negócio privado da saúde à conta do Orçamento do Estado", referiu a líder bloquista.

A dirigente do BE considerou, por isso, que quando se discute o tema das presidenciais de 2021 também de discute a economia de Portugal, o Serviço Nacional de Saúde e "a resposta que o país dá" aos desafios que encontra, prometendo que o partido "estará envolvido no debate da melhor candidatura para o fazer".