Após crítica de Bolsonaro à imprensa, apoiadores hostilizam jornalistas
by Estadão ConteúdoApoiadores do presidente Jair Bolsonaro hostilizaram profissionais da imprensa na manhã desta segunda-feira, 25, em frente ao Palácio da Alvorada, com diversos insultos. As agressões verbais ocorreram pouco após o próprio presidente criticar jornalistas. “O dia que vocês tiverem compromisso com a verdade eu falo com vocês”, disse, indicando que não daria entrevista.
Os xingamentos contra profissionais da imprensa pela claque bolsonarista se tornaram rotina no Palácio da Alvorada, mas nesta segunda-feira foi um tom acima, principalmente pela presença de um número maior de apoiadores.
“Mídia lixo”, “comunistas”, “safados” foram alguns dos insultos ditos nesta segunda, logo após Bolsonaro deixar o local. “Mídia golpista, comprada, cambada de safados. Não sei como vocês colocam a cabeça no travesseiro. Seus lixos”, disse um apoiador, chegando bem próximo ao local reservado aos profissionais da imprensa. O espaço é cercado por grades.
Diariamente, grupos de apoiadores aguardam para falar com o presidente pela manhã, quando Bolsonaro deixa a residência oficial, e no fim da tarde, quando ele retorna. Nesta segunda-feira, o movimento foi maior, já que muitos viajaram a Brasília para participar de ato pró-governo realizado no domingo, 24, na Esplanada dos Ministérios. Por causa da lotação, alguns apoiadores ficaram em uma área do lado oposto, em frente ao espelho d’água do Palácio.
Ao descer do carro nesta manhã, o presidente retirou a máscara para falar com os apoiadores que estavam próximo ao espelho d’água. Ao se dirigir para cumprimentar as pessoas que o esperavam, do outro lado, colocou o equipamento de segurança – que é obrigatório no Distrito Federal. O presidente falou com apoiadores por cerca de quinze minutos.
A segurança no Palácio da Alvorada é responsabilidade do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), mas nessa manhã os seguranças levaram alguns minutos para retirarem o grupo do local. Com o aumento das agressões verbais, duas grades foram instaladas na tentativa separar jornalistas e apoiadores. O reforço, no entanto, foi retirado e apenas uma grande e uma fita de contenção são usadas para segurança. Procurado nesta segunda-feira, o GSI não se manifestou.
Além de xingamentos, apoiadores já chegaram a revirar o lixo em frente à sala em que ficam jornalistas na tentativa de expor repórteres, cinegrafistas e fotógrafos. A equipe de segurança abordou os homens e pediram para que apagassem o vídeo. As imagens, no entanto, foram compartilhadas nas redes sociais.
Mais tarde, ainda nesta segunda-feira, jornalistas voltaram a ser hostilizados por apoiadores do presidente em frente ao Ministério da Defesa, na Esplanada dos Ministérios. Bolsonaro participou de almoço com o chefe da pasta, Fernando Azevedo e Silva, e com os comandantes das Forças Armadas. A Polícia Militar do Distrito Federal precisou intervir para afastar o grupo.
Incentivo
Bolsonaro já incentivou apoiadores a intimidar os profissionais de imprensa no local em outras ocasiões. Em março, jornalistas que fazem a cobertura diária no Alvorada se retiraram de entrevista concedida pelo presidente após ele mandar repórteres ficarem quietos e estimular apoiadores a hostilizar os profissionais que estavam no local.
“É ele que vai falar, não é vocês não”, disse, mandando os repórteres ficarem quietos. Em outra ocasião, Bolsonaro mandou jornalistas calarem a boca ao ser questionado sobre interferência política na Polícia Federal. O presidente também já chamou jornalistas de “idiotas” pelas redes sociais ao afirmar que era falsa a informação de que faria um churrasco, anunciado por ele mesmo.
Os registros de agressões físicas de apoiadores também aumentaram. No início de maio, profissionais do Estadão foram agredidos com chutes, murros e empurrões por apoiadores de Bolsonaro durante manifestação pró-governo na Esplanada dos Ministérios. Em outro ato, uma apoiadora bateu com o mastro de uma bandeira do Brasil na cabeça de uma jornalista da Band News.