Crescem sintomas neurológicos associados à COVID-19, segundo USP
by Nathan VieiraOs pesquisadores da USP e da Universidade da Região de Joinville (Univille) revisaram artigos publicados recentemente em revistas científicas com a intenção de averiguar prevalência de sintomas neurológicos em pacientes com COVID-19. De acordo com Marcus Vinícius Magno Gonçalves, neurologista da Univille, uma série de casos relatados pelos chineses mostra que a prevalência de complicações no sistema nervoso central (encéfalo e medula espinhal) e o sistema nervoso periférico (gânglios e nervos) é muito superior em relação ao que se acreditava no ano passado.
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Jean Pierre Schatzmann Peron, coordenador do Laboratório de Interações Neuroimunes do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, conta que a ideia por trás dessa análise é a compreensão de como o vírus acessa o sistema nervoso central. Os pesquisadores se baseiam em outros coronavírus humanos, causadores de Síndrome Aguda Respiratória Grave (SARS) e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), que passam de um neurônio a outro até atingir o sistema nervoso central, mas o coordenador enfatiza que ainda se trata de especulação.
Acontece que, além dos principais sintomas (febre, cansaço, tosse seca, febre alta, pneumonia e dificuldade na respiração), muitos relataram sintomas neurológicos, como a perda de olfato e paladar. De acordo com o jornal da USP, um possível mecanismo de acesso ao sistema nervoso central pelo SARS-CoV-2 é via bulbo e nervo olfatório, que constitui o primeiro par de nervos cranianos, responsável por receber informações dos neurônios receptores olfativos.“O que nos intriga é que, de todos os pacientes que tiveram neuropatia olfatória, apenas 40% ficaram curados após 30 dias do início dos sintomas”, afirma Marcus Gonçalves.
Os pesquisadores perceberam a existência de pacientes jovens, com menos de 50 anos, que tiveram AVC isquêmico e hemorrágico associado à fisiopatologia do vírus e tiveram problemas no sistema nervoso central, associados a casos mais graves. Meningites, encefalites e a síndrome de Guillain Barré foram observadas na coorte chinesa. “Por isso é importante chamarmos a atenção da comunidade científica sobre esses sintomas, pois o médico vai precisar intervir de maneira diferente, já que há essa correlação entre coronavírus e quadros neurológicos. Muitos fatores devem influenciar, inclusive a carga viral presente nos pacientes", diz Peron.